O Metaverso e a Gestão de Pessoas

Por Valter Ferreira – Marketer, Economista do território, Inovador e Especialista em cidades humanas e inteligente

Antes de entrar no tema começo por declarar que me irrito facilmente com o termo “novas tecnologias”, aliás grande parte da tecnologia que usamos hoje, e que muitos se referem como nova, já existe há mais de 20 anos e continuamos a achar que são novas. Fazendo aqui um comentário algo abusivo, atrevo-me a escrever, e espero que as próximas linhas me dêem alguma razão, que o Zoom, o Teams e outras ferramentas análogas já têm a sua timeline expirada, já pertencem ao passado.

Posto isto estou pronto para entrar no artigo, e começar com uma pergunta, responda antes de continuar a ler:

 > Está preparado para ser um avatar?

Em pós-pandemia, e quando o debate assenta em qual o melhor modelo para o regresso a 100% aos postos de trabalho – totalmente remoto, híbrido ou totalmente no escritório – começa a surgir um quarto figurino, levado aos holofotes mediáticos pela mudança de nome da empresa de Marck Zuckerber – refiro-me ao Metaverso, e à capacidade deste nos transportar das duas dimensões de uma janela de Zoom ou Teams para a tridimensionalidade da realidade virtual.

Neste Metaverso o trabalhador não utiliza apenas a Internet, ele faz parte da Internet. Imaginemos que independentemente do local físico onde cada um de nós individualmente está, naquele momento estamos virtualmente no mesmo espaço de trabalho, através de realidade virtual, a desenvolver documentos, reunir, fazer apresentações ou simplesmente a ter uma conversa ou tomar um café.

Mas o que é o Metaverso? No sentido restrito podemos ir à origem da palavra, ou seja, “para além do universo”, em sentido mais lato falamos da possibilidade de trabalhar, brincar e socializar na Internet em espaços 3D partilhados que são ambientais virtuais.

O modelo de trabalho que a pandemia potenciou é essencialmente em duas dimensões, vídeo e áudio, e, como tal, contranatura do comportamento humano, no nosso dia-a-dia nós mexemos a cabeça, orientamo-nos para a pessoa com quem falamos, temos som a chegar de vários ângulos, a aproximar-se ou afastar-se consoante o nosso posicionamento, ou seja, a tela 2D do ecrã não nos permite uma experiência imersiva, e é aqui que o Metaverso joga as suas cartas mais fortes, com o forte apoio tecnológico da realidade virtual pode colocar o trabalhador no centro da ação, no lugar que comumente ocuparia no escritório.

A capacidade de colocar um par de óculos e entrar num novo mundo virtual não é apenas um excitante conceito de entretenimento, ainda que as aplicações ao mundo de trabalho derivem do mundo do gamming. Sendo a predominância neste domínio um potencial obstáculo à sua expansão, pois facilmente pode ser entendida como algo para jogos. No entanto, o grande objetivo será a convergência entre o mundo físico e o digital.

O Metaverso irá ajudar as pessoas a organizar o método como as pessoas trabalham de forma mais produtiva, especialmente no que concerne ao trabalho colaborativo e ao corte na duplicação de esforços.

Com o seu próprio Metaverso as empresas oferecem aos seus trabalhadores um espaço comum, mesmo que todos estejam em locais físicos diferentes (país, cidade, etc.) naquele momento estão todos a partilhar a mesma experiência, seja um edifício, uma sala partilhada ou um gabinete, no limite até os clientes e outros visitantes podem “entrar” nestes espaços, reduzindo a necessidade de deslocações para reuniões, com o Metaverso estão criadas as condições para a cessação da presença física que favorece a troca de informação ao mesmo tempo que evita a perda da identidade cultural da empresa e do sentimento de pertença por parte dos trabalhadores.

A criação de ambientes de trabalho no Metaverso visa também a promoção da diversidade, equidade e inclusão, pois coloca todos em pé de igualdade no acesso à informação, aos colegas e à gestão/gestores.

Os espaços virtuais são imunes às oscilações dos casos da COVID-19 e principalmente não existe necessidade de verificar passes sanitários.

Mas o que acrescenta o Metaverso à gestão das pessoas?

  • Conveniência, as deslocações ficam no passado, as interações serão digitais e igualmente eficazes.
  • Novas oportunidades, funções que anteriormente necessitariam de interação em pessoa podem passar a ter opções virtuais, aumentando a possibilidade de expansão do autoemprego e do trabalho à distância;
  • Controlo da gestão como um problema, dependendo da regulamentação que possa vir a existir, a gestão terá acesso a todo o que o trabalhador faz, a linha da privacidade terá que ser analisada;
  • Ao nível da formação também desempenhará um papel fundamental, transportando formador e formado para uma sala virtual, onde se poderá praticamente garantir o foco na formação e eliminar um dos momentos em que o “multitasking” não deve ser uma opção;
  • Também e de um modo mais leve pode o Metaverso criar oportunidades de relaxe através da criação de «um bar ou sala de refeições onde os trabalhadores se encontram e interagem como no mundo real.

É necessário ter presente, que por muito promissor que este presente/futuro possa parecer, que estamos nos primeiros passos, ainda vão existir muitas falhas, e muitas tentativas e erros, até que possamos criar uma melhor e mais agradável experiência do “trabalho de qualquer lugar”.

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