Opinião: Temos que ter tempo para parar
A pressão a que estamos sujeitos no dia-a-dia deixa-nos pouco tempo e, sobretudo, pouco tempo para parar. É necessário voltarmos a dar “tempo ao tempo”.
Por Diogo Alarcão, CEO da Mercer Portugal
Os prazos apertados, a necessidade de cumprir metas e objectivos, a pressão para decidir rapidamente ou, pura e simplesmente, a nossa incapacidade para gerir prioridades e expectativas empurra-nos frequentemente para uma espiral de irritabilidade e ineficácia que, mais cedo ou mais tarde, gera sentimentos de frustração e infelicidade; isto é, empurra-nos para antecâmaras de burnout.
Mas tudo isto pode ser evitado se soubermos “parar para pensar”. O desleixo com que gerimos o nosso tempo explica muitos dos males de que nos queixamos: não tenho tempo para os filhos, não tenho tempo para a família, não tenho tempo para estar com os meus amigos; não tenho tempo para tratar das minhas coisas; não tenho tempo para planear a minha vida…
Obcecados pelo material, quer seja no sucesso profissional ou na acumulação de riquezas, dedicamos pouco tempo e damos pouca atenção aos bens imateriais dos quais, um dos mais preciosos é, sem dúvida, o “nosso tempo”. E o pior é que muitas vezes usamos o tempo como “fuga para a frente” em vez de instrumento para o “encontro e partilha”.
Quanto tempo dedicamos a nós próprios?
Quanto tempo dedicamos para pensar sobre o sentido e propósito do que fazemos?
Quanto tempo dedicamos a contemplar ou simplesmente “estar”?
Provavelmente nenhum, ou muito pouco, porque aceitamos, sem questionar, a lógica de que “tempo é dinheiro”. Será? Creio que não! O tempo gera certamente riqueza mas para tal tem que ser vivido de forma inteligente e sempre como um meio e não como um fim. Isto é, a gestão do meu tempo deve ajudar à prossecução dos objectivos e metas que me foram definidos, mas tem também que servir para alcançar o propósito da minha vida. Se o tempo servisse apenas os bens materiais, poderíamos aceitar que “tempo é dinheiro”; mas o tempo é uma benção ou, se quiserem, um bem muito mais valioso do que qualquer outro que o dinheiro possa comprar.
É pois necessário voltarmos a dar “tempo ao tempo”; não numa lógica de que o fluir dar-nos-á razão ou reporá a verdade mas numa lógica de auto-conhecimento e auto-regulação. Se começarmos a deixar, ainda que pouco-a-pouco, tempo para parar e reflectir, vamos certamente encontrar mecanismos que nos protegerão do stress, da ineficácia, da irritabilidade e da frustração.
Parar não é morrer. Parar é renascer para uma vida com mais sentido, mais equilibrada e mais feliz. Quando decidirmos ser melhores curadores do nosso tempo, seremos certamente melhores profissionais, menos sujeitos ao stress e mais felizes.
Sei que é difícil, mas vale a pena tentar… e não desistir!
Este artigo foi publicado na edição de Fevereiro da Human Resources.
Veja também estes artigos.