Novo modelo de trabalho: Como adoptá-lo?

Numa altura em que se discute o futuro do trabalho, importa reflectir acerca da preferência manifestada pela grande maioria dos profissionais por soluções híbridas, devendo os líderes repensar os actuais modelos em vigor, colocando o indivíduo no centro e projectando o trabalho em seu redor, em prol do bem-estar dos seus colaboradores e da sua produtividade.

 

Por Gonçalo de Salis Amaral, partner da Neves de Almeida HR Consulting, head of Consulting

 

Variados estudos realizados no último ano, nomeadamente os desenvolvidos pela Neves de Almeida HR Consulting – como é exemplo o Índice da Excelência, realizado junto de cerca de 200 empresas nacionais e globais a operar em mercado nacional (www.indicedaexcelencia. com) –, indicam que mais de 80% dos profissionais auscultados desejam um modelo híbrido de trabalho. Da mesma forma, e já considerando a realidade em contexto pandémico, mais de 70% dos inquiridos estão satisfeitos ou mesmo muito satisfeitos com tal prática, independentemente da dimensão da empresa onde o praticam.

Adicionalmente, a esmagadora maioria declara que o trabalho remoto teve um impacto muito positivo, positivo ou mesmo sem impacto na sua qualidade de vida, produtividade e performance do negócio. Mais de 70% consideram que as lideranças se mostraram capacitadas ou muito capacitadas para gerir as suas equipas neste modelo de trabalho.

Verificou-se ainda que os talentos mais relevantes para as organizações, que demonstram maiores níveis de produtividade, também privilegiam o modelo híbrido, e que a grande diferença entre os que se mantêm produtivos em remoto e os restantes não reside nos níveis de stress, mas sim na existência de condições adequadas para que tal produtividade se mantenha, a nível pessoal e por parte da organização. Estas condições vão desde a autonomia no trabalho ao bem-estar físico e mental, passando pela liderança próxima, até ao nível de maturidade digital da organização, que possibilite e suporte tal modelo de trabalho.

Por outro lado, as pessoas que têm a opção de trabalhar em modelo híbrido são capazes de gerir os desafios associados ao seu bem-estar com maior facilidade, apresentam relações fortes com as suas organizações e planeiam permanecer nas mesmas durante mais tempo. Importa ainda referir que mais de 60% das empresas com o maior índice de crescimento e aumento de receita já aplicam este tipo de modelo híbrido.

Estes dados apresentam evidências que não devem ser menosprezadas, pelo que se aconselha aos líderes reflectirem e equacionarem a aplicação de novos modelos de trabalho e, consequentemente, de gestão das suas pessoas, criando as condições necessárias e colocando o indivíduo no centro, projectando o trabalho ao seu redor.

Mas como aplicar um novo modelo de trabalho quando, paralelamente aos dados partilhados, cerca de 70% dos profissionais também revelam que desejam mais colaboração presencial?

Não existe um modelo padrão a implementar, uma vez que dependerá da cultura, das condições disponíveis e da realidade de cada organização. No entanto, existem dois princípios que norteiam o caminho na adopção de qualquer modelo que venha a ser aplicado, começando pela criticidade do alinhamento das lideranças e, por outro lado, pela necessidade de criar as condições adequadas para tal.

Como propulsores de qualquer mudança nas organizações, as lideranças terão de estar alinhadas e convencidas das vantagens e benefícios do modelo que venha a ser adoptado.

Relativamente às condições, há que pensar na vertente de “Pessoas e Processos”, mas também em “Ambiente de trabalho”. Qualquer modelo híbrido que venha a ser aplicado terá de ter em consideração a coexistência de momentos virtuais e presencias, quer seja de forma síncrona ou assíncrona. Assim, haverá a necessidade de dotar as pessoas de competências e conhecimentos tecnológicos e interrelacionais que permitam o manuseamento das ferramentas digitais necessárias, assim como o acesso à informação e adequada interacção, considerando tanto quem está presencialmente, como quem está em remoto.

Da mesma forma, há que estabelecer normas e regras de conduta que assegurem, igualmente, a sustentabilidade destes modelos e o bem-estar dos profissionais. Quem já não vivenciou dias de reuniões seguidas sem praticamente nenhum intervalo? Isto só para mencionar o exemplo mais comum.

Por outro lado, haverá a necessidade de acelerar a digitalização dos processos, tornando-os mais ágeis e exequíveis ou acessíveis em ambos os formatos – presencial e remoto –, caminho que já vinha a ser preconizado anteriormente, sem descurar a segurança ou cibersegurança.

Por último, mas não menos importante, repensar os ambientes de trabalho, para que sejam inclusivos e promovam a colaboração desta variedade de formatos e de perfis.

Em suma, modelos de trabalho híbridos, além de serem os mais desejados, são os que conseguem retirar o melhor das suas pessoas, reflectindo-se numa maior capacidade das organizações em captar e reter os talentos mais relevantes.

 

Este artigo foi publicado na edição de Outubro (nº.130)  da Human Resources, nas bancas.

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