Por que temos de ser todos doutores e engenheiros?

A resposta é: não temos. Mas é uma questão cultural que perdura em Portugal. E enquanto persiste – e se agrava – a falta de perfis especializados, que não exigem uma formação ao nível do ensino superior, outros há com um “canudo” que de pouco lhes serve.

Por Ana Leonor Martins | Fotos Nuno Carrancho

 

O tema da escassez de pessoas tem sido repetido até à exaustão, sempre que se fala de desafios para as empresas. Mas há funções em que, por serem altamente especializadas, o panorama é ainda mais dramático. E a questão não é salarial visto que algumas destas funções são tão bem pagas como as funções tecnológicas. Um estudo do início do ano mostrou que um estivador – que ocupou o primeiro lugar das profissões sem formação superior mais bem pagas – pode ter o mesmo patamar salarial de um big data specialist ou software engineer, por exemplo. Por outro lado, continuam a existir cursos vazios nas universidades, o que mostra a desadequação à realidade do mercado de trabalho.
O tema da formação, tal como o da atracção e fidelização de talento, é um dos temas críticos do momento, dentro e fora das empresas. Porque «criar um país saudável e competitivo começa na base, na educação», e porque o tema da requalificação – que vai até às lideranças – é absolutamente incontornável nas organizações. Um terceiro tema que os especialistas consideram que continuará na ordem do dia em 2023 é o da saúde mental.
O debate sobre a semana de quatro dias de trabalho, com um projecto-piloto para a sua implementação (no sector público e privado) a ser discutido em Concertação Social, também promete continuar, mas neste âmbito há quem considere que, não sendo prioritário no momento, é também “começar a casa pelo telhado”, com as melhores telhas, mas sem paredes de qualidade que o suportem.
O almoço do Conselho Editorial da Human Resources realizou-se no Vila Galé Ópera, em Lisboa, a convite de Gonçalo Rebelo de Almeida. Estiveram presentes os conselheiros: António Henriques (Grupo CH); Nuno Ferreira Morgado (PLMJ), Nuno Troni (Randstad), Pedro Fontes Falcão (ISCTE Executive Education) e Pedro Rocha e Silva (Neves de Almeida HR Consulting).

Artigo publicado na Revista Human Resources n.º 143, de Novembro de 2022, nas bancas.