Por que as pessoas se ligam aos trabalho e às organizações?

Por Isabel Moço, coordenadora e professora da Universidade Europeia

Abrimos o ano de 2023 com o desaparecimento de um dos mais extraordinários académicos no domínio do comportamento organizacional: Edgar Schein. Para os mais afastados da academia e da produção científica, mas também da aplicação dos seus contributos, Edgar Schein deixou-nos um precioso entendimento da forma como as pessoas e as organizações se relacionam.  Da socialização de adultos, às carreiras, seus estádios e âncoras, passando pela gestão de equipas, muitos foram os estudos que nos deixou, onde destacamos a sua teoria sobre cultura organizacional – de há muito na agenda dos gestores de pessoas. Desde que me comecei a interessar pelos temas do comportamento organizacional, e que conheci Edgar Schein, na altura já com muita idade, que recorro frequentemente às suas abordagens sobre cultura organizacional, que definia como um conjunto de pressupostos básicos inventados por um coletivo de pessoas em contexto organizacional, que lhes permite aprender e lidar com as situações que vão ocorrendo. Esses pressupostos, são um conjunto de princípios e valores que são considerados válidos, reproduzidos para os novos integrantes desse coletivo, dão  orientações sobre como perceber, pensar e sentir a sua presença e contributo dentro dessa organização, mas também o retorno que podem obter. Para Schein, a cultura tem vários níveis, do mais superficial e visível, onde encontramos os comportamentos, por exemplo, passando por um nível intermédio onde as normas e os valores, os códigos, as orientações que servem para orientar as pessoas são importantes, até a um nível mais profundo, onde residem as crenças e os comportamentos enraizados, os ideais, os propósitos e que nem sempre tem uma formalização. Ora, alertava o autor, que entidade que procure “parecer o que não é”, entidade onde aquilo que faz seja dissonante dos seus fundamentos mais críticos, mais cedo ou mais tarde, haverá de ter consequências. Em matéria de diversidade, nomeadamente no enquadramento de seniores, ou 50+ se quisermos, há muitas.
Em todos os seus trabalhos, Edgar Schein tinha como preocupação dominante, explicar as razões pelas quais as pessoas se ligam, ou não, às organizações, defendendo a importância das condições das pessoas, as suas competências e os seus conhecimentos, por exemplo, mas também os seus objetivos e orientações de conduta, que devem ser alinhados com a cultura da própria organização. Neste âmbito, um dos seus temas preferidos, centrava-se nas carreiras que as pessoas fazem – carreiras, não do ponto de vista da gestão de recursos humanos, mas do ponto de vista psicossocial, portanto, o(s) caminho(s) que as pessoas fazem nos contextos de trabalho. E para fazer estes caminhos, as pessoas podem ligar-se, genericamente, de três formas, ao trabalho e às organizações:

  • Ligação transitória – a pessoa posiciona-se face ao trabalho e às empresas, entendendo-os como um espaço de crescimento e desenvolvimento para se habilitar a passos diferentes e mais relacionados com as suas expectativas;
  • Ligação por missão – quando a pessoa se liga a uma organização pelo desafio, pelo projeto ou pela oportunidade de alcançar determinado tipo de resultados, pessoais e/ou para a organização, mas de que se separa quando se esgotam as possibilidades de evolução ou o projeto está a terminado;
  • A ligação para a vida – quando, para além da relação com o trabalho e com a empresa, existe uma ligação afetiva, com um dos fatores ou com ambos, em que o trabalhador vive intensamente todas as fases dessa relação/vida, pretendendo continuar com essa relação e não se vislumbrando numa outra relação.

Retomando Schein, que nos deu conta de uma listagem de âncoras de carreira, aquilo que nos liga ao trabalho e às organizações, e nos faz querer ficar, é curioso como se pode fazer de imediato a relação entre qualquer uma destas opções, as âncoras e as diferenças entre as gerações, nomeadamente no último tipo de relação “a ligação para a vida”. Também em homenagem a Edgar Schein, que nos deixa com mais de 90 anos e continuamente a produzir, retoma se a questão dos 50+ e o modo como muitos, já afastados da vida ativa, se referem à organização, aquilo que muitas organizações hoje desejariam ter nos discursos, na atitude e nos comportamentos dos seus trabalhadores – claramente numa postura “ligação para a vida”. Edgar Schein, os empregadores bem poderiam agradecer-lhe os contributos que nos deixou,  reconhecendo que os 50+ são trabalhadores desejáveis, disponíveis e que, certamente, podem continuar a ser uma grande mais-valia para as organizações de trabalho. Um agradecimento a Edgar Schein e um alerta para os empregadores.