Nuno Troni, Randstad Professionals: Estamos preparados para os desafios trazidos pela IA?

Vamos perder os nossos empregos para robôs e computadores? É uma pergunta que fazemos há vários anos e que faz parte do nosso imaginário colectivo. Um pouco por todo o mundo, as empresas estão a implementar a inteligência artificial (IA) nos seus processos, o que impacta a worforce de uma forma de que nos começamos a aperceber.

 

Por Nuno Troni, director da Randstad Professionals

 

Os dados são, contudo, mais animadores do que poderíamos imaginar: segundo o último Workmonitor, da Randstad, mais de metade das pessoas inquiridas consideram que a IA será uma mais-valia para a sua função actual e não uma ameaça. Apesar de o número de processos de recrutamento que exigem algum tipo de competência em IA ter aumentado por 20 vezes e mais de 50% da força laboral acreditar que estes skills são fundamentais, os dados indicam que apenas uma pequena percentagem (13%) de pessoas teve oportunidade de realizar algum tipo de formação em inteligência artificial.

A maioria (52%) acredita que será mais provável avançarem na carreira do que perderem o emprego por causa da IA, e 47% expressam entusiamo por trabalharem com ferramentas de IA versus 39% que denotam preocupação.

É perfeitamente compreensível que vejamos a IA como uma ameaça à segurança do trabalho. De acordo com o World Economic Forum’s 2023 Future of Jobs Report, a maioria das empresas planeia acelerar a automação de processos, embora também expressem o desejo de transitar trabalhadores de funções em declínio para novas funções. Outros estudos indicam que a adopção de IA implicará o crescimento e não a redução da workforce.

Colocam-se, obviamente, duas questões: será esta transição possível, e onde estão estes novos recursos? A escassez de talento está longe de ser uma novidade, e os programas de upskilling/reskilling têm limitações evidentes. Os dados relativos a learning & development são curiosos e parecem indicar alguma falta de sentido de urgência, as prioridades são management & leadership (24%), wellbeing & mindfulness (23%), com a IA a surgir apenas em terceiro lugar (22%).

Tal como aconteceu com as revoluções industriais que ocorreram, é expectável que a inovação tecnológica seja um criador de empregos em vez de um destruidor, mas não serão seguramente os mesmos empregos e, creio, muito dificilmente os mesmos trabalhadores a acompanharem esta transição. Um sinal preocupante é que dos 13% dos inquiridos que fizeram formação em IA apenas 6% são blue-collar, e se olharmos para os últimos 12 meses, vemos que apenas 20% dos white-collar vs. 41% dos blue-collar não frequentaram qualquer tipo de formação.

À medida que mais e mais tarefas são automatizadas, a ausência de formação vai tornar o mercado de emprego muito difícil para quem ficar para trás. Apesar de a IA estar mais associada a white-collar, a realidade é que todos os trabalhadores podem precisar de competências nesta área – veja- se o exemplo da mecânica automóvel.

O World Economic Forum indica que o mercado global de emprego vai ter um churn de 23%, o que é um impacto nada menos do que brutal, e lança um cenário de incerteza, especialmente para aqueles com funções de maior risco de automação.

Com base nestes dados, a necessidade de formação e desenvolvimento passa a ser praticamente obrigatória. Os trabalhadores esperam que as empresas os ajudem a continuarem relevantes no mercado de emprego, e 37% indicam que mudarão de emprego no espaço de um ano, caso as suas expectativas de formação sejam defraudadas, número que sobe para 47% se olharmos só para a geração Z.

Resta saber se as empresas estão preparadas para um desafio desta dimensão, e como vão desenvolver a estratégia para suportar formação, desenvolvimento e adopção, sendo certo que é apenas uma questão de tempo até a IA ser algo rotineiro em tudo o que fazemos.

 

Este artigo foi publicado na edição de Setembro (nº. 153) da Human Resources, nas bancas.

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