Paulo Rosado: A cultura e o propósito como factores de diferenciação

Paulo Rosado acredita que a cultura da OutSystems e a sua proposta de valor, enquanto empregador, são bastante fortes. Assumem como missão mudar o mundo e, mais do que um emprego, é isso que os colaboradores procuram.

 

Por Ana Leonor Martins

 

Foi a «vontade de criar algo novo e a certeza de que a transformação tecnológica tinha um potencial tremendo em todas as áreas de negócio» que levaram Paulo Rosado a, em 2001, apostar na criação da OutSystems. «Tive a sorte de estar em Silicon Valley numa altura em que as chamadas novas tecnologias e a Internet serviam de base à criação de novos negócios praticamente todos os dias, alguns deles completamente disruptivos, que se tornaram depois grandes empresas à escala global, como é o caso da Amazon», recorda. Na altura, trabalhava na Oracle como engenheiro informático.

Sendo fácil perceber, «naquele ambiente frenético e altamente exigente, o potencial que a tecnologia tinha», a certa altura, colocou-se a questão que fez o CEO da OutSystems mudar tudo: «Ou aceitava uma das muitas propostas que qualquer engenheiro informático recebia na altura por parte de startups ávidas por ideias, que nos prometiam o céu; ou me mantinha onde estava com um trabalho estável, relativamente bem remunerado, mas sem grande hipótese de me desviar daquele workflow extremamente bem oleado; ou arriscava directamente num negócio meu, no qual pudesse colocar em prática todas as ideias e projectos que a tecnologia me fazia adivinhar.» A escolha, já sabemos qual foi. Voltou a Portugal, arriscou e criei a sua própria empresa. «O início não foi fácil, mas o tempo mostrou que tomei a decisão certa», acredita. Com a empresa avaliada em mais de um milhão de dólares, ninguém terá dúvidas disso.

 

Em Silicon Valley anteviu o potencial da transformação tecnológica, mas, em Portugal, há quase 20 anos, ainda não estava propriamente na agenda dos empresários. Quais as principais dificuldades que encontrou na OutSystems?

Podemos falar em três tipos de dificuldades. Primeiro, precisamente o facto de a maioria das empresas daquela altura não ver a tecnologia como um investimento, mas sim como um custo, o que dificultava a percepção real das mais-valias e a noção de rentabilidade. Havia já um despertar de grandes empresas da banca, das seguradoras e das telecomunicações para uma corrida à inovação, mas estávamos ainda numa fase com pouca massa crítica no mercado.

Depois, a chamada bolha tecnológica à escala mundial acabou por inviabilizar muitos negócios, travar projectos já em andamento e criar ainda mais receio nos decisores – empresários e políticos. Por fim, o cenário não era propriamente o ideal para apresentar ideias disruptivas baseadas em tecnologia, apesar de sabermos serem perfeitamente viáveis e seguras, mas que os decisores não conseguiam vislumbrar e perceber a médio e longo prazo.

Não era, de todo, o cenário ideal para o surgimento do que hoje chamamos de uma startup, mas, contrariando todos estes sinais, acreditámos nas nossas ideias, formos persistentes e os projectos começaram a surgir.

 

Actualmente o ecossistema é mais propício ao surgimento de startups, principalmente na área tecnológica, mas não é menos verdade que a maioria não ultra- passa os cinco anos. Qual diria ser o principal “segredo” para a longevidade?

Existem vários factores que podem ajudar a determinar a continuidade ou não de uma nova empresa que surge no mercado. No caso da OutSystems, a nossa persistência e o facto de acreditarmos muito naquilo que tínhamos em mãos foram fundamentais para nunca desistirmos do projecto. E ainda bem que não o fizemos. Acreditar realmente naquilo que estamos a apresentar ao mercado, e saber que é algo que pode efectivamente fazer a diferença, é fundamental para determinar se o projecto pode ou não ser bem-sucedido.

 

A Intervento, o seu projecto anterior, vendeu, mas a OutSystems já atingiu a maioridade (18 anos). O que continua a mantê-lo motivado neste projecto, avaliado em mais de mil milhões de dólares?

A motivação acaba por chegar de vários lados e ainda bem! Chega da pressão que o próprio mercado coloca, obrigando- -nos a uma inovação constante. Também chega do potencial tremendo que vemos no low-code que, arrisco a dizer, o coloca no topo das soluções tecnológicas para as próximas décadas; é também uma enorme fonte de motivação a história da própria empresa, as dificuldades ultrapassadas e a forma como te- mos conseguido levar este projecto; e claro que o espírito livre e o entusiasmo
dos nossos colaboradores é, por si só, suficiente para motivar-nos a todos, independentemente da valorização que a OutSystems vai conseguindo.

 

Estando há quase duas décadas a trabalhar para ajudar os clientes a inovar mais rapidamente, através do recurso à tecnologia, acredita que as empresas já estão despertas para o imperativo da transformação digital? Que evolução percepciona no mercado?

Não é sequer comparável com 2001. Hoje, a maioria das empresas estão perfeitamente despertas para a necessidade de uma transformação digital e de apostar em ferramentas digitais como parte do ADN do seu negócio, seja qual for o sector.

O desafio agora coloca-se na falta de agilidade e de rapidez das soluções tradicionais de desenvolvimento, o que é uma verdadeira barreira a essa mesma transformação. Soluções de desenvolvimento ágil de software, como as da OutSystems, são a melhor resposta, já que permitem poupanças significativas de tempo e dinheiro no desenvolvimento de projectos online e mobile. Acredito que as empresas estão cada vez mais sensibilizadas para a verdadeira transformação que o low-code vai trazer aos seus negócios.

 

A OutSystems tem feito um estudo sobre a maturidade das empresas portuguesas em termos de transformação digital. O que destacaria dos resultados?

O relatório “The State of Application Development 2019” teve como base inquéritos efectuados a 3300 profissionais de Tecnologias de Informação (TI) de empresas de todas as dimensões, em  todos os tipos de indústria e a nível mundial, incluindo 253 respostas de profissionais de TI de empresas portuguesas, ou que estivessem a operar em Portugal.

Creio que, no resultado deste estudo, é de salientar o facto de mais de metade das empresas portuguesas terem aumentado as suas equipas de desenvolvimento e estarem acima da média na transformação digital. São cada vez mais organizações que tendem a apostar no outsourcing para o seu desenvolvimento de aplicações. E a adopção do low-code foi significativamente maior entre os entrevistados em Portugal, com 63% a referirem ter já aderido a este tipo de tecnologia, o que mostra que em Portugal existe uma forte consciencialização de como a transformação digital pode ajudar negócios de várias áreas a prosperar e a destacar-se da concorrência.

Leia a entrevista na íntegra na edição de Julho/Agosto da Human Resources.

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