Líderes no Feminino

A Carris reuniu cinco líderes. Um painel que tratou do tema da liderança no feminino.

A Carris tem 138 anos e à semelhança de outras empresas tem vindo a sofrer alterações na sua estrutura de Recursos Humanos, no que toca ao género. Até há bem pouco tempo, conduzir autocarros, eléctricos ou ascensores era uma tarefa masculina, mas aos poucos são cada vez mais mulheres que desempenham estes e outros cargos na empresa, por exemplo, há duas mulheres na administração. Esta mudança tem implicado alterações em particular, na Gestão do Capital Humano, num processo que a CARRIS tem vindo a adoptar e a incorporar no seu dia-a-dia. Na Carris trabalham 2770 colaboradores, dos quais 10% pertencem ao universo feminino, distribuídas 40% nos quadros técnicos, 50% são jovens quadros e 5% tripulantes.

«Para preparar o futuro, em que mais mulheres seguramente irão assumir cargos de relevo na CARRIS», tal como declarou Fernando Pereira da Silva, presidente do conselho de administração da CARRIS, a empresa trouxe cinco líderes mulheres para partilhar as opções profissionais que fizeram, o que foram forçadas a colocar de parte, que desafios enfrentaram, como os contornaram, como conseguiram vencer em realidades empresariais maioritariamente masculinas e como isso as fortaleceu.

Teresa Cardoso de Menezes, directora-geral da Informa D&B, partilhou alguns resultados do estudo “Perfil da Presença Feminina no Tecido Empresarial Português”, realizado pela Informa D&B. «Há poucas mulheres na liderança e é portanto um tema que me desperta atenção», sublinhou. Nesta abordagem macro da esfera feminina na gestão de empresas foram analisadas cerca de 11 mil empresas portuguesas. Entre as várias conclusões, destaque para o facto, de 29,3% das funções de gestão serem desempenhadas por mulheres; 56,6% das empresas terem participação feminina na sua gestão; Recursos Humanos, Finanças e Marketing são as funções onde há mais mulheres; serviços, retalho, alojamento e restauração são os sectores de actividade com maior predominância feminina, correspondendo a uma fatia de 30%. Outra importante análise é a função de gestão por dimensão, a presença feminina diminui à medida que a dimensão da empresa aumenta: nas empresas micro corresponde a 32% e nas empresas pequenas 17%, verificando-se igualmente um ligeiro aumento da participação feminina na gestão de empresas mais jovens. No universo estudado, 45% tem equipas de gestão mistas, 45% tem equipas masculinas e 9,5% tem equipas femininas. Teresa Cardoso Menezes avança, entre outros dados que 8% das mulheres, de acordo com a amostra, está na direcção-geral e 12% da presidência é assegurada por mulheres.

Leonor Coutinho, directora de planeamento estratégico da Carris, falou sobre “Liderança Política no Feminino”. Focou-se no exercício do poder político de topo, como conservá-lo e como transmitir um projecto. Munida de exemplos de mulheres que fizeram a diferença na esfera política. Trouxe como ponto de partida a mitologia na antiguidade, as memórias de reinos chefiados por mulheres amazonas e guerreiras e as sociedades matriarcas. Partilhou casos de mulheres que conquistaram o poder através de intrigas da corte e de assassinatos. Muitos foram os exemplos dados: Imperatriz Wu Zetian (séc. VII a.C.), em plena época de Ouro da dinastia Tang, Confúcio dizia: “Uma mulher envolver-se na política é tão escandaloso como uma galinha pôr-se a tocar no lugar do galo”, era uma heresia o poder de mulher.

Falou-nos do primeiro grande mito histórico, referido na Bíblia e no Alcorão, a rainha de Sabá do reino da Etiópia e do Iémen referenciado como o primeiro reino cristão. Falou também da rainha Hatshepsut no Egipto, século XV a.C., Arwa Al Sulayhi, Leonor de Aquitânia, Joana de Arc, Isabel I de Castela, Isabel de Inglaterra, Catarina II da Rússia, D. Leonor de Portugal, Maria Teresa da Áustria, Margareth Tatcher Primeira-Ministra europeia em 1979-1990, Maria de Lurdes Pintassilgo em Portugal em 1981; Golda Meir, Indira Gandhi, Benazhir Bhutto, Evita Peron, Gro Brudtland. E concluiu com o caso do Conselho Federal Suíço: 5 mulheres e 3 homens; e com a Ângela Merkel, considerada mulher mais poderosa da Europa.

Vera Pires Coelho, presidente do Conselho de Administração da Edifer, licenciada em Economia, com um MBA na Nova, e membro da direcção de organizações culturais. No painel “Haverá mundo mais feminino do que a construção?” começa por esclarecer que na Edifer, 14% dos colaboradores são mulheres.

Vera Pires Coelho inicia a sua actividade profissional na área financeira. E aos 33 anos assume a presidência do Conselho de Administração da Edifer. «Hoje pensaria tanto que não sei se aceitaria este cargo. Realmente a altura em que as coisas acontecem na vida é muito importante. Este é um sector agressivo, masculino e profundamente duro, em média trabalho 14 horas por dia», conta. E questiona: «Porque é que são sempre os filhos rapazes a sucederem na presidência? Sou a terceira de quatro filhos, tenho um irmão mais velho e primos só homens, mas fui eu a escolhida. A decisão baseou-se em 10 critérios estabelecidos pelo Conselho de Administração, eu era a única que preenchia esses requisitos. Em relação ao tema escolhido para o painel acredita que há semelhanças entre a construção e a mulher. Vera Pires Coelho chama a atenção para a própria evolução da arquitectura e das próprias linhas dos carros, mais redondas e ergonómicas e cada vez mais femininas.»

Deixa o seguinte conselho para as mulheres que aspiram ser líderes: «Na vida é preciso equilíbrio. Não devemos abdicar de ter vida familiar, senão somos incompletas. Há que acreditar no nosso sonho e lutar. Há uma idade para tudo. Pode-se ir trabalhar sem dormir e correr que nem loucas de um lado para outro. É preciso muita resistência, não abdicar do sonho. Não estive sempre presente para os meus filhos, mas consegui enraizar a noção de responsabilidade».

Guta Moura Guedes, co-fundadora da Experimenta, começa por dizer que a questão da liderança no feminino não ocupa um milionésimo do seu dia. «É quase como se esta questão fosse do século passado», afirma.

Para Guta Moura Guedes o problema está «no desenho da nossa sociedade, a forma como sentimos estruturado o tecido social. Vivemos num momento de viragem muito interessante. A questão da liderança não está ligada ao género é uma condição delineada no DNA, pode também estar inerente à aprendizagem, mas de um modo geral, nem todos nascem para ser líderes. A mudança que é necessária acontecer tem que começar em locais inesperados…no seio da empresa. A liderança das nossas empresas é determinante».

«No ExperimentaDesign temos excesso de mulheres, queria mais homens na equipa, mas as mulheres têm vindo mais bem preparadas, mais agressivas do que os homens. Tenho feito um esforço para contratar homens, já gosto de equipas mistas», conta.

Guta Moura Guedes tem dois filhos rapazes, com 16 e 20 anos de idade, e considera que actualmente corremos outro risco: «a forma como é feita a avaliação curricular nas escolas privilegia as raparigas, já que a Escola exige respostas que são por definição femininas». Alerta para o perigo de podermos passar para uma estrutura que privilegia a mulher, portanto de contínuo desequilíbrio.

Guta Moura Guedes garante que a liderança que exerce depende das competências e dos perfis da sua equipa, «as pessoas são o bem mais precioso, cada pessoa tem um papel muito importante. Para mim é muito importante que a minha equipa não concorde comigo, que me desafie, há uma abertura que cria espaço para a evolução. O que faz para mim um grande líder? É a grandeza da sua equipa. Gerir pessoas melhores do que nós».

E acrescenta: «o desenho apontou-nos para um caminho que não era eficaz. Agora há que redesenhar em conjunto, existem várias questões por resolver: como é que neste novo desenho da sociedade se conjugam os saberes de miúdos brilhantes acabados de sair da faculdade e de idosos brilhantes nas empresas? Liderar é mais ou menos simples. Antecipar e ter visão, é mais complicado.»

Conceição Zagalo, membro do Conselho Directivo da IBM Portugal e presidente da direcção da Grace, na sua apresentação reuniu um conjunto de mulheres que se destacaram na História, pela capacidade que tiveram em sair da zona de conforto. Partilhou as especificidades do cérebro masculino e feminino. Entre muitas outras curiosidades, como por exemplo o seguinte: 75% dos homens executivos têm uma mulher/ companheira não trabalhadora; e 74% das mulheres executivas têm um marido/ companheiro que trabalha a tempo inteiro. Falou, também, da articulação entre os diferentes pontos fortes de homens e mulheres, de forma a optimizar relações interpessoais e profissionais e melhorar desempenhos pessoais, contribuindo para o sucesso do todo e do negócio.

Falou ainda da formação académica das mulheres, estas «prometem dominar os bancos de escola, começando a trabalhar enquanto tiram o curso. Os cursos mais requisitados por mulheres são na área das Humanidades, Gestão e Economia. No ano passado, o curso de Engenharia Espacial, no Instituto Superior Técnico, tinha apenas uma mulher».

Conceição Zagalo é a única mulher no board da administração da IBM, criou em 2004 a Portuguese Women Leadership Council e desde o dia 1 de Abril que deixou de ocupar a direcção de Comunicações e Programas Externos da IBM Portugal.

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