O intraempreendedor: Interessante, interessado e interesseiro

Enquanto estudo cientificamente o tema do intraempreendedorismo, na perspectiva do indivíduo, para a minha tese de doutoramento (sem deixar de ouvir a minha voz interior a dizer: tinhas mesmo necessidade de fazer isto?), pergunto-me: “será que o intraempreendedor pode ser alguém interessante e, simultaneamente, ser também interessado e interesseiro?”

 

Por Rita Oliveira Pelica, Chief Energy Officer ONYOU & Portugal Catalyst – The League of Intrapreneurs

 

Quem são então estes seres complexos, os intraempreendedores? Os mais procurados pelas organizações, os MVP (most valuable players), vão ter aqui o seu perfil traçado com base em três Is (fruto da minha imaginação combinada já com uma boa dose de investigação).

Os intraempreendedores são pessoas naturalmente interessantes, por alguns traços de personalidade que evidenciam (são proactivos, conscienciosos, extrovertidos e abertos à experiência), e também pelas suas características pessoais e recursos que aportam (auto-eficácia, autoconfiança, flexibilidade, autonomia, criatividade, capital intelectual e social, segurança psicológica, capacidade de networking, entre outros). O conceito de Intrapreneurial Self-Capital (ISC – não traduzido intencionalmente) (Di Fabio e Duradoni, 2019) reflecte exactamente esta riqueza pessoal de habilidades, competências e de atitudes, sistematizada em sete pontos-chave: core self-evaluation, hardiness, creative self-efficacy, resilience, goal mastery, decisiveness, and vigilance. É ou não é interessante? E útil, para se navegar nestes mares organizacionais agitados que gritam por inovação.

E como reconhecer que são pessoas interessadas? Esta é fácil de responder. No que fazem, no que as rodeia e no seu “encaixe” (fit) organizacional. O intraempreendedor não se limita à sua definição de funções – ele reescreve-a e adapta-a, é um job crafter (molda o seu trabalho, enaltecendo as suas valências) e um sprinter (corre a milha-extra com agilidade). Não fica “quieto” (não é um quiet stayer – se é que a expressão existe).

Identifica e explora oportunidades. É através da sua percepção, não só do clima organizacional favorável ao empreendedorismo, da boa qualidade da relação empresa-colaborador, do capital social intraorganizacional (assente em confiança, partilha e colaboração), do positivo suporte organizacional, e da existência de sistemas de trabalho e de práticas de recursos humanos que promovam a (alta) performance, que ele faz a “leitura do espaço” e se posiciona.

Estou interessado em investir na minha carreira profissional neste ambiente? Fico, ou não fico? Se fico, dou “mais do que o litro”. E é aqui que as coisas começam a ficar interessantes.

Quando temos interesse em algo, isso faz de nós interesseiros? Sim, ainda bem que sim, e importa falar deste ponto com toda a clareza e transparência. Quem não gosta de incentivos? De natureza monetária, recompensas não financeiras ou reconhecimento? Todos somos motivados por algo. E para o intraempreendedor, saber que o seu esforço é valorizado e reconhecido faz com que fique ainda mais predisposto para ter um comportamento intraempreendedor. A intenção intraempreendedora pode e deve ser capitalizada.

“Vira o disco e toca o mesmo”, mas agora numa vertente organizacional. Pensemos nas empresas que querem atrair e/ou fidelizar talento. Afinal, as empresas também querem ser interessantes, mostrar-se interessadas, embora sejam interesseiras? Quem tiver interesse, que teça considerações adicionais.

 

Este artigo foi publicado na edição de Novembro (n.º 155) da Human Resources, nas bancas.

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