Liderar pela escuta

Por Diogo Alarcão, Gestor

Num Mundo cada vez mais barulhento, o silêncio torna-se um bem escasso que é preciso recuperar e preservar. Constantemente rodeados pelo ruído exterior, cresce dentro de nós um ruído interior. Cada vez temos menos tempo para respirar, para parar, para pensar, para sonhar e inventar, inovar e aprender. Este ruido permanente rouba-nos a capacidade de escutar.

Paradoxal esta nossa vida.

Bombardeados por factos e acontecimentos, perdemos a capacidade de saber que exemplo seguir. Esmagados por estímulos ao meu “Eu”, perdemos a capacidade de servir. Afundados em mensagens, perdemos a capacidade de ler. Agitados por constantes solicitações, perdemos a capacidade de contemplar. Rodeados de ruído, perdemos a capacidade de escutar.

Se isto é verdade nos tempos que passamos entre amigos e família, torna-se ainda mais evidente na nossa atividade profissional. As constantes urgências e prioridades, a pressão dos resultados, a tirania dos prazos, a permanente “reunite” roubam-nos a capacidade de aprender, inovar e criar, tornam-nos menos eficazes e produtivos, fecham-nos sobre nós próprios, tornam-nos menos predispostos e disponíveis para escutar quer os sinais interiores que podem culminar em stress e burnout quer os sinais exteriores que nos poderiam tornar melhores profissionais.

É aqui que o líder pode fazer a diferença promovendo o exercício da escuta, própria e alheia. Cada vez temos menos tempo para ouvir e raramente escutamos. Escutar implica prestar (verdadeira) atenção ao que nos dizem e estar predisposto para receber ou dar um conselho. Estas são duas faces de uma mesma moeda que podem fazer a diferença nas organizações. Quem presta atenção, normalmente silencia o seu “Eu” e todos os outros ruídos (interiores e exteriores) para absorver na plenitude a mensagem do outro. Ao fazê-lo, fica mais apto para dar um conselho ou acolher o conselho que lhe dão. A “escuta”, em contexto organizacional, pode ser uma poderosíssima ferramenta de promoção da colaboração entre equipas e pode promover uma verdadeira cultura de feedback que permitirá às organizações renovarem-se e inovarem, bem como tomarem melhor consciência dos seus desafios ou fragilidades e prepararem-se melhor para o futuro. Uma cultura de “escuta” promove ambientes de segurança psicológica que, sabemos, são absolutamente críticos para o sucesso das organizações.

O líder que escuta consegue dedicar mais tempo aos outros do que a si próprio. O líder que escuta procura constantemente pedir feedback dos seus atos e decisões, mas também está disponível para dar feedback. Parece-me, pois, que é tempo de agarrarmos esta ferramenta de gestão colocando-a ao serviço das nossas organizações. Liderar pela Escuta pode ser bem mais eficaz e deve ser utilizado como ferramenta de gestão.

E nós? Temos tido tempo para escutar as nossas equipas? Temos tido tempo para dar e escutar os feedbacks que nos querem dar? Temos conseguido silenciar os ruídos, exteriores e interiores, para estarmos mais preparados para escutar o que nos rodeia?

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