Opinião: Aprender sobre os 3Rs: renascer, reconstruir e resiliência

Pedro Ramos, administrador executivo da Groundforce Portugal e conselheiro editorial da Human Resources, traduz numa linguagem empresarial o que aprendeu na sua última incursão a Hong Kong.

 

Quem disse que Hong Kong era apenas uma cidade extraordinariamente grande e cheia de luz? Já agora, quem disse que esta é apenas uma “capital de consumo” e onde a rede de transportes funciona como nenhuma outra? E que os habitantes de Hong Kong têm um aspecto físico oriental com traços ocidentalizados sempre rodeados de muitos gadgets?

Pois, descobri nesta minha segunda visita, uma Hong Kong muito diferente do que “se diz por aí” e rapidamente percebi que esta é mesmo a cidade dos 3 Rs… Quer ver porquê?

“R” de Renascer [saber nascer de novo]:

A história de Hong Kong está marcada por vários momentos históricos que implicaram uma profunda adaptação a mudanças… Alterações impostas por culturas dominantes, implementação de novas formas de organização dos próprios conceitos de sociedade… Senão vejamos: à cultura ancestral chinesa foi imposta uma cultura dominante inglesa (que decorreu durante vários séculos). Mesmo durante este período, várias tentativas de invasão foram levadas a cabo: os holandeses tentaram invadir Hong Kong sem sucesso! E, já bem recentemente, em 1941, o Japão invadiu Hong Kong e impôs, à força, uma nova soberania, cultura, organização política. A soberania haveria de voltar às “mãos inglesas” até que, já no final do séc. XX, a soberania haveria de passar definitivamente para a China, através de implementação de um Estatuto Especial de “Região Autónoma”. E as pessoas? As pessoas mostraram, em cada momento, uma capacidade extraordinária de adaptação à mudança, uma forte orientação para o sucesso e crescimento, bem visível naquilo que hoje a cidade representa – o melhor de todos os mundos…

E estamos a falar, claramente, de algo que vai muito além do isotérico (ou espiritual). Refiro-me mesmo ao que no dia-a-dia se consegue materializar. O excelente nível de vida, o saber estar e divertir-se, o ter objectivos na vida para si e para os outros…

Saber renascer – encontrar novas fontes (renovadas) de adaptação aos novos desafios que os contextos específicos nos apresentam, sempre apostados num crescimento sustentado – é uma das grandes lições que adquiri nesta minha incursão pela história e vida de Hong Kong.

 

“R” de Reconstruir:

Hong Kong é, ainda hoje, uma cidade em construção. Em construção física… Mas senti uma enorme vontade de trazer do exterior [esta gente viaja imenso pelo mundo à procura de novas ideias… Não há “cidadão médio” que não fale sobre as suas viagens ao estrangeiro (sobretudo Europa e Estados Unidos)] ideias para implementar na sua terra. Interessante o facto de ser uma população sobretudo jovem, que conhece muito bem o seu passado (encontrei o Museu de História de Hong Kong, gratuito, cheio de gente local…], mas que aposta numa nova centralidade da sua terra em relação ao mundo… (Re) construir literalmente a sua cidade (em obras de crescimento), mas sobretudo “reconstruir-se” como Pessoas e Grupos… Obter novas aprendizagens, conhecer novas realidades, novas oportunidades de crescimento.

Aprendi que, apesar de julgarmos (quase) terminado o nosso trabalho, isso pode ser apenas o começo… Há que continuar a avançar. A fazer crescer… A “adquirir” mundo, e mais mundo… A coragem de sair da (habitual) zona de conforto, adquirir e trabalhar novas e menos novas competências e, sobretudo, perder o medo e… Mudar! O desconhecido pode ser um lugar tão longe… aparentemente… mas tão perto se crescermos em relação à nossa visão do mundo…

 

“R” de Resiliência:

A melhor descrição que alguma vez li sobre o que é “resiliência” tem a ver com o facto desta poder ser comparada a uma vara usada pelo atleta que “salta à vara” [Ups! já me está a “saltar o texto” para os jogos olímpicos…]. Na verdade, a “resiliência” tem a mesma propriedade física que a tal “vara do salto à vara”, ou seja, é a capacidade de se adaptar e até “moldar ou ajustar” à realidade específica, sem que perca no final a sua forma inicial. Ou seja, em termos muito “pragmáticos”, a dita vara até pode dobrar-se um pouco devido ao contacto com o solo para produzir o balanço para o salto, mas nunca muda no seu formato inicial.

Isto é, claramente, ter a capacidade de adaptação, de interacção com as várias realidades (nem sempre fáceis ou “benignas”), mas manter os seus princípios basilares de coerência, de resistência, de ética, de integridade… E isto pode ser observado nestas gentes, certamente devido ao seu conceito de vida de ascendência oriental. Profundamente marcados por factores relacionados com as tradições dos seus antepassados, e apesar do profundo contacto e apropriação dos valores mais ocidentais, mantêm fortes convicções relacionadas com o respeito por si e pelos outros, pela importância dada aos mais idosos na sociedade, pela procura de “comemorar” conquistas colectivas mais do que individuais.

E, não deveria ser assim nas nossas equipas e organizações? Não deveríamos assumir princípios (colectivos) comuns apostados na procura de atingir objectivos, sem que isso não signifique fragilizar, oprimir, impor simplesmente? A resiliência pode ser trabalhada de muitas formas, e ajustada à necessidade de cada pessoa e de cada equipa, mas a necessidade de mudar não significa necessariamente apagar tudo… Adaptar-se, realinhar-se, recentrar-se no que é/passou a ser o mais importante, exige de todos nós renovadas formas de construir futuros, consolidando o melhor que adquirimos no passado. Não existe visão individual de sucesso sem a capacidade de adaptação e de resposta interna e externa como contributo para o sucesso de todos.

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