O “lado verde” de uma petrolífera e de uma empresa de serviços. Duas realidades, a mesma certeza: «A sustentabilidade é uma obrigatoriedade, não uma escolha»

«As empresas cujo core business tem de facto uma pegada de carbono relevante são as que têm a obrigação de liderar a transição energética», defendeu Anabela Silva, directora de Marketing e Comunicação da BP Portugal. E Mariana Canto e Castro, directora de Recursos Humanos da Randstad Portugal, fez notar que, mesmo numa empresa de serviços, é assustadora a “pegada de carbono”. Em mais uma RE(talk), refletem sobre a urgência do foco na sustentabilidade, ambiental e não só.

 

Por Sandra M. Pinto

 

Integrado no tema de Março, sobre “A consciência ambiental e social”, a RE(talk) da passada-feira centrou-se n’ “O lado verde das empresas”. E uma das convidadas representa uma companhia que, sendo uma petrolífera, à partida não está no top os mind quando se fala de empresas “amigas do ambiente”. Para desmistificar esta ideia, Anabela Silva começa por destacar que, para si, «não existe o conceito de empresa verde, existem sim empresas responsáveis. Esta visão permite ter um maior alargamento da perspectiva da sustentabilidade, a qual cobre muitos outros aspectos relevantes, como os direitos humanos, os impactos sociais e económicos ou a ética. Todos eles, de forma conjugada, é que criam valor para ambas as partes», sublinha.

Acreditando que todos estamos cientes de que «vivemos uma emergência climática, realidade que requer uma transição energética rápida, e que faz com que não possamos ir para soluções que demoram muito tempo»,  Anabela Silva realça a necessidade que sentiram de reinventar um modelo de negócio de décadas. «As empresas cujo core business tem de facto uma pegada de carbono relevante são as que têm a obrigação de liderar essa transição energética, porque são elas que conseguem, de alguma forma, fazer a grande diferença nesta questão», defende. «A BP não só pode intervir no sentido de criar uma responsabilidade maior do ponto de vista da consciência ambiental, como, do ponto de vista do nosso core business, temos a responsabilidade, pelo impacto que temos, de liderarmos essa transição energética de uma forma assertiva. Por isso assumimo-nos não como uma oil company, mas como uma energy company.»

 

Mariana Canto e Castro concorda que «temos todos – empresas e pessoas – de ser mais sustentáveis. Efectivamente, parece que há um preconceito quando se pensa que as petrolíferas são mais poluentes do que as outras, e se calhar em abstrato até podem ser, mas isso acresce na responsabilidade que têm em desmistificar essa realidade. Empresas e pessoas, acabam todos por ser poluentes.» Neste sentido – e para diminuir o seu impacto no ambiente, a Randstad mede regularmente a sua “carbon foot print”. «Ainda que sejamos uma empresa de serviços, temos carros de empresa, temos escritórios, consumimos, água, electricidade, papel, e com isso tudo ao fim de um ano ficamos assutados com aquilo que é a nossa pegada. Isso leva-nos a refletir onde é que podemos fazer melhor e de que forma podemos ser mais eficientes e mais sustentáveis», afirma.

 

Sustentabilidade na sociedade e na Gestão de Pessoas

A BP tem feito uma forte aposta na promoção de medidas de sustentabilidade, como é exemplo a compensação das emissões poluentes dos combustíveis. Anabela Silva partilha: «No inicio de 2020, a BP apresentou uma nova estratégia para a empresa, a qual se fundamentava em re-imaginar a energia para as pessoas e para o planeta. Esta é uma missão e uma estratégia muito profunda, que acarreta uma série de iniciativas e compromissos, uma vez que a BP tem a consciência de que tem um papel activo no processo da transição energética».

A pandemia não fez a BP recuar ou desacelerar neste âmbito. «Acreditamos que estamos no bom caminho. Por todo o mundo, reequacionámos o nosso modelo de negócio, e hoje somos uma empresa de energia  focada em soluções para os clientes, o que diz muito de uma empresa que durante anos esteve focada apenas na exploração de petróleo».  A BP está também a promover acções em diversos sectores, «desde parcerias feitas com as cidades e com empresas de energias renováveis».

Na Randstad a sustentabilidade também já faz parte da estratégia de negócio da empresa, como assegura Mariana Canto e Castro. «Somos um dos assinantes do Pacto de Lisboa Capital Verde Europeia, porque o nosso compromisso e com as medidas com as quais nos comprometemos  assenta em conseguir ter um reflexo positivo do nosso impacto enquanto empresa que intervém diretamente na cidade e nos outros pontos do país onde nos encontramos, o que acaba por impactar outras cidades além de Lisboa.»

 

Para além da importância e impacto que assume no negócio, a sustentabilidade das empresas também tem reflexo na Gestão de Pessoas.

A directora de Marketing e Comunicação da BP Portugal faz notar: «Sendo a sustentabilidade parte do ADN da nossa empresa, naturalmente que todas as nossas pessoas têm de estar motivadas para esse tipo de principio. Sendo uma empresa que se assume com o propósito de reinventar a energia para o planeta e para as pessoas, naturalmente que, quer seja aqueles que já cá estão, como todos os que no futuro possam vir a fazer parte da empresa, têm de ser pessoas com este mindset».

Assim, a BP tem a preocupação de ter «pessoas com a agilidade de pensamento para estarem preparadas para a mudança. Isso faz parte de qualquer tipo de mudança», sublinha Anabela Silva. «Se tivermos pessoas ágeis e com valores, teremos pessoas muito mais bem preparadas para embarcar na defesa de uma mova estratégia e de uma nova preocupação.»

Mariana Canto e Castro constata que, «cada vez mais, as gerações mais novas dão muita relevância, não só à sustentabilidade mas também, e sobretudo, à ética. Notamos isso nas nossas pessoas e quando estamos a recrutar. Os colaboradores têm que se identificar com o propósito da empresa. E independentemente do seu core business, todas as empresas podem ter um propósito ético e moral.»

 

Uma questão de cultura

Anabela Silva partilha que esta mudança na BP «é um desafio muito interessante pelo qual a empresa está a passar. Quando a empresa anuncia uma reestruturação do ponto de vista do seu propósito, temos de concordar que foi uma transição enorme, que exigiu que as pessoas se preparassem para trabalhar de forma diferente. A primeiro coisa que tem de existir para conseguirmos envolver os colaboradores é explicar com transparência a mudança que está a ser realizada, pois de outra forma não vamos conseguir agir em conformidade», salienta.  «Só assim as pessoas se vão sentir envolvidas e parte da solução, tornando-se em embaixadores da marca.» E garante que o processo tem corrido bem. «As nossas pessoas perceberam a urgência que existe em a empresa se transformar, pelo que trazem ideias e querem aprender como é que podemos fazer essa mudança a todos os níveis».

Também na Randstad Portugal a adesão dos colaboradores às medidas para fazer da empresa uma empresa mais sustentável tem «sido óptima», assegura Mariana Canto e Castro. «Tem sido um processo fluído, com a integração de todos estes conceitos e valores dentro daquilo que é a nossa cultura empresarial. Isso tem sido feito pouco a pouco com variadas acções de mobilização, muita comunicação interna e muito envolvimento dos nossos colaboradores. Propiciamos que estes temas estejam sempre na ordem do dia.»

 

Onde se situa Portugal nestes temas?

Enquanto duas empresas multinacionais, estão em posição privilegiada para avaliar como Portugal se posiciona no tema da Sustentabilidade. Anabela Silva destaca que aquilo que foi definido até 2050 relativamente ao carbono «foca determinadas iniciativas, surgindo como muito positivo para o nosso país. Já muita coisa foi feita, mas muita há ainda a fazer, mas só o facto de existir um plano que consiga direcionar um conjunto de acções e prioritizar as intervenções da sociedade é de facto muito positivo.»

«Se nos compararmos com outras Randstad do mundo, não estamos nos primeiros lugares do top do bom comportamento nestas questões do impacto ambiental, mas estamos seguramente na metade superior», partilha Mariana Canto e Castro, ressalvando que «ainda há muito trabalho por fazer. O facto de estarmos há um ano em trabalho remoto permitiu-nos repensar uma série de temas, porque tenho a certeza não iremos regressar ao que era antes da pandemia», defende.

Ambas as convidadas concordam que a sustentabilidade será uma obrigatoriedade e não uma escolha para as empresas que querem sobreviver no futuro. «A sustentabilidade é uma licença para operar e isso tem de ser interiorizado» afirma Anabela Silva. E Mariana Canto e Castro conclui: «Vamos chegar a um momento onde não vai existir hipótese de escolha: é assim porque tem de ser.»

 

re)Veja aqui, na íntegra. A moderação foi assegurada por Ana Leonor Martins, directora de redacção da Human Resources.

As re(talks) são uma iniciativa da Randstad em parceria com a Human Resources, promovida desde Março, e estão todas reunidas aqui.

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