Maior competitividade, produtividade e felicidade no trabalho?

Por Pedro Fontes Falcão, gestor e professor universitário

 

A procissão ainda vai no adro em relação às alterações que irão ocorrer a muitos níveis, incluindo na área do trabalho. Fazem-se previsões, alguns acham que sabem o que vai acontecer no futuro com uma certeza que faria inveja a qualquer astrólogo, mas a realidade é que ninguém pode garantir o que irá acontecer daqui a uns anos. Contudo, vale a pena refletir e discutir ideias.

Uma delas é que, como resultado do crescente teletrabalho, a competitividade no mercado laboral poderá aumentar, o que traz vantagens e desvantagens, como acontece com quase tudo. Esta possibilidade resulta de vários fatores.

Primeiro, e apenas nos casos em que a função possa ser desempenhada totalmente por teletrabalho, as pessoas de qualquer ponto do mundo tornam-se potenciais concorrentes dos que estão atualmente empregados. A limitação da distância física diminui, nestes casos, não desaparecendo totalmente nos casos em que grandes diferenças nos fusos horários prejudique o desempenho das funções.

Segundo, nos casos de multinacionais que começam cada vez mais a estabelecer o inglês como língua oficial da empresa, os atuais colaboradores que falam a língua local perdem a vantagem que tinham anteriormente, beneficiando quem fala bem inglês.

Terceiro, quem tiver menores custos de adaptação ao teletrabalho também poderá beneficiar de uma vantagem, pois o seu rendimento líquido será superior ao dos outros, nesse montante.

Por estes e vários outros fatores, uma maior competitividade pode levar a uma maior produtividade do trabalho, que é eventualmente o maior obstáculo do desenvolvimento económico português.

Uma consequência do teletrabalho que muitos referem que permitirá maior produtividade é a óbvia poupança de tempo de deslocação dos colaboradores. Mas convém alertar que a empresa não pode exigir esse tempo aos colaboradores, que deve ser gozado por eles, embora, ao ser tempo ganho para ter melhor qualidade de vida, esta se poderá refletir em maior eficiência no trabalho.

A produtividade também deverá aumentar pelo crescente surgimento de mais e melhores ferramentas que ajudam a definir e controlar Key Performance Indicators e, assim, mais facilmente medir os resultados do trabalho das pessoas. Ou seja, a abordagem de avaliação do desempenho poderá passar a ser cada vez mais focada nos outputs e menos nos inputs. Uma vantagem prática é que o “facetime” (a presença física dos colaboradores no escritório para mostrar que são muito dedicados mesmo que não estejam a fazer nada) irá diminuir. Os “desperdiçadores de tempo” no escritório também irão desaparecer, embora seja importante as pessoas não se distraírem e desperdiçarem tempo enquanto estão nas suas casas, o que não é fácil. Por esta e outras questões, a disciplina vai ser uma característica muito importante no futuro.

Uma questão-chave é se a felicidade dos colaboradores irá aumentar? Essa resposta vai basear-se numa análise multifatorial complexa, para a qual serão decisivos a ação e o papel das empresas, das suas lideranças, da legislação, e também dos próprios colaboradores. É ainda cedo para se saber…

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