Maria João Martins, My Change: «A coragem cresce com a causa»
A frase é atribuída a Fernão de Magalhães, o intrépido navegador português que liderou a primeira viagem de circum-navegação ao globo. Esta ideia ilustra como somos capazes de nos superar quando trabalhamos por algo verdadeiramente significativo – o tão célebre propósito, que hoje orienta muitas das nossas estratégias de alinhamento entre pessoas e organizações.
Por Maria João Martins, Managing partner da My Change
Os descobridores portugueses do século XV são o epítome da criatividade visionária e da generosidade estratégica. A criatividade permitiu-lhes imaginar mapas num mundo repleto de incertezas; a generosidade conduziu-os a liderar colectivos diversos em missões de exploração, com a determinação de não deixar ninguém para trás.
Hoje enfrentamos novos “mares”: mercados voláteis, tecnologias disruptivas, a ascensão da inteligência artificial (IA) e uma força de trabalho diversa e interconectada. Tal como os navegadores de outrora, os líderes contemporâneos necessitam de criatividade – para inovar – e de generosidade – para liderar com empatia e colocar as pessoas no centro das decisões.
Líderes atentos são como mestres de embarcações que ajustam as velas ao sabor dos ventos, nunca perdendo a visão e o rumo a alcançar, promovendo o bem-estar e o potencial humano. Para singrarmos nestes mares e horizontes, proponho que exploremos grandes drivers de gestão da mudança em 2025, através de boas perguntas, que nos fazem avançar com a curiosidade de quem se desafia:
Libertar o potencial humano
Investir no reskilling e upskilling será imprescindível na era da IA.
Que tarefas deixarão os seus colaboradores de realizar? E que novas competências precisarão de adquirir?
Como envolver as pessoas num processo de aprendizagem verdadeiramente transformador?
De que forma pode reconhecer e partilhar o conhecimento interno da organização?
Como construir uma “academia do futuro” que inspire crescimento e inovação?
Gerir a mudança centrada nas pessoas
As pessoas no centro de qualquer transformação.
Conhece os diferentes segmentos e o puzzle humano da sua organização? E como responde às necessidades de cada um?
Qual é a Proposta de Valor (EVP) da sua organização? O que a torna ímpar?
Como comunica a sua EVP para atrair e reter os melhores talentos?
Estarão as suas políticas de Recursos Humanos alinhadas com a visão de futuro da organização?
Alinhar a cultura
A transformação sustentável requer o alinhamento da cultura organizacional.
Os valores da sua organização estão reflectidos nas iniciativas de mudança?
Quem são os promotores e embaixadores dos comportamentos alinhados com os objectivos? Conhece os seus agentes e facilitadores da mudança?
Que planos de mobilização e reconhecimento sustentam a cultura desejada?
Tomar decisões suportadas em dados
Decisões informadas por dados bem apurados aceleram a mudança organizacional.
Que ferramentas utiliza para ouvir os colaboradores e recolher informações relevantes?
Como acompanha os indicadores-chave para medir o impacto das transformações? Como os relaciona? Como os usa de forma proactiva no desenho do futuro?
Construir líderes ágeis e inspiradores
Líderes ágeis prosperam em contextos de complexidade, tomando decisões rápidas e eficazes. Dão e recebem feedback e crescem com isso.
De que forma alinha os seus líderes com o propósito da organização?
Desenvolve programas de liderança que estimulem o potencial humano nas suas equipas?
Como inspira criatividade e adesão a novos rituais que gerem vantagem competitiva?
Como conversam os líderes com as suas equipas e com os seus pares? Como escutam? Como questionam? Como suscitam curiosidade? Como desenvolvem a criatividade nas equipas, para a resposta oportuna aos enormes desafios que nos visitam e à adversidade para a qual é preciso agilidade na resposta?
Acredito que a Gestão de Pessoas dependerá cada vez mais do equilíbrio entre inovação induzida pela tecnologia, ao lado de uma humanidade cuidada e distintiva.
Por isso, gosto de pensar que “a coragem cresce com a causa” e que tudo devemos fazer, com engenho e arte, para conversarmos sobre os nossos propósitos com clareza e paixão. Aumentaremos a energia da coragem. Assim, seremos capazes de levar as nossas equipas para novos portos, tal como os grandes navegadores que desbravaram os novos mundos, conquistando grandes feitos.
Este artigo foi publicado na edição de Janeiro (nº. 169) da Human Resources, nas bancas.
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