“O jeito para as pessoas” ou a (in)competência formal

Por Teresa Espassandim, Psicóloga Especialista e Consultora

 

Aqui e ali, seja em contextos profissionais, académicos ou sociais vou conhecendo pessoas que gostam de se pensar conhecedoras da mente e comportamento humano, ao ponto de o assumirem até como uma mais-valia diferenciadora, baseando-se apenas e só na sua auto-referenciação. Comumente, descrevem-se como tendo “jeito para as pessoas”. De forma despudorada, ensaiam explicações pseudo-científicas para o que pessoalmente vivenciam ou observam, elencando argumentos falaciosos variados do tipo cum hoc ergo propter hoc (com isto, logo por causa disto) ou post hoc ergo propter hoc (depois disto, logo por causa disto), inventando ou distorcendo factos ou declarando elucidações com hipóteses que não podem ser testadas, entre outras. Se a isto se adicionar um tom convincente e interlocutores inseguros, desejosos de legitimação e fãs de soluções rápidas e indolores para os problemas poderemos encontrar um caldo favorável a não mais que ao senso comum que, como sabemos, é uma forma de conhecimento superficial, assistemático, irreflectido e imediatista, orientado para uma espontaneidade de acções sem aprofundamento.

Mas é em contexto empresarial que mais me surpreende o recorrer-se ao “jeito para as pessoas” ao invés da competência formal, sustentada e desenvolvida com recurso ao pensamento e método científico, à aprendizagem e formação contínua e à verificação e validação por pares profissionais, balizados pelo conhecimento certificado e pela evidência científica disponível. Populam serviços prestados por pessoas que afirmam uma paixão pela psicologia, mas que não são Psicólogos, muitas vezes detentoras de conceitos, modelos, métodos e práticas próprias, enviesadas e enviesando como um guru, e que na realidade parecem padecer do efeito Dunning-Krueger ou superioridade ilusória (pessoas incompetentes autoavaliam-se acima do seu nível de competência), em que a consciência das suas limitações é ténue e arriscada.

O ambiente dos negócios é rápido e volátil parecendo por vezes até reforçar a dimensão intuitiva dos gestores, atolados que estão em milhares de decisões no seu quotidiano. Mas os atalhos nem sempre nos levam a tomadas de decisão acertadas ou livres de erro, como nos evidenciou Daniel Kahneman (Psicólogo laureado com o Prémio Nobel da Economia em 2002) com o seu trabalho sobre o comportamento irracional da gestão do risco pelos seres humanos. No âmbito da gestão estratégica de pessoas, do diagnóstico e desenvolvimento organizacional, da avaliação, prevenção e intervenção nos riscos psicossociais, da promoção do bem-estar e da saúde ocupacional, da selecção, avaliação e orientação de recursos humanos, da motivação e satisfação laborais entre outras, o recurso imprescindível a profissionais devidamente qualificados e com a competência formal para conceber, implementar e avaliar serviços de psicologia – os Psicólogos –  assegura a segurança e a qualidade necessárias, ao abrigo dos princípios éticos fundamentais e da deontologia profissional.

Para mais informação: https://www.encontreumespecialista.pt

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