O medo paralisa

Por Diogo Alarcão, Gestor

Perante o medo é frequente paralisarmos. É verdade que o medo, e o pânico que frequentemente lhe surge associado, pode levar a ações mais ou menos conscientes. Perante uma situação que nos mete medo podemos reagir enfrentando-a ou fugindo dela. Mas também é frequente o medo levar à inação.
Em contexto organizacional, nomeadamente nas empresas, o medo frequentemente paralisa. Na realidade, todos nós já ficámos bloqueados por diversas situações relacionadas com o medo:

  1. Medo de errar
  2. Medo de decidir
  3. Medo de criticar
  4. Medo de me expor
  5. Medo de pensar (de forma diferente)
  6. Medo de inovar

Se pensarmos no que todas estas atitudes representam para uma organização, é fácil percebermos os efeitos nefastos do medo. Como procuro recordar todos os dias, “errar é humano” e sendo as organizações feitas de pessoas é normal que as próprias instituições errem. Por isso, tenho muita dificuldade em perceber porque teimamos em focar e em julgar o erro alheio. E, já agora, porque tendemos a desculpar e desvalorizar os nossos próprios erros? É tão mais fácil apontar o dedo do que fazer uma autoavaliação…
Mas o medo muitas vezes também paralisa o processo de decisão com tudo o que isto significa para o funcionamento das organizações. Não raras vezes tendemos a protelar decisões porque temos medo das suas consequências, porque não estamos seguros (temos medo) do discernimento que fizemos, porque não sabemos se estamos na posse de toda a informação, porque… porque… porque… É tão fácil arranjarmos razões para não decidir em contexto profissional e familiar ou entre amigos e assim vamos protelando resoluções e acumulando preocupações. Se pensarmos um pouco, iremos rapidamente identificar múltiplas situações de bloqueio e mau estar nas nossas empresas e organizações decorrentes de falta de decisões.
A crítica (a si próprio e ao que nos rodeia) é frequentemente adiada porque temos medo da forma como podemos ser julgados pelos outros: abstenho-me de criticar uma determinada situação porque sou amigo das pessoas envolvidas; calo a crítica porque receio as consequências que a mesma pode ter para mim ou para os visados; protelo a autocrítica porque tenho medo de me confrontar com as minhas próprias dúvidas e fragilidades. No entanto, sabemos que é através da crítica e da oposição de ideias que as organizações e a sociedade têm evoluído. Sem a assunção do erro e sem pensamento crítico o progresso torna-se mais lento.
Tenho frequentemente conversado em família e entre amigos sobre a necessidade de nos expormos aos outros. Aos que me dizem que “não gostam de se expor” contraponho dizendo que não é uma questão de gosto, mas um dever ou, se quiserem, a resposta a um apelo a que todos somos chamados. Expormo-nos no sentido de dizermos o que fazemos é uma forma de dar testemunho e uma fonte de inspiração para muitos. Tenho observado que muitas pessoas que estão envolvidas em projetos de solidariedade social e serviço ao Próximo não se querem expor porque interpretam literalmente a passagem do Evangelho em que se diz “quando deres esmola, não saiba a vossa mão esquerda o que faz a vossa mão direita” (Mateus, 6 1-4). Claro que o ato de nos expormos não deve servir para nos auto vangloriarmos nem para nos auto promovermos. Mas, quando partilhamos o que fazemos estamos a dar testemunho sobre o Bem e isso é muito bom! Se isto é verdade em contexto familiar e social, também o é em contexto profissional. Não é aceitável expormo-nos como forma de nos autopromovermos, mas é importante fazê-lo como testemunho e como meio para tornar as organizações mais humanas e, consequentemente, melhores locais para trabalhar.
Há um outro medo que frequentemente paralisa: o medo de pensar de forma diferente. Em alguns ambientes mais tóxicos, o simples ato de pensar provoca medo. Mas, abstraindo-me desses casos extremos tenho observado que as pessoas ainda têm receio de expressar opiniões contrárias à da maioria e, ainda mais frequentemente, às das chefias. As próprias chefias proporcionam, consciente ou inconscientemente, ambientes propícios a esses medos quando reagem mal a um pensamento crítico e “não alinhado” ou porque, pura e simplesmente, não criam espaços e ocasiões para esses diálogos mais abertos. Mais uma vez, são as próprias organizações que saem prejudicadas. Numa época de enorme escassez de pessoas qualificadas vale a pena refletir quantas delas saíram da minha organização precisamente por sentirem que não tinham espaço para pensar de forma diferente. Promover a diversidade nas organizações não é só uma questão de orientação sexual, género, idade, religião ou raça. Promover a diversidade nas organizações passa também por criar ambientes propícios ao pensamento crítico e divergente.
Por último, penso no medo de inovar que, de certa forma, está associado a alguns dos anteriores. Quantas vezes calamos a nossa sede de inovar com medo de errar, de nos expormos ou de pensarmos de forma diferente? O ato de inovar é expressão de liberdade que, para florescer e ser vivida na sua plenitude, não pode ser limitada pelo medo. Sem uma constante busca de inovação as empresas tendem a paralisar ou a cair em rotinas que levam inexoravelmente à estagnação e, a longo prazo, ao seu definhamento. É, pois, fundamental garantir que não são criados entraves à inovação e que se combate o medo de inovar. Tal não significa que toda a inovação é boa e que todas as ideias inovadoras são exequíveis. Cabe aos gestores decidirem, sem medo, o que pode e não pode ser implementado. Cabe aos gestores e a todos nós garantir que estão criadas as condições e os ambientes que impedem que o imobilismo e a apatia decorrentes do medo se instalem nas empresas e organizações onde trabalhamos.