Pedro Ramos, TAP Air Portugal: «Pandemia ou pandemónio na gestão de pessoas em 2021?»

Na edição de Janeiro da Human Resources, Pedro Ramos, director de Recursos Humanos da TAP Air Portugal reflectiu sobre o impacto da pandemia na Gestão de Pessoas. Leia o seu testemunho.

 

«Numa altura em que voltamos ao (quase) ponto inicial dos impactos da pandemia na Gestão de Pessoas nas nossas empresas, importa reflectir se será mesmo à “estaca zero” dos processos e das acções da Gestão de Pessoas… Isso seria voltar, não ao início da pandemia, mas ao reforço do pandemónio associado.

Meses de experiência recentes (meses profundamente intensos!) vieram agregar experiência e muita aprendizagem numa lógica de “tentativa e erro” que possibilitam um “plus”, independentemente dos novos impactos da pandemia nas nossas vidas e empresas, no que à Gestão de Pessoas diz respeito.

Assim, transformar muitos dos passos realizados anteriormente em contexto “forçado” como o teletrabalho ou modelos possíveis de formação e comunicação nas empresas, foi a grande “missão” da Gestão de Pessoas, e existem hoje novos caminhos (aprendidos) que se transformaram de “forçados” em “desejados”. Refiro-me a novos modelos já em curso nas nossas empresas de trabalho remoto e/ou trabalho híbrido “desejado” (e não obrigatório), nas alterações dos modelos formais de horários de trabalho, nos processos de reorganização dos espaços físicos de trabalho na generalidade das empresas, ou na flexibilização das equipas de trabalho do tipo “intermitente” que permita a alocação ou não de membros de equipas consoante as necessidade do momento.

Em termos pragmáticos, serão tarefas da Gestão de Pessoas em 2021 a construção de métricas e KPI [key performance indicators] para trabalho remoto, de grelhas de registo e encaminhamento de ocorrências e respectivas definições de soluções efectivas, bem como a simplificação dos processos de recrutamento e selecção, a flexibilização dos processos de gestão do desempenho integrando novos modelos de relacionamento entre chefias e colaboradores, ajustados aos novos contextos. E que dizer dos modelos de recompensas em vigor nas empresas? Chegou o momento de se voltar a repensar em modelos individualizados ajustados a cada colaborador! A pandemia está a reforçar as semelhanças entre as pessoas, mas também a diferenças entre as suas percepções sobre os conceitos de recompensa ou reconhecimento.

Normalizar os modelos (novos) de gestão das emoções e da saúde física e mental nos contextos de trabalho, trabalhando internamente a gestão dos “medos” e a amplificação efectiva e pragmática de novos modelos de confiança – colaboradores e líderes confiáveis e confiantes – com o reforço das práticas de ligação ao negócio e mercado, bem como aos clientes, trabalhando-se as melhores relações de confiança de forma dual entre Pessoas enquanto colaboradores e clientes, parece ser um dos maiores desafios para 2021.

A renovação dos modelos de comunicação interna e de estimulação de “proximidade” entre os vários colaboradores, entre si, e entre estes e os clientes, bem como um reforço sobre o papel da autoliderança e do intraempreendedorismo são também essenciais.

Igualmente, um dos maiores desafios será o de começar a rever os principais processos de Gestão de Pessoas, tornando-os mais ágeis e adaptados, em contextos de flexibilidade total, sendo o desafio o de passar, definitivamente, de um “agile thinking” para um efectivo “agile doing”.

Conceber e montar o tal “mundo híbrido” é outro dos maiores empreendimentos da Gestão de Pessoas para 2021.

Por último, a necessidade de se construir um novo “Guião da Gestão de Pessoas” que, passando pela simplificação de vários processos e a revisão de outros ajustando-os ao novo contexto de pandemia e pós-pandemia, estará sobretudo focado na construção e adopção de um novo “vocabulário compartilhado” por todos os membros da empresa, que se materialize em novos discursos internos e externos, novas palavras de ordem e ideias-chave a serem utilizadas por todos (alimentadas pelo “mágico” propósito comum) e que, no fim do dia, se transforme num novo “roteiro” da Gestão de Pessoas na empresa.

Enfim, espera-se que 2021 seja o momento em que se percorre o caminho do (re)foco “dos processos às Pessoas” e isto é, sobretudo, uma necessidade prática. As empresas que o não façam podem muito bem correr o risco de, em vez de gerirem as suas pessoas em contextos de pandemia e pós-pandemia, vivam momento de acentuado pandemónio.»

 

Este artigo faz parte do tema de capa da edição de Janeiro (121) da Human Resources, nas bancas.

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