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Martim de Botton, LACS: «O cliente procura uma experiência que permita sentir que o escritório é muito mais do que um espaço onde passa oito horas por dia.»
O LACS disponibiliza soluções de espaço flexível e de coworking em Lisboa, Cascais e Porto. Actualmente, conta com mais de 300 empresas e 3.500 membros. Martim de Botton assumiu a liderança da empresa em 2022 e, entre as principais transformações, destaca a crescente procura de empresas de outras áreas e a criação de ambientes positivos nos escritórios como factor-chave para atrair e fidelizar talento.
Por Tânia Reis
Grande defensor do modelo presencial e do trabalho “cara a cara”, o CEO garante que a flexibilidade é uma das principais características do LACS, e esse factor é cada vez mais valorizado. Até porque os clientes já não procuram apenas um espaço para trabalhar. E acredita que ambientes positivos, onde a interacção, a partilha de ideias e o equilíbrio work-life-balance estejam presentes, são a resposta para motivar o regresso dos colaboradores aos escritórios.
Assumiu a liderança do LACS em 2022. Que principais mudanças destaca desde então na organização?
Quando cheguei em 2022, o LACS já era uma marca reconhecida e já se tinha assumido como uma referência em termos de espaços de trabalho. Tínhamos já três edifícios com uma área ligeiramente superior a 15.000 m2, o que é reflexo de um excelente trabalho que estava a ser desenvolvido. Nesse sentido, coube-me aproveitar o que de bom existia e tentar incutir algumas melhorias que entretanto eram necessárias. Uma delas foi nos edifícios, pois tínhamos saído há pouco tempo de uma pandemia, com as pessoas a trabalhar em casa e o desafio agora era trazê-las de volta ao escritório e a um espaço confortável. Um pequeno exemplo disso esteve relacionado com uma melhoria na insonorização de cada private office, pois no pós-COVID aumentou muito o número de vídeo-chamadas.
Havia também uma grande vontade de expandir e tínhamos também alguns clientes nossos que nos pediam isso, pelo que nos últimos dois anos duplicamos de área, para 30.000 m2 e estamos agora com cinco edifícios no total, tendo aberto o primeiro LACS no Porto.
Outra mudança que foi acontecendo ao longo deste período esteve também relacionada com a equipa e com a forma como vejo a organização. A visão que tenho hoje é diferente daquela que tinha em 2022 e sinto que agora estamos muito preparados e com uma equipa excelente para encarar os desafios que temos pela frente.
Antes havia fundado o Aruki Sushi Delivery e foi administrador da Santini. O que o levou a aceitar este desafio?
Foram duas experiências totalmente diferentes. A primeira, no Santini, tinha terminado o curso há pouco tempo e surgiu a oportunidade de a minha família entrar no capital social da empresa. Falámos internamente e decidimos que eu iria assumir, a meias com um membro da família Santini, a liderança da empresa.
O Aruki surgiu passados quase nove anos de Santini e por uma vontade de empreender e de ter um negócio próprio fora da esfera familiar. Foram quatro anos em que aprendi muito e que, juntamente com os outros do Santini, me servem hoje de base para poder liderar o LACS.
Em 2021 vendi a minha participação do Aruki, fiz quatro meses sabáticos a viajar com a minha família e em Maio de 2022 retomo para o grupo de empresas da família. No final desse ano surge a possibilidade de adquirirmos a totalidade do LACS aos nossos três sócios da altura e foi quando consumámos essa operação que passei a ser CEO do LACS. Sempre foi um negócio que me interessou e que achei que poderia acrescentar valor fruto das experiências passadas.
Que prioridades definiu?
Queríamos continuar a fazer crescer o negócio do LACS, não só em Lisboa, mas também noutras cidades e exemplo disso foi a abertura do LACS Porto no início de 2024. Desde 2022 até hoje duplicámos a nossa área e temos agora mais de 300 empresas e 3.500 membros connosco.
Era muito importante para mim ter uma equipa forte, coesa e em que todos estivéssemos muito alinhados com o que queríamos para o futuro da empresa. Hoje fico feliz de olhar à minha volta e perceber que conseguimos criar isso e que temos os ingredientes necessários para fazer do LACS uma referência. Acreditamos que o mercado onde estamos posicionados, dos escritórios flexíveis, será o futuro da forma de trabalhar a nível mundial e congratulamo-nos por estarmos a liderar essa tendência em Portugal.
Quantos espaços tem o LACS e como funciona?
Actualmente temos cinco espaços – três em Lisboa, um em Cascais e um no Porto – e uma oferta alargada de serviços que vai desde private offices, hot desks (cowork), salas de reunião, eventos, cafetaria, entre outros. Sem dúvida que o nosso produto estrela são os private offices, pois representam mais de 95% da nossa receita e é esse o principal motivo pelo qual os clientes nos procuram.
No modelo de private office o cliente aluga a sua sala privada e onde faz desse espaço o seu próprio escritório, podendo chegar ao ponto de o decorar como pretender. Temos clientes com escritório próprio para duas pessoas até outros com escritório para 200. A flexibilidade é uma das nossas principais características e um dos nossos valores é evitar dizer “não” ao cliente. Acreditamos que conseguimos sempre adaptar-nos e moldar-nos à vontade do parceiro.
Costumo dizer que o nosso modelo é “chave na mão”, uma vez que a partir do momento em que o cliente entra pela porta de um edifício LACS, a sua única preocupação é em como poderá fazer o seu negócio prosperar, pois tudo o resto nós tratamos. Sejam temas relacionados com a internet, electricidade ou até mesmo a marcação de uma sala de reunião, temos sempre uma equipa preparada para resolver tudo.
Além de espaços de co-working também disponibilizam outras opções e até soluções tailor-made. O que mais vos pedem os clientes?
A grande maioria dos nossos clientes procura escritórios privados. Temos clientes das mais diversas dimensões, pois temos desde o freelancer, ao nómada digital, à startup ou à multinacional. Temos notado uma crescente procura nos últimos anos por empresas dos mais diversos quadrantes. Enquanto ao início os sectores que mais nos procuravam eram as indústrias criativas e as tecnológicas, hoje, para além dessas, contamos com empresas das áreas de direito, contabilidade, farmacêutica, energia ou private equities, por exemplo.
Que vantagens e inconvenientes destaca nos vários modelos de trabalho actualmente em vigor – presencial, híbrido e remoto?
Creio que todos têm as suas virtudes e os seus defeitos, no entanto, pessoalmente sou um grande defensor do trabalho presencial. Acredito muito no contacto humano, no trabalho “cara a cara” e isso só é possível quando estamos junto dos nossos colegas. Coisas tão simples como uma sessão de brainstorming enquanto se toma um café, uma troca de ideias num corredor ou até mesmo conseguirmos transmitir os valores e a cultura de uma empresa só são possíveis quando se partilha o mesmo espaço.
Como vê as políticas de regresso ao escritório que têm sido adoptadas recentemente por várias empresas nos EUA, como a JPMorgan, Amazon, Goldman Sachs, etc.?
Como algo natural para uma geração que sempre esteve habituada a separar a casa do trabalho. Ainda há uns dias tivemos o novo presidente dos EUA a terminar com o trabalho remoto para mais de um milhão de funcionários públicos. Sei que hoje para as novas gerações, especialmente para aquelas que entraram no mercado de trabalho durante ou após a pandemia, é algo mais difícil de entender, no entanto acredito que os níveis de produtividade são incomparáveis.
Um dos grandes desafios das empresas está relacionado com a retenção de talento e se conseguirmos criar ambientes positivos nos escritórios, onde a interacção, a partilha de ideias e o equilíbrio work-life-balance estejam presentes acredito que estaremos no caminho certo para motivar o regresso dos colaboradores aos escritórios.
Como vê o futuro dos espaços de co-working e hubs criativos em Portugal?
Acredito que este novo modelo de escritórios e nova forma de encarar o trabalho é o futuro e sendo Portugal um país de eleição para empresas internacionais, estou certo de que ainda teremos espaço para crescer.
É fundamental existir uma adaptação nos espaços de trabalho e é por essa razão que a flexibilidade que oferecemos é algo cada vez mais valorizado pelos nossos clientes. Já não se trata de procurar apenas um espaço para trabalho. Aquilo que o cliente hoje procura é uma experiência que lhe permita sentir que o escritório é muito mais do que um espaço onde passa oito ou mais horas por dia. Tem de ser um espaço de convívio, de comunhão entre o trabalho e o bem-estar das pessoas.
No seu percurso profissional, que principais lições de liderança destaca?
Há uma frase muito simples, mas muito forte que é bastante utilizada na cultura empresarial americana e que é: “fail, but fail fast”. Um líder não deve ter medo de tomar decisões, mesmo que por vezes possam parecer arriscadas, mas correndo mal precisa é de ter a humildade de as aceitar e de as corrigir rapidamente. A capacidade de nos adaptarmos às situações e de nos moldarmos às especificidades do negócio são fundamentais se queremos ter sucesso. Devemos ter confiança e sustentar as nossas decisões, mas se depois na prática não correm como esperado, temos de ser rápidos a mudar.
Outro ponto fundamental é também termos a capacidade de nos rodear de uma boa equipa. Termos pessoas que nos desafiem e que nos questionem é fundamental para estimular o crescimento da empresa.