Portugueses de Sucesso no Mundo, Hugo Teixeira da Silva: Gerir à distância, através de um estilo colaborativo
Uma carreira internacional não estava nos planos de Hugo Teixeira da Silva, mas aquilo que era para ser um projecto internacional pontual acabou por se tornar uma realidade permanente. Não esconde que nem tudo tem sido um “mar de rosas”, mas aos 43 anos era já managing director de uma empresa, com sede na Alemanha. Mantém a função, mas agora exerce-a a partir de Portugal.
Por Ana Leonor Martins | Fotos Walteer Henri
A primeira experiência internacional foi em Berlim e «teve tanto de gratificante, como de desgastante», confessa Hugo Teixeira da Silva. Da Alemanha passou para os Estados Unidos, daí para o Reino Unido, e depois voltou à Alemanha. Consegue facilmente identificar a “pior experiência” internacional, mas em todas consegue reconhecer ensinamentos. Biólogo de formação, “trocaria” a investigação científica por um percurso nas empresas, mas sempre ligado à área da Saúde, nomeadamente a Indústria Farmacêutica. Desde 2010 que tem tido sempre uma carreira internacional e hoje, apesar de não trabalhar nem numa empresa portuguesa nem para o mercado português, é a partir de Portugal que lidera a Leadiant GmbH.
Tendo formação em Biologia, chegar a executivo de topo não será a evolução de carreira mais comum. Sempre quis estar ligado às empresas, mas mantendo a ligação à área da Saúde, mais em concreto à investigação ligada a doenças?
Apesar de ter acontecido pouco depois de terminar a minha licenciatura, a decisão de abandonar a investigação científica e ingressar na Indústria Farmacêutica foi bastante pragmática e aconteceu num curto espaço de tempo. No final dos anos 90, talvez esta não fosse uma opção de carreira para muitos licenciados em Biologia, mas sou de uma família ligada à Medicina e a realidade da Saúde sempre foi uma presença constante, pelo que me pareceu uma mudança natural.
Inicialmente, o que me moveu foi a curiosidade pela investigação ligada a áreas como a Oncologia, em particular porque se estavam a dar os primeiros passos no desenvolvimento de terapêuticas moleculares dirigidas e as empresas estavam – e estão – na linha da frente dessa investigação e desenvolvimento.
E porquê o Marketing, área em que se especializou, na qual começou o seu percurso e à qual ainda mantém ligação?
Tive a oportunidade de começar num departamento médico, passando depois para a área Comercial, onde estive cerca de quatro anos. A atraccão pelo Marketing farmacêutico surge numa lógica de integração. Os desafios, em particular no lançamento de produtos inovadores e/ou novas indicações, são muito diversificados, e vão desde a selecção, treino e acompanhamento das equipas, a definição, implementação e interpretação dos estudos de mercados, passando pelo trabalho com todas as funções e departamentos da empresa, os agentes de saúde e em alguns casos os representantes dos doentes. Essa transversalidade torna a função única e, de facto, muito diversificada, o que me agrada, pessoal e profissionalmente.
Na liderança da Leadiant GmbH, que ocupa há cinco anos, quais têm sido os principais desafios?
Os desafios da Leadiant são os das empresas que actuam em áreas de nicho: acima de tudo – e por oposição às corporações –, o facto de existir menor número de recursos, especialmente humanos, significa que cada colaborador concentra mais responsabilidades. E, atenção, que não vejo isso como uma desvantagem, pelo contrário! A oportunidade para diversificar competências é uma realidade. Aliás, diria que essa condição talvez seja o maior atractivo de empresas como a Leadiant, onde, por inerência, há mais oportunidades para explorar outras áreas, com o Market Access, no meu caso, e ter um contacto mais directo com o board of directors e os accionistas, resultado de uma estrutura com menos níveis e, consequentemente, menos hierarquizada.
E, ao nível da Gestão de Pessoas, em particular, quais têm sido os principais desafios?
Diria que o principal desafio numa empresa deste tipo está relacionado com o número limitado de possibilidades de progressão. A gestão das expectativas de progressão de um colaborador, quando se tem um pipeline e um portefólio de produtos limitado, é sempre mais desafiante. No entanto, a nossa rotação é bastante baixa e temos um número muito significativo de colaboradores, tanto em Inglaterra, como na Alemanha, a permanecer na empresa desde o início.
Que prioridades assume neste âmbito?
A prioridade é assegurar que todos estão informados sobre a situação da empresas e que criamos oportunidades para colaborar noutras áreas, no sentido de aumentar as valências do grupo e criar redundâncias. Recentemente, uma das nossas colaboradoras, a desempenhar funções na área de Qualidade, começou a colaborar na área de Marketing, enquanto frequenta um programa de Executive MBA numa universidade alemã – integralmente apoiado pela empresa. Aliás, este caso não é único, tendo eu próprio beneficiado desse apoio quando frequentei o the Lisbon MBA.
Voltando um pouco atrás… Em 2010, foi trabalhar para Berlim, no que, acredito, terá sido a sua primeira experiência internacional. Como surgiu a oportunidade? Ir para fora era um objectivo?
Foi, de facto, a minha primeira experiência internacional a tempo inteiro, porque as empresas onde trabalhei sempre desenvolveram projectos colaborativos de âmbito internacional.
Uma carreira internacional não estava, de todo, nos meus planos. Até porque sempre fui feliz – e sentia-me realizado profissionalmente – a trabalhar para o mercado nacional. Este projecto surgiu da partilha com outros países europeus metodologia que eu e a minha equipa Bayer desenvolvemos em Portugal. Começou por ser um projecto de seis meses, mas fui participando noutros, e fui ficando. Até que concorri a uma posição global em Berlim e fiquei definitivamente.
O que melhor recorda dessa experiência? O que diria que foi mais desafiante, a adaptação profissional ou pessoal?
Essa experiência teve tanto de gratificante como de desgastante! Mas do que mais gostei, além do orgulho em poder partilhar algo original que tínhamos desenvolvido em Portugal e que estava a ganhar tracção para ser implementado noutros países, foi a oportunidade de trabalhar com outros colegas, noutras realidades tão diferentes da nossa. Sem dúvida, a adaptação pessoal foi a mais desafiante, porque é muito difícil conciliar a vida privada com uma função que requer que estejamos em permanente movimento.
(…)
Hugo Teixeira da Silva licenciou-se em Biologia – ramo científico – pela Universidade de Évora, tendo trabalhado após a licenciatura no Instituto de Oceanografia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) como bolseiro de investigação. Ingressou depois na Indústria Farmacêutica, na AstraZeneca, onde desempenhou, primeiro, funções de CRA (Clinical Research Associate), na monitorização de ensaios clínicos da área respiratória, depois uma experiência na área de Oncologia, como delegado hospitalar, seguindo-se a oportunidade de lançar, como Product manager, um medicamento (na altura) inovador no tratamento do cancro do pulmão. Ainda na área Comercial/Marketing, trabalhou na Astellas Portugal, como responsável pela área de Transplantação.
Em paralelo, «e fruto da necessidade de compreender uma linguagem em tudo diversa da Biologia», frequentou o PAGE da Universidade Católica de Lisboa, uma pós-graduação em Marketing Management, no IDEFE/ISEG, e um mestrado em Marketing no ISEG. No final da parte curricular do mestrado, integrou a Bayer Portugal, como responsável da equipa Comercial e de Marketing da área de Oncologia. É ainda alumni do the Lisbon MBA, tendo completado o Executive MBA no The Lisbon MBA Católica | Nova, em 2021.
A partir de 2010, Hugo Teixeira da Silva passou a dividir o seu tempo entre Portugal e a Alemanha, enquanto director global de Marketing, até se ter mudado para os EUA, onde viveu até Março de 2014. Em Abril do mesmo ano, concorreu à posição de head of International Marketing numa empresa de biotecnologia, sediada em Inglaterra, com foco em Oncologia e Doenças Raras. Desde 2017, desempenha funções na Leadiant Biosciences como head of International Marketing & Market Access, bem como funções de managing director, numa empresa independente do grupo – Leadiant GmbH.
Leia a entrevista na íntegra na edição de Agosto (nº.140) da Human Resources, nas bancas.
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