Lições da sétima arte para a Gestão de Pessoas. Um banco com tanto para dar e receber
“Bank of Dave”, filme de Chris Foggin, com Joel Fry e Rory Kinnear nos principais papéis, baseia-se na história verídica de Dave Fishwick, um “homem comum” de uma localidade inglesa chamada Burnley, que se dedica à compra e venda de carrinhas.
Por Paulo Miguel Martins, professor da AESE Business School e investigador nas áreas de Cinema, História, Comunicação e Mass Media
O protagonista quer fazer bons negócios, satisfazendo bem os seus clientes, sem tentar vender o quer que seja “a todo o custo”. Pelo contrário, é um negociante que coloca mesmo as pessoas em primeiro lugar, e não os seus interesses comerciais.
Esta é a sua grande lição: ir conhecendo os outros, as necessidades reais de cada um, para tentar solucionar os problemas concretos. Um dia, empresta dinheiro a uma viúva. Ela pretendia pagar o funeral do marido, mas não possuía a quantia necessária. Dave adianta o que falta e, mais tarde, consegue receber o que lhe era devido.
A partir daí, torna-se conhecido como “alguém bom”, de confiança e credível. A sua reputação cresce, pois, antes de avançar com algum empréstimo, analisa cada situação, vê se merece o seu apoio, e só então se dispõe a ajudar esse projecto. Mas todos os casos possuem uma característica comum: pertencem à comunidade de Burnley. O seu foco é a realidade que está à sua volta, as pessoas que estão mesmo “à mão de semear”. Um factor que vai reforçar a sua posição é que todos os que vão sendo apoiados acabam sempre por devolver o empréstimo e por desenvolver alguma actividade, criando emprego e “riqueza” em benefício da localidade.
A dada altura, Dave toma uma nova decisão: criar um pequeno banco local para conceder crédito à sua comunidade. As dificuldades são enormes, pois há 150 anos que não se criava um novo banco, e os habituais “financeiros da banca” não estão interessados em mais concorrentes e menos ainda por parte de alguém rotulado como “pessoa boa vontade”.
Dave procura rodear-se de outras pessoas. Compreende que sozinho nada conseguirá. Fala com paixão a um jovem advogado e consegue atraí-lo para a sua causa. Num desafio essencial para arrancar com esta iniciativa, o advogado defende-o com êxito em tribunal, quando querem destruir o seu carácter e a sua honra. Ultrapassado esse obstáculo, aparece um ainda mais imponente: juntar 12 milhões de libras para constituir um “fundo”. É traçado um plano e uma estratégia. Falam com uns e com outros. Conseguem logo seis milhões com muita “boa vontade”, pois as pessoas locais juntam-se neste sonho em que todos ganhariam. Depois, resolvem falar com uma banda de rock que aceita organizar um evento cujas receitas revertessem para o “Banco do Dave”. Além disso, espalham a notícia pelos media, atraindo a atenção e mais investimentos.
O evento é um sucesso, mas ainda falta dinheiro. Surge então de novo em cena o advogado. Vende o seu apartamento em Londres e garante a quantia total. Decidira seguir um novo rumo, pois encontrara um novo sentido para viver, que passa também por se declarar a um amor que encontrara em Burnley e que lhe dissera “sim”.
O “happy end” dá-se em 2011, ao abrirem- se as portas do Burnley Savings and Loans, ou “Bank of Dave”. No fundo, Dave é inspirador por ter sabido atrair um conjunto de pessoas a quem deu oportunidade que desse o melhor de si. O que pede a cada um corresponde ao que cada um mais sabe e pode dar. Isso une todos à volta dessa “boa” ideia porque responde, de facto, a reais necessidades. A motivação é vivida “na pele”, animando a não desistir, seguindo em frente e apoiando-se a sério uns nos outros.
Este artigo foi publicado na edição de Junho (nº. 162) da Human Resources, nas bancas.
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