Pedem-me notícias do Martim!

Por Joana Russinho, People Enthusiast, head of Human Resources

Na perspectiva do Martim, as coisas estão a correr bem. Porém, na minha visão, poderiam estar ainda melhores. Quando vos contei a história do meu amigo, referi aquilo que percepciono como preconceitos ainda existentes em quem procura talento. Mas não é só de quem procura e recruta talento. Estes clichés provêm também de todas as pessoas que, por variadíssimas razões que a si só dizem respeito, percepcionam as novas entradas para a “sua empresa” e para “a sua equipa” como uma ameaça.

Poucos dias depois da sua estreia, o Martim percebeu que nem todos estavam tão receptivos quanto ele esperava. Alguns colegas pareciam distantes e pouco dispostos a colaborar, trabalhando em equipa, enquanto outros demonstravam claramente a sua desconfiança, mantendo-se como expectadores silenciosos.

A situação foi desafiadora. Ao fim das duas primeiras semanas de interacção, com participação activa nas reuniões, troca de ideias e contributos de valor, confidenciou-me sentir-se como se estivesse sempre um passo atrás, a lutar contra as sete ondas de percepções negativas antes da calmaria. Sei que o COO o ajudou e continua a apoiar, tentando equilibrar as expectativas e as preocupações das outras direcções, com a necessidade de manter o Martim motivado para provar o seu valor. Este líder sabe que a diversidade de perspectivas e experiências é fundamental para o sucesso da empresa, mas persuadir os outros a encararem a nova contratação dessa forma não foi/é tarefa fácil.

Enquanto isso, nos corredores da empresa, as percepções menos positivas em relação ao Martim persistiam entre alguns terceiros. Alguns viam a sua presença como uma ameaça ao status quo individual, temendo que ele pudesse superá-los ou questionar práticas estabelecidas. Outros simplesmente não estavam preparados para derrubar ideias pré-concebidas sobre supostos fossos geracionais.

Mas o Martim não é de desistir. Com o tempo, a sua determinação e profissionalismo começaram a fazer a diferença. Vai certamente encontrar aliados entre aqueles que estão dispostos a dar-lhe uma oportunidade e que valorizam o mérito mais do que o status quo. Entre aquelas que rapidamente perceberão que vão ganhar, e muito, com as novas aprendizagens que vão ter. Estou certa de que, aos poucos, as barreiras começarão a desfazer-se e as primeiras impressões darão lugar ao reconhecimento das suas competências, e também dos proveitos individuais.

Percebo agora que esta não é apenas uma história sobre a jornada individual do Martim, mas sobre o poder da resiliência, da empatia e da abertura para novas ideias e perspectivas. É uma história sobre diversidade e inclusão, num local de trabalho onde não pensaríamos plantar estas duas palavras. Será uma história sobre a superação de preconceitos e a construção de uma equipa mais forte e inclusiva, onde cada membro será valorizado por quem é e pelo que de bom acresce ao negócio.

O Martim vai continuar a sua trajectória na empresa, e essa trajectória será uma lição para todos porque o verdadeiro valor de uma pessoa não pode ser medido por estereótipos ou percepções superficiais, mas sim pelo que ela traz consigo e pelos resultados que é capaz de alcançar quando lhe é dada a oportunidade de brilhar.

Nota da autora: é muito relevante que as empresas invistam em programas de formação e sensibilização sobre diversidade e inclusão. Não apenas dizer que cumprem. Ao promover uma cultura organizacional que valorize e respeite as diferenças, não só estão a criar um ambiente de trabalho mais harmonioso, mas também a maximizar o potencial criativo e inovador das suas pessoas. A formação para a diversidade e inclusão não só ajuda a combater preconceitos e estereótipos, mas também promove a empatia, a escuta activa, a compreensão mútua e a colaboração entre colegas de diferentes origens e perspectivas. O que tem um grande impacto não apenas no tecido social dentro da empresa, mas também na capacidade de a organização dar resposta às necessidades de clientes cada vez mais diversificados e globais.

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