Luís Urmal Carrasqueira: «É preciso aprender a desaprender algumas coisas»

Estamos a viver um momento fascinante de inovação e de novas oportunidades trazidas pela tecnologia. Quem o afirma é Luís Urmal Carrasqueira, um optimista por natureza que agora tem na SAP o palco ideal para contribuir para este “admirável mundo novo”.

 

Por Ana Leonor Martins | Fotos Nuno Carrancho

 

Luís Urmal Carrasqueira passou de gerir uma equipa com 20 ou 30 pessoas para assumir a responsabilidade de liderar toda a empresa e um universo de cerca de 500 colaboradores de perfis muito diferentes. E quando assumiu funções como director-geral da SAP, foi nessas pessoas que centrou a sua prioridade, em conhecer a equipa e transmitir de forma clara os valores da empresa – proximidade, inovação e criação de valor –, pois acredita que, juntando estes três ingredientes, quer na vida interna da organização, quer na relação com os clientes e parceiros, estão reunidas as condições para o sucesso. Isso, e motivar as pessoas a autodesafiarem-se constantemente, assegurando que o potencial de cada um é aproveitado nas funções certas.

 

Assumiu há cerca de dois anos a direcção-geral da SAP Portugal. Desempenhava então a função de director de vendas. Como encarou este desafio e responsabilidade?
Têm sido dois anos muito gratificantes e positivos. E as expectativas que tinha estão a ser superadas. Mas não contam só as minhas expectativas. As expectativas das pessoas em relação a mim mudaram, e essas também têm de ser geridas, não só em relação à entrega no presente, mas sobretudo sentirem que estamos a seguir o caminho certo, na construção do nosso futuro.

Outro grande desafio tem a ver com a abrangência da função, pois, como referiu, vim de uma realidade onde dirigia a equipa do departamento comercial, para gerir a empresa toda.

 

O que definiu como acções prioritárias?
As prioridades centraram-se, e centram-se, essencialmente, nas pessoas. Por isso, a minha preocupação inicial foi conhecer a equipa e transmitir de forma clara aquilo que acredito serem os valores que nos definem, para que a equipa possa transmitir esses valores ao mercado.

 

Que valores são esses?
Proximidade, inovação e criação de valor. É muito importante as pessoas estarem próximas, haver uma relação transparente e franca. Isso é válido tanto na relação com o cliente, como dentro da empresa. Depois, temos de ser cada vez mais inovadores naquilo de fazemos. Num mundo extremamente competitivo e concorrencial, temos que nos diferenciar, sem nunca perder o foco e o racional do que isso nos traz em termos de criação de valor.

Se juntarmos estes três ingredientes, seja na vida interna da organização, seja no que transmitimos aos clientes ou na nossa relação com os parceiros, acredito que os resultados têm uma elevada probabilidade de serem bons.

 

Tendo em vista a “entrega” desses valores, quais são, actualmente, os vossos principais desafios?
Internamente, um desafio que existe sempre é tentar ter as pessoas, nas suas mais diversas funções, todas com o mesmo objectivo, e andarmos todos à mesma velocidade. Pode parecer que não é possível, mas se todos forem envolvidos, não só nos sucessos mas também nas dificuldades, cria-se espírito de equipa, e isso é fundamental.

O mundo que nos envolve actualmente é, de facto, muito imediato e rápido. Se há uns anos, nos primórdios da internet, se concebiam modelos de negócio para um mercado digital que não existia, hoje o mercado existe e determina a velocidade das organizações. Tudo isso faz com que estejamos a viver um momento muito fascinante de inovação, não só porque as empresas se querem diferenciar, mas também porque o mercado as- sim o exige e está constantemente a desafiar as empresas.

 

Mas não chegará conseguir responder ao mercado, tem de se antecipar tendências…
Esse é o desafio. E, para lhe dar resposta, a SAP teve uma boa leitura do mercado e lançou a oferta Experience Management, que se baseia na real sensibilidade acerca do produto ou serviço, e do mercado a que se destina, a partir do feedback do colaborador. Geralmente, tomam-se de- cisões nas direcções e nos conselhos de  administração, mas muitas vezes o impacto dessas decisões nas pessoas não é o esperado. Estudos dizem que 80% dos gestores acreditam que estão a ir ao encontro das expectativas das pessoas, mas apenas 8% das pessoas confirmam que assim é. Por isso, o grande desafio hoje é estar próximo das experiências das pessoas.

A gestão já tem os dados operacionais, sabem o número de clientes que estão a ganhar ou a perder, os sectores mais lucrativos, e onde a procura está a aumentar ou a reduzir. Mas o que realmente determina isso é a experiência, a percepção da marca, a satisfação do co- laborador. É à ligação destes dois momentos que chamamos experience management. A distância que vai dos dados operacionais aos dados da experiência é o que designamos de experience gap. O maior desafio, hoje, perante os nossos clientes é reduzir ao máximo este experience gap. E é aí que estão os modelos disruptivos que promovem a transformação do negócio.

 

A SAP tem mantido a sua aposta no mercado português. O que nos torna um País atractivo para investir?
Temos tido uma evolução bastante positiva, conseguindo uma quota de mercado bastante relevante no mercado português. Conseguimos manter níveis contínuos de satisfação, uma relação muito próxima dos clientes e estamos a trabalhar num mercado que é muito maduro em termos tecnológicos. Isto faz com que a SAP, em termos centrais, reconheça o valor do mercado nacional para investir. Não menos importante é a qualidade dos nossos recursos. Temos várias pessoas com carreiras de sucesso dentro da SAP, portugueses espalhados por todo o mundo. As nossas pessoas têm um bom nível de formação e de conhecimento linguístico, temos boas infra-estruturas, custos equilibrados, e tudo isso faz com que haja uma boa percepção de Portugal e motivos para investir.

E temos provas dadas. Numa altura de crise profunda, a SAP escolheu Portugal para instalar um Centro de Serviços globais, e tem continuado a investir continuamente porque tem sido um sucesso.

 

Com quantas pessoas conta actualmente esse Centro, que foi inaugurado em 2012, e a SAP Portugal, em geral?
No Centro, actualmente, estão 283 pessoas e em Portugal somos 427 no total.

 

Em 2017, a SAP Portugal não só duplicou a facturação de há 10 anos, como triplicou o número de colaboradores. Como têm dado resposta a esta necessidade de crescimento da equipa?
É um desafio, porque uma coisa é gerir uma equipa de 20 ou 30 pessoas, outra diferente é liderar uma equipa de 500 pessoas, e estamos a falar de pessoas com perfis completamente diferentes, com vontades e idades diferentes. Mas a diversidade está no nosso ADN, o que tem ajudado na gestão do desafio e contribui para o objectivo de ter todas as pessoas motivadas a dar o seu melhor.

 

Mas o desafio não passará só pela gestão da diversidade, mas também pela escassez de talento disponível…
De facto, hoje existe um problema no mercado em termos de recursos disponíveis, em várias áreas, e por vários motivos. Em Portugal, como por todo o mundo, estão a fazer-se muitos projectos, e, pela qualidade das nossas pessoas, são atractivas não só para a SAP como para outras empresas, e não só no País, mas internacionalmente.

 

Continua a ser um problema o exterior ser mais atractivo aos olhos desses talentos?
Isso acontece porque os jovens, muitas vezes, procuram experiência para trabalhar em grandes empresas. Não quer dizer que depois não regressem para trabalhar em Portugal, mas existe essa ambição, e nós gostamos de trabalhar com pessoas assim.

 

Também recrutam no estrangeiro?
Acredito que temos uma forte capacidade de atracção de talento, até pela própria marca, pois a SAP foi considerada a 16.ª marca mais valiosa do mundo. Mas a escassez é uma realidade, que se faz sentir cada vez mais, e, sendo que procuramos não ir recrutar nem aos nossos clientes nem aos nossos parceiros, isso restringe-nos ainda mais.

O que temos vindo a fazer é desenvolver uma forte estratégia de aliança com as universidades. Começámos há cerca de quatro anos e tem sido uma forte aposta, que tem dado bastantes frutos. Facilita o facto de existirem cursos que têm cadeiras de SAP ou áreas de inovação em que são colocados desafios concretos aos alunos, de empresas clientes. Isto não só ajuda a preparar os alunos, aproximando-os da realidade, como os aproxima das empresas, da nossa e da dos nossos clientes, que têm a mesma dificuldade de recrutamento

 

Leia a entrevista na íntegra na edição de Outubro da Human Resources, nas bancas.

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