Maria João Martins, My Change: Menos é mais

Vamos fotografar o momento – foquem a objectiva, o que conseguem ver para “além da curva da estrada”? Menos é mais, ou seja, desfoquem do que não acrescenta valor e foquem onde é mais preciso compreender e reinventar.

 

Por Maria João Martins, partner da My Change

 

Vivemos num tempo onde se há muita incerteza, há também uma nitidez fantástica – pelo menos para mim – em relação ao que passou a ser muito mais importante. Estamos com muito menos, em muitas coisas. Temos a inflação a subir e o capital material a descer, por isso, temos um potêncial relevantíssimo de acções a desenvolver para aumentar o contrato psicológico das nossas equipas, que as não vemos todos os dias e as temos que continuar a sentir, compreender, mobilizar, alinhar estrategicamente, envolver e levar para a visão que temos para o futuro

Na imagem da minha objectiva há temas que andam de braço dado:

– O propósito, aquilo que se busca atingir, aquilo que nos faz viver, aquilo que nos puxa para o dia e nos faz vibrar. Estudos dizem que vivem mais e são mais felizes aqueles que têm uma razão para as suas vidas, algo maior. Vivemos num mundo de significados e de valores. É isso que andamos a querer ainda mais nas nossas empresas, que se clarifiquem os seus propósitos, e que neles os nossos colaboradores encontrem palco para os seus. Porque haverá mais vitalidade para tudo e todos. Esforçamo-nos neste sentido? Conhecemos os nossos colaboradores?

O alinhamento de objectivos, sempre! Comuniquem, comuniquem, comuniquem! Com menos palavras, mas comuniquem. Descodifiquem para todos e cada um nas organizações, como a partir das linhas de orientação estratégica cada um pode contribuir. É que ainda encontro muitos a quem questiono qual o papel que têm e a sua missão, e é verdade que sabem, mas por vezes sem grande cor. Ou seja, estão a fazer parte da organização, mas não explicitam a relevante parte que é a sua, com chama e entusiasmo, como quem acredita que faz a diferença. E muitas vezes, o que faltou foi uma boa conversa sobre gestão do seu desempenho, descodificando e alinhando os seus importantes objectivos. Se semearmos poucas, mas certeiras palavras com os nossos colaboradores, a colheita é mais frondosa, viçosa e orientada para um jardim colectivo para o qual todos estão a contribuir.

A autenticidade, deixar fluir quem somos, respeitar cada um. Afinal, não é isso o estado mais puro do que é a diversidade? E andamos nós a precisar de normalizar a diversidade? Contra mim falo, que já em 2012, há 10 anos, fiz a primeira Política de Diversidade de uma grande organização, mas para quê? Com menos se consegue mais. Basta aceitar, observar a meritocracia assente na diversidade do que somos e na beleza da nossa autenticidade.

Isso é o expoente máximo da liderança ao serviço das pessoas. Assim saibamos gerir as complementaridades de todos nas equipas, conhecendo cada um, escutando activamente, interessando-se genuinamente e dando o exemplo, todos os dias e não só de vez em quando. Com menos, que quer dizer atenção plena, se consegue muito mais, que quer dizer, compromisso colectivo!

O respeito, a transparência e o envolvimento. Se sabemos que alguma situação é menos confortável, falamos abertamente sobre isso. Ter relações pares, seja com chefia, colegas ou subordinados, no que toca a conversas sobre património relacional e emocional, ajudaria muito. Ajudaria a mais partilha e a aprender mutuamente. Haver menos hierarquização no que toca a respeito e transparência, mantendo as dinâmicas normais de hierarquia em tomada de decisão, confidencialidade etc. Perceber que há muita coisa mais biunívoca do que imaginamos. Por exemplo, que quando os mais experientes ensinam, também aprendem.

Valorização da saúde mental. Ter um espaço aberto onde é possível falar-se sobre como nos sentimos, sem rótulos, e onde o respeito dá poder à equipa para se fortalecer. Parece um paradoxo mas não é. Uma equipa mais próxima, é uma equipa com menos espaços de silêncio e mais forte. Saúde mental em contexto de trabalho não pode ser tabu. É absurdo como valorizamos doenças físicas e não cansaço, burnout, tristeza, desmotivação. Esses sentimentos devem ser geridos. Seremos mais produtivos se formos mais completos.

Naquilo que é a Gestão de Pessoas, onde tenho a honra de me situar com experiência na gestão RH, na Gestão da Mudança, mas também na gestão de uma empresa e por isso na gestão de equipas, gostava de vos dizer que acho que, com engenho, criatividade e arte, poderemos combinar foco para usarmos uma espécie de simplex aplicado a boas iniciativas, para conseguirmos com menos, muito mais. Foquem a objectiva, nunca esquecendo que as organizações têm que ser produtivas:

  • Menos informação dispersa vs mais comunicação e exemplo;
  • Menos coordenação vs mais participação e colaboração;
  • Menos estereótipos/ buzzwords vs mais competência e genuinidade;
  • Menos simpatia plástica vs mais empatia sincera;
  • Menos avaliação e indicadores não conversados vs mais alinhamento, acompanhamento e feedback;
  • Menos segredo e manipulação vs mais verdade e firmeza/coerência;
  • Menos distância inter equipas vs mais valor para o cliente:
  • Menos apego a programas que beneficiam apenas a imagem da empresa (certificações, relatórios, índices, etc.) vs mais foco em benefícios concretos para as pessoas que fazem da nossa empresa o espaço mais maravilhoso onde gostamos de trabalhar.

 

Este artigo foi publicado na edição de Novembro (nº. 143)  da Human Resources, nas bancas.

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