O intraempreendedor alterista: Altruísmo com propósito

Na dança organizacional, há quem tome sempre a iniciativa, dando o primeiro passo em seu proveito próprio sem consideração pelos demais; pelo oposto, também há quem se dedique tanto aos outros que acabe por se esquecer de si. Idealmente, parece fazer sentido “dar e receber”, com propósito, evitando estas posições extremadas. Chamemos-lhe ingenuidade. Ou alterismo?

 

Por Rita Oliveira Pelica, Chief Energy Officer ONYOU & Portugal Catalyst – The League of Intrapreneurs

 

Nem só de talento individual vivem as organizações, e cada vez mais se percebe a importância dos relacionamentos na esfera profissional. Reconhecer esta “inteligência social” como uma competência-chave é vital para os colaboradores, principalmente para aqueles que se identificam como intraempreendedores. Adam Grant, no seu livro “Dar e Receber”, ajuda-nos a perceber que as pessoas, nas organizações, se comportam como tomadores, compensadores ou doadores, com diferentes níveis de generosidade associados.

Os tomadores ou “sacadores” (em bom português) são aqueles que se regem unicamente pela sua agenda e umbigo; não sabem o nome das outras pessoas até ao dia em que “precisam de um favor” – criam “relações” de forma unidireccional, com um único ponto de foco, que é o do seu próprio interesse. Já os compensadores jogam ao “toma lá-dá-cá”, ou seja, só dão algo se receberem algo em troca; estão sempre à espera de uma recompensa pelo seu favorecimento – só dançam consoante a música que toca. Finalmente, os doadores, aqueles que se focam mais no outro do que em si, por vezes até acabando por se penalizar a si próprios, são os chamados altruístas.

Curiosamente, nos seus estudos, Grant constatou que as pessoas mais bem-sucedidas, nas mais variadas carreiras, não são as mais egoístas e implacáveis (vulgo tomadores), nem as que agem com base no “toma lá-dá cá”. As que chegam mais longe são as doadoras, as que dão o seu melhor aos outros sem reservas nem exigências, mas… (entra o som da surpresa e da estupefacção!) os doadores também estão entre os menos bem-sucedidos. Como assim? Venha o momento Aha!

O altruísmo em excesso acaba por ser penalizador e, provavelmente, a maioria de nós já sentiu esta amargura na pele. Saber dar e receber, de forma “inteligente”, é outra coisa, designa-se por alterismo. Ser alterista é saber doar de forma consciente, com um propósito; pessoas alteristas sabem como, quando e a quem ajudar, o que significa que os alteristas ajudam outras pessoas sem prejudicar as suas decisões e os seus próprios interesses – o que é sobejamente diferente do “perfil compensador”. Matematicamente, podemos utilizar a seguinte fórmula: tempo + energia + ajuda = recompensa mútua. Emocionalmente, podemos sentir o prazer por ajudar. Em esforço, desequilibrado, podemos sentir a dor.

Quantos de nós se debatem e desgastam para conseguir dizer “não” aos pedidos interesseiros que nos chegam? Chegam por diferentes vias e formatos (convites?), de forma mais ou menos camuflada, mas manifestamente sem interesse pessoal. É tempo de reconhecer que o tempo tem muito valor e que é impossível e desinteressante dizer “sim” a tudo e a todos. Ser generoso não se resume a satisfazer todas as solicitações que recebemos, aliás muito pelo contrário. Só podemos ser generosos com os outros quando aprendermos a ser generosos connosco, em primeiro lugar; e não sentirmos que nos estamos a afogar num mar de hipersolicitações (pro bono?), presos em folhas de agendas que não são as nossas.

O alterista é um praticante convicto das modalidades de networking, colaboração, influência, negociação e liderança pessoal. E aqui se estabelece o paralelismo com o intraempreendedor, enquanto agente proactivo e relacional: um agente que escolhe as missões a que se quer dedicar, canalizando os seus recursos para esse efeito e, quando necessário, recorrendo a aliados estratégicos.

Por minha escolha e por aprendizagem pessoal e profissional, alterista me confesso. E no seu caso, alimenta-se de favores, ou de boas doses de confiança e de generosidade com limites?

 

Este artigo foi publicado na edição de Junho (nº. 162) da Human Resources, nas bancas.

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