Mudança de carreira, um risco ou uma oportunidade?
Durante onze anos, trabalhei na área financeira de uma empresa multinacional, e não havia dia em que não pensasse que seria mais feliz se trabalhasse noutra área.
Por Márcia Ferreira, CEO Mainvision
No entanto, o trabalho corria bem, tinha estabilidade profissional e financeira, e ia subindo degraus da escala hierárquica. Por conseguinte, essa valorização era um anestésico para a vontade, sempre latente, de trabalhar numa área totalmente diferente: a do marketing e comunicação.
Neste contexto, o tempo vai passando e habituamo-nos às circunstâncias. Em boa verdade, era uma espécie de paz podre, e tinha consciência de que, na empresa onde estava, não conseguiria fazer esta mudança.
A dada altura, a ideia de arriscar começou a tomar forma. Assim, decidi fazer um acordo comigo mesma: tinha um ano para me preparar para sair da empresa e começar um novo caminho.
Efectivamente, tracei um plano, e segui-o à risca. Neste plano, incluí todos os aspectos importantes, desde o planeamento financeiro até ao estudo da nova área e a formação que precisava de fazer.
Quando a altura chegou, estava pronta para dar o salto, com a maior segurança possível. De facto, tudo correu bem e, hoje, sou muito mais feliz a desenvolver eventos na Mainvision do que alguma vez seria onde estava.
A ponderar: muito mais do que a questão financeira
Ao considerar uma transição de carreira, é importante ter em conta alguns aspectos, para garantir que esta mudança seja bem-sucedida.
Mais do que isso, e antes mesmo de aferir os aspectos práticos (financeiros) da transição, há que avaliar se a nova carreira está, de facto, em linha com os nossos reais objectivos.
Com efeito, a primeira coisa a fazer é uma avaliação interna. Ou seja, perceber porque se quer mudar de carreira. Por vezes, não existe verdadeiramente uma vontade de mudar de carreira, mas sim de emprego. Designadamente, por não nos sentirmos valorizados, ou porque o ambiente onde estamos nos causa desconforto.
A par disso, ao ponderar uma mudança de rumo profissional, há que avaliar quais são as nossas habilidades, e que competências são relevantes para o novo ramo de actividade.
Inevitavelmente, é preciso ter disponibilidade mental para aprender novas competências técnicas, e ainda vontade de aprofundar conhecimentos na nova área. Naturalmente, é também obrigatório entender os desafios do sector, bem como as tendências em curso.
Por fim, e com a maior honestidade possível, é preciso perceber se existe a resiliência necessária para uma mudança de rumo. Desde logo, para os inevitáveis desafios que vão surgir, mas também para manter o espírito positivo e a consistência.
Coragem: agir com o coração
Efectivamente, a questão financeira é apenas uma entre muitas outras a considerar, quando se trata de mudar de carreira.
Sem dúvida, é preciso assegurar a viabilidade prática desta mudança. Contudo, aquilo que vai fazer a diferença, nesta transição, é a resiliência e o gosto pela nova área. Por outras palavras, a capacidade de adaptação e a disponibilidade para aprender. Em suma, a motivação para começar do zero.
Naturalmente, isto implica determinação e coragem, e este é um conceito com que me identifico bastante. Afinal, tem na sua origem a palavra «coração», do latim cor, cordis.
Justamente, para ser sustentável e certeira, uma grande mudança – de carreira ou noutra área da vida – tem obrigatoriamente de vir do coração.