Minimalismo corporativo – Natal e gestão de pessoas

Por Isabel Moço, coordenadora e professora da Universidade Europeia

 

Faz-me sentido, em vésperas de festas, pensar nos consumos corporativos (ou investimentos, se se queira). Efectivamente, num contexto empresarial onde a orientação para a eficiência e optimização é constante, uma abordagem disruptiva começa a ganhar terreno na gestão corporativa, nomeadamente na Gestão de Pessoas: o minimalismo. Este conceito, historicamente associado ao design e estilo de vida, está agora a ser incorporado nas estratégias empresariais, desafiando a tradicional acumulação de recursos em prol da simplificação e foco no essencial – a essência, ou como temos por aí usado, propósito. O minimalismo corporativo não trata apenas de redução de custos, mas sim de uma mudança cultural profunda, desafiando a mentalidade de “mais é melhor” em favor de uma abordagem mais consciente e equilibrada.

Imagine-se uma empresa que, durante as festas de Natal, decide abraçar o minimalismo corporativo. Em vez de decorações extravagantes e presentes para todos, a liderança opta por uma abordagem mais simples e significativa – significativa e verdadeira, de facto. Decorações minimalistas, mas sentidas e com o envolvimento activo de todos, festejos minimalistas mas com emoção, ligação com partes interessadas sem os tradicionais presentes ou reconhecimentos, envolvimento real com uma causa social mas que não seja desconforme o que se vive na empresa ou atenção à vida familiar de cada colaborador, são exemplos de práticas, “diferentes” das tradicionais. O espírito festivo e de celebração – que em algumas organizações parece teimosamente localizada no calendário – não se perde, mas é reinterpretado, preferencialmente de forma a reflectir os valores essenciais da empresa.

O minimalismo, ou se se preferir a simplicidade, traz consigo um sentido de propósito partilhado, que deve ser promovido, não só nesta época, mas como orientação cultural – e terá de estar alinhada com o propósito e os valores da empresa. Ao invés de competirem por ostentação, em concreto face “às concorrências”, deverá apostar-se em criar um ambiente acolhedor e solidário. Em termos de resultado global, a empresa não está apenas a economizar recursos (embora também, e isso pode ser importante), mas a fortalecer a sua cultura organizacional. O minimalismo não transforma apenas a percepção de festividades e celebrações, mas deve ser incorporado em cada dia de vida da organização, podendo contribuir para uma marca forte e poderosa.

Para os gestores de Recursos Humanos, a adopção do minimalismo corporativo apresenta benefícios significativos. A eficiência operacional melhora à medida que se eliminam processos e recursos desnecessários e possibilita uma operação mais ágil e eficaz das operações. Além disso, a redução do desperdício alinha-se com as crescentes preocupações da sustentabilidade, contribuindo para práticas empresariais mais alinhadas com os princípios ESG, o que pode vir a resultar numa cultura organizacional reforçada que promova um verdadeiro “espírito de corpo”. Poderá também diminuir a competição interna e aumentar o esforço colectivo, podendo, em última instância, contribuir para um melhor employer branding. Com efeito, a abordagem minimalista torna a empresa mais atractiva para novas gerações, e pode também satisfazer as pessoas “que já lá estão”, pois vivemos uma fase em que os profissionais procuram organizações com valores claros e uma abordagem consciente – pelo que o minimalismo corporativo pode ser um diferenciador interessante.

Num futuro em que a sustentabilidade e a responsabilidade social são critérios fundamentais de sucesso, a adopção do minimalismo corporativo não é apenas uma tendência passageira, mas uma estratégia duradoura que pode contribuir para promover um crescimento significativo e sustentável.

Perigo deste texto: que o gestor de vistas curtas entenda que minimalismo é o corte de todos os “mimos” que são dados às pessoas nesta época. Ou que seja um gestor de uma daquelas empresas que só proporcionam esses mimos a alguns e assim, “fica justificado”. Ou até, que se façam várias festas de Natal, destinadas a vários “tipos de pessoas”. Minimalismo até pode ser, mas errado. Certo é incorporar esta orientação na estratégia de Gestão de Pessoas.

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