Philip Allmendinger, Forward College: «O ensino superior tradicional não está a cumprir o seu papel; não deve ser sobre o que pensar, mas sobre como pensar»

Para Philip Michael Allmendinger, recém-nomeado director académico da Forward College e ex-vice-reitor da Universidade de Cambridge, o ensino superior tradicional não está a cumprir o seu papel e aponta várias razões para tal. Em conversa com a Human Resources Portugal deixa um alerta: «Os desafios que enfrentamos e as necessidades do mercado de trabalho exigem todo o espectro da nossa inteligência.»

Por Tânia Reis

 

Com mais de 25 anos de experiência no ensino superior no Reino Unido, o professor defende que um ensino de classe mundial deve centrar-se numa série de inteligências para além da puramente cognitiva. O ritmo de mudança no mercado de trabalho e os actuais desafios assim o exigem: um pensamento não disciplinar ou limitado, mas sim aberto e imaginativo. E é esse o foco da faculdade internacional, a funcionar em Lisboa desde 2021.

 

Assume agora a função de director académico da Forward College, que objectivos traçou para si próprio?

Existem alguns objectivos institucionais claros em relação à experiência e ao recrutamento de estudantes, bem como em relação ao recrutamento e desenvolvimento de professores. Se queremos ter um ensino de classe mundial, precisamos de professores de classe mundial. Falando com os nossos académicos, eles vêm para a Forward College devido à experiência que adquirem ao ensinar pequenos grupos e pelo facto de conhecerem os estudantes. Também vêm porque recebem apoio e tempo para prosseguir a sua investigação.

O meu papel é apoiar e concretizar estes objectivos. Mas, para mim, a Forward é mais do que isso – trata-se também de fazer algo diferente e de proporcionar uma alternativa à corrente dominante. Por isso, o meu outro objectivo é garantir que também cumprimos essa meta. A nível pessoal, quero contribuir tanto a nível estratégico como operacional.

 

Que desafios espera encontrar?

Suspeito que haverá muitos. Criar e desenvolver algo novo e disruptivo terá sempre desafios, mas aquele do qual acredito que todos devemos estar conscientes é o de não esquecer a fantástica oportunidade que a Forward proporciona para sermos diferentes. Esta necessidade de manter um sentido de distinção e de oportunidade deve nortear tudo o que fazemos.

 

Num cenário de acelerada transformação do mercado de trabalho, qual o papel do ensino superior? 

Sempre tive a forte convicção de que o ensino superior não deve ser sobre o que pensar, mas sobre como pensar. O ritmo de mudança no mercado de trabalho e os desafios que enfrentamos como espécie exigem um pensamento que não seja disciplinar ou limitado, mas aberto e imaginativo. Para enfrentar estes desafios, precisamos também de recorrer a uma série de inteligências para além daquela puramente cognitiva. É por isso que a Forward se centra nas inteligências humanas – cognitiva, emocional, social, tecnológica, técnica/prática.

 

Está o ensino superior tradicional a cumprir esse papel? O que é necessário mudar?

Não. As principais instituições de ensino superior têm dificuldade em evoluir e adaptar-se por várias razões (dimensão, governação, cultura disciplinar e expectativas). No entanto, os governos regulamentam e estabelecem cada vez mais objectivos para as instituições de ensino superior em termos de investigação, ensino e intercâmbio de conhecimentos, que também desviam o olhar das necessidades dos estudantes e da sociedade para atingir os objectivos.

 

O que torna o modelo educativo da Forward College diferenciador?

O modelo da Forward resulta de um equilíbrio entre inovação e tradição. Concebido em conjunto por mais de 60 especialistas europeus com experiência no ensino superior e no local de trabalho, o currículo baseia-se na excelência académica britânica com cursos desenvolvidos sob a direcção académica da London School of Economics and Political Science (LSE), bem como do King’s College London, e é sustentado pela nossa inovadora formação em Liderança que

sa desenvolver as inteligências social, emocional, prática e tecnológica dos estudantes. Também dá ênfase a um novo formato educativo, mais envolvente e experimental, baseado no ensino de turmas pequenas (15 alunos por turma, em média), na sala de aula invertida e em rigorosos tutoriais académicos e de âmbito pessoal.

 

O vosso programa de três anos leva os estudantes a três capitais europeias, Paris, Berlim e Lisboa. Além da óbvia experiência intercultural, quais as principais vantagens que aporta aos futuros profissionais?

Acredito muito na abertura – uma mente e coração abertos são a base da curiosidade. Novas experiências e culturas estimulam a curiosidade.

 

A instituição aposta em três tipos de inteligência – prática, social e emocional. Porquê e quais as mais-valias?

Os desafios que enfrentamos e as necessidades do mercado de trabalho exigem todo o espectro da nossa inteligência. O modelo tradicional de liderança de cima para baixo já não funciona: as taxas de empenho dos trabalhadores, mas também dos cidadãos, estão a cair a pique. A liderança de amanhã tem que ver com participação e empenho, com a mobilização de pessoas com diferentes competências e origens em prol de um mesmo objectivo.

Temos de continuar a ser muito exigentes no que respeita à formação intelectual, que é fundamental para compreender a complexidade. Mas temos de a complementar com a famosa abordagem “aprender fazendo”. Sair das salas de aula. E experimentar o desenvolvimento de projectos, de protótipos, mas também a colaboração com a sociedade civil e com diferentes culturas.

 

Além das competências técnicas, que soft skills considera fundamentais nos profissionais do futuro e como as desenvolvem na instituição?

O nosso Programa de Liderança fornece aos estudantes as competências de que eles e a sociedade precisam cada vez mais – empreendedorismo e desenvolvimento digital e pessoal. Os estudantes desenvolvem-nas em paralelo com os seus programas académicos. Aprendem a aplicar design thinking aos seus objectivos e recebem formação para melhorar as suas competências digitais, de modo a aumentar o potencial do seu impacto. O programa inclui também sessões de desenvolvimento pessoal (gestão do stress, tomada de decisões, gestão e controlo das emoções…) e sessões de coaching individuais.

Uma vez por ano, os alunos participam numa avaliação 360 que lhes permite obter informações valiosas de várias pessoas da sua rede, incluindo pares, professores, amigos e colegas. Esta avaliação gera um relatório 360 que lhes permite identificar os pontos fortes e as áreas de desenvolvimento, facilitando a criação de um Plano de Desenvolvimento Individual.

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