O impacto da pandemia nas empresas em Portugal: do mais difícil de gerir às perspectivas futuras (económica e humana)
Dado o actual contexto, a 30.ª edição do Barómero Human Resources é dedicada em exclusivo ao impacto da pandemia COVID-19 nas empresas, não só na vertente económico-financeira, mas também na vertente humana.
Por Ana Leonor Martins
Depois de termos dado conta da reacção e gestão – inicial – da crise, através do testemunho de responsáveis de empresas de destaque no tecido empresarial, e representativas de diversos sectores (que publicámos na edição de Abril), consultámos agora o painel do Barómetro, composto por cerca de 200 especialistas – maioritariamente directores de Pessoas (75%), mas também presidentes executivos e directores de Marca/ Comunicação e/ ou Marketing (15%), para perceber as consequências, que já se fazem sentir e que se perspectivam.
Começámos por aferir o grau de preparação das empresas. A maioria dos especialistas (39%) afirmou que a sua empresa estava “moderadamente preparada”, mas 33% assumiram que não, com 14% a considerarem que “estava mal preparada”, 3% “muito mal preparada”, mas com 16% a acreditarem que “nenhuma estava preparada”. Não obstante, 27% garantem que a sua empresa estava “preparada” e 1% diz mesmo que estava “completamente preparada”.
Não obstante um em cada três dos especialistas ter reconhecido que a sua empresa não estava preparada para a realidade trazida pela COVID-19, a esmagadora maioria (67%) afirma que conseguiu “conceber e implementar um plano de emergência eficaz”, enquanto 16% desenvolverem apenas acções não planeadas, 13% foram “implementando acções na sequência do que outros foram fazendo” e só 3% dos inquiridos se ficaram pelas “medidas decretadas pelo Governo”.
Sobre o que tem sido mais difícil gerir, para a maioria (37%) não houve dúvidas de que foi “a gestão emocional dos colaboradores”. Mas para 28% dos especialistas foi o “desenvolvimento das competências pessoais necessárias para trabalhar com os condicionalismos actuais”. E uma percentagem ainda significativa – 17% –, teve no “assegurar as condições de higiene em segurança” de quem teve de ir para o posto de trabalho o maior desafio. Assegurar os meios tecnológicos para o teletrabalho ou “encontrar a informação necessária por parte das autoridades competentes” foi referido por igual percentagem de profissionais – 7%.
O teletrabalho foi adoptado – até porque teve carácter obrigatório – por grande parte das empresas, e 68% dos especialistas acreditam que esta mudança “veio para ficar, para a maioria das empresas (ou áreas da empresa) onde isso é possível”. Já 29% perspectivam que essa prática se mantenha só para uma minoria das empresas, onde já existia essa cultura, e só 3% acham que vai ficar tudo igual.
No que respeita aos apoios criados pelo Governo para fazer face à crise gerada pela pandemia COVID-19, 59% reconhecem que têm sido “os possíveis”, mas 24% afirma que são insuficientes. No entanto, 10% defendem que estão “acima das expectativas”, e 7% defendem que são “suficientes”.
Sobre o tipo de medidas mais importantes (e sendo que cada inquirido pode escolher até duas opções), houve uma quase unanimidade entre os especialistas (86%) em considerar que o “apoio extraordinário à manutenção de postos de trabalho (lay-off simplificado)” foi fundamental, seguindo-se as linhas de crédito criadas para as empresas (37%) e a isenção de pagamentos à Segurança Social (24%).
Apesar de os especialistas do painel do Barómetro Human Resources mostrarem preocupação quer com o impacto económico-financeiro, quer com o impacto humano que esta crise irá ter na sua empresa (41%), 40% destacam a preocupação com o impacto económico-financeiro, quando apenas 16% enfatizam a preocupação com o impacto humano. De referir, no entanto, que nenhum dos inquiridos acredita que a sua empresa dificilmente sobreviverá à crise.
Concretizando na vertente económico-financeira, os números são evidentes: 72% não escondem que estimam que o impacto na sua empresa seja “significativo” (43%) ou até “muito significativo” (29%), sendo que nenhum especialista acredita que o impacto será “nulo”. Sobre a vertente dos recursos humanos, 63% admitem que, ao contrário do que tinha previsto antes da pandemia, a sua empresa não irá recrutar em 2020, sendo que só 7% dizem ir manter os recrutamentos previstos. De destacar ainda que 30% dos especialistas reconhecem ter de despedir pessoas.
Já quando questionados sobre por quanto tempo antecipam que se manifestarão os impactos da pandemia COVID-19 na sua empresa, 39% dos inquiridos perspectivam que seja por “mais de um ano” e 29% “até um ano”. Só 4% acreditam que três meses serão suficientes, enquanto, ao contrário, 14% afirmam que “nunca mais será a mesma coisa”.
O XXX Barómetro está publicado na edição de Maio (nº 113) da Human Resources, já disponível online e que chega às bancas amanhã. Conta com os comentário dos especialistas:
– Elsa Carvalho, directora central de Recursos Humanos na Caixa Geral de Depósitos
– Fernando Neves de Almeida, Managing partner na Boyden Portugal
– Luís Moura, director de Recursos Humanos na NOS
– Nuno Troni, director – Professionals, Outplacement, Human Consulting, R.P.O. na Randstad Portugal
– Pedro Raposo, director de Recursos Humanos no Banco de Portugal
– Ricardo Nunes, director de Pessoas e Organização na Novabase
– Sara Fonseca, directora de Recursos Humanos no Santander Portugal
– Susana Silva, directora de Recursos Humanos no El Corte Inglés Portugal