O papel social das empresas

Por Ricardo Florêncio

Começa a ser cada vez mais difícil adjectivar os tempos em que vivemos actualmente em Portugal. Há um clima de agitação social, com inúmeras greves e contestações a diversos níveis, muito resultante das dificuldades acrescidas com que a população se defronta, fruto do aumento de custo de vida, mas também deste clima de instabilidade e incerteza. Na educação, na saúde, nos transportes, e noutros diversos tipos de serviços, muita coisa não funciona.
Somos confrontados diariamente com casos de corrupção e de situações mal explicadas, que fazem com que as pessoas não entendam afinal o que se passa. E até instituições que deveriam ser inabaláveis, e que deveriam ser baluartes de valores, se vêm confrontadas com muitas situações que em nada abonam a seu favor.
Existe uma quebra de valores que leva a uma certa destruturação da sociedade em geral. E, deste modo, as empresas aparecem como o último refúgio, o último recurso, as estruturas que podem responder às dificuldades das pessoas, para questões de índole pessoal, individual, financeiro, de saúde, etc. Vêm-se assim a ser chamadas a desempenhar um conjunto de papéis, muito para além do que era habitual, reforçando decisivamente o seu papel social.
Paradoxalmente, estas situações acontecem num momento em que as empresas são cada vez mais atacadas, em que apresentarem lucros é quase obsceno, em que aparecem como a causa de todas as situações negativas que afectam a vida das pessoas. Não faz sentido. As empresas – grandes, médias, pequenas – são o motor da nossa economia, empregam milhões de pessoas, e, conforme tenho referido, pessoas e empresas são as duas faces da mesma moeda.
As empresas, na medida das suas possibilidades, têm reforçado substancialmente o seu papel social, apoiando as pessoas a diversos níveis, quer a nível financeiro, quer com outros tipos de apoios que visam contribuir para a melhoria do seu bem-estar, como todas as questões relacionadas com o tema tão premente e importante da saúde mental, quer implementando medidas que facilitam a sua vida familiar e o seu equilíbrio.
Se há situações de injustiças, de algum tipo de especulação, corrijam-se. Mas não se generalize este sentimento de que as empresas são a causa de todos os males, pois isso não é verdade.

Editorial publicado na revista Human Resources nº 147, de Março de 2023