Os Costumes dos Brasileiros – A Happy Hour

Opinião de Isabel Moisés

Directora de RH, Heineken Brasil

O gosto dos brasileiros por festa, alegria, confraternização, música e cerveja, é tão natural que é como se o conceito de Happy Hour tivesse sido inventado neste País imenso.

A Happy Hour pode ser patrocinada pela empresa, e existe na maioria delas, todas as semanas, religiosamente às 17:00 de cada sexta-feira, dentro de portas ou num bar ou restaurante próximo (que foram criando pacotes e preços especiais para as Happy Hours para dias especificos da semana), ou, simplesmente, ser, expontaneamente, um encontro regular de colegas, ex-colegas ou de amigos, algumas vezes às quinta-feiras, outras vezes, às sextas feiras.

As Happy Hours duram em média 2 horas. A bebida tipica da Happy Hour é a cerveja. Que pode ser acompanhada de ameindoins, caju, batatas fritas ou petiscos mais elaborados quando sai fora do patrocínio da empresa e tem por intenção quase substituir o jantar.

No Brasil, nenhuma empresa tem de montar um sistema sofisticado de comunicação para o lançamento de uma Happy Hour regular. A adesão dos colaboradores brasileiros às Happy Hours é automática e não questionada. As empresas que as promovem são mais desjadas do que as restantes. E aquelas que têm possibilidade de o fazer dentro de portas, como a Heineken Brasil, são, só por isso motivo de admiração.

O que se faz afinal numa Happy Hour, para além de beber uma boa cerveja bem gelada (ponto de nterrogacao em falta) ..conversa-se com os colegas, sobre temas variados que vão desde o fim de semana que se avizinha e os programas a fazer, o futebol, as férias, a praia, as viagens, o exercício físico que todos praticam de alguma forma, os novos filmes, o novo restaurante que abriu, as tricas sobre as “paqueras ou as baladas” mais animadas, e claro, temas de trabalho, também e muito! Mas sempre num ambiente de descontração que facilita até a resolução de alguns problemas e impasses entre áreas ou colegas.

Na Happy Hour não se vê ninguém com pressa de ir embora. Aliás, é dificil ver um brasileiro demonstrar pressa. As horas são entendidas em aproximação. Mesmo numa cidade cosmopolita e de negócios como São Paulo assiste-se a uma tolerância natural para quem não está há hora marcada. A justificação vem muitas vezes do inesperado estado, mas quase sempre caos, em que o trânsito se encontra. Mas até os brasileiros admitem que quem quer estar a horas consegue, só tem de mudar a atitude e antecipar os atrasos provocados pelo trânsito. Por isso não é o trânsito que justifica não estar presente na hora marcada. É antes uma atitude naturalmente flexivel para com as horas. Que, diga-se a seu favor, não é desprovida de benefícios no que respeita à diminuição dos níveis de stress e ansiedade. É evidente que as generalizações são perigosas. Nomeadamente no mundo empresarial (aqui diz-se ‘corporativo”) as regras são definidas pelo perfil da empresa (nacionalidade do capital) ou da liderança. Nesses casos, há todo um trabalho de clarificação das regras da empresa que, quando bem feito e com tempo, é entendido por todos os colaboradores e cumprido como qualquer outra orientação ou política da empresa.

Parecido com a naturalidade e previsibilidade das Happy Hours, os brasileiros da grande cidade de São Paulo têm também alguns outros costumes, bem regulares, e que atravessam todas as classes económicas, e dos quais gostava de destacar para já a saída no Domingo à noite para comer Pizza em família ou com amigos. Nas famílias mais tradicionais, o almoço de sábado é em casa da Mãe (muitas vezes a famosa feijoada) e o jantar de domingo é Pizza, fora ou dentro de portas!

Tudo isto demonstra a diversidade de origens e hábitos que se cruzaram intensamente na história ainda tão curta deste grande país. A abertura e flexibilidade vêm da história. Da necessidade de convivência entre pessoas com hábitos distintos e histórias de nacionalidade tão diferentes.

Pode parecer que São Paulo pode ser uma síntese curta do resto do país. Não concordo. Em São Paulo manifesta-se o efeito do processo de migração de todos os outros Estados do Brasil. Nos últimos anos muitos foram os brasileiros que deixaram de emigrar à procura de melhores condições de vida e passaram a migrar para a grande cidade do desenvolvimento do seu próprio País. Adaptam-se ao movimento da grande cidade mas não perdem os hábitos e costumes das suas terras de origem. São Paulo acaba por beneficiar de toda essa riqueza. E, a mim, faz-me nunca a descrever como a cidade do betão e do trânsito como é por muitos conhecida.

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