Sofre de ansiedade financeira? Saiba o é (e o que fazer)

Inflação, subidas das taxas de juro, aumento do custo de vida e incertezas em relação ao futuro são motivos mais do que suficientes para qualquer um sentir ansiedade. Porém, quando esta experiência se torna intensa, prolongada no tempo e inadequada, surgem as perturbações de ansiedade. A Deco Proteste explica como identificar os sintomas e os passos a seguir. 

 

Sentir ansiedade é uma experiência comum nos seres humanos e essencial à sua sobrevivência, já que funciona como um “mecanismo de alerta” que sinaliza alguma ameaça. Uma situação de crise económica pode desencadear estes mecanismos de alerta de uma forma excessiva, já que a nossa capacidade económica é fundamental para a nossa sobrevivência.

 

Sintomas de perturbação da ansiedade

A crise actual, na passagem de uma situação de emergência sanitária, como a pandemia, para uma situação em que a economia mundial se ressente com a guerra, tem impactos negativos na saúde mental. Quando o stress associado à crise económica leva ao desenvolvimento de ansiedade que persiste no tempo e tem impacto na funcionalidade, estamos perante uma situação patológica. A perturbação da ansiedade manifesta-se, geralmente, em pelo menos três dos seguintes sintomas:

  • inquietação ou sensação de estar no limite;
  • sentir-se facilmente cansado, com dificuldades de concentração, irritabilidade e tensão muscular;
  • e perturbações de sono.

As pessoas com esta perturbação relatam angústia devido à preocupação constante e a consequente diminuição do seu funcionamento social, profissional, ou outras áreas importantes.

 

Estudos associam problemas económicos a ansiedade

Dados de 2020 revelam que pelo menos metade da população portuguesa (49%) reportou impactos psicológicos moderados ou severos durante a fase inicial da pandemia. Este número, provavelmente, terá aumentado desde então. Pensa-se que a actual crise socioeconómica terá mais impacto em áreas como:

  • desemprego, precariedade laboral e perda de rendimento;
  • pobreza e exclusão social;
  • desigualdades no acesso a cuidados de saúde (física e mental);
  • e literacia (digital e não só).

Mas é difícil prever os verdadeiros danos causados por esta conjuntura. Ao contrário das crises económicas anteriores, estamos perante a confluência de várias situações de crise que terão um efeito cumulativo negativo na saúde mental e resiliência das comunidades.

Estudos realizados após a última grande crise financeira, de 2008, mostram uma associação entre piores indicadores económicos e a deterioração da saúde mental. O problema atingiu particularmente homens, e registou-se um aumento significativo de suicídios, também mais prevalente no sexo masculino. Apesar de as mulheres terem uma prevalência geral mais elevada de ansiedade, os homens parecem apresentar piores resultados durante estes períodos de crise (aumento de 16%-16,2% para 11,3%-16,6,%, respectivamente, entre 2008 e 2009).

Outros estudos compararam dados pré e pós-recessão e mostram um agravamento do estado de saúde mental das populações inquiridas, não só no aumento da prevalência de perturbações mentais mais comuns (ansiedade e depressão), como de perturbações de uso de substâncias. Em Portugal, houve um crescimento de 30% dos casos de depressão entre 2011 e 2012, com um aumento de 8% na venda de antidepressivos e estabilizadores do humor durante esse ano. Os portugueses reportaram níveis mais elevados de stress e um decréscimo na sua qualidade de vida: 38% tinham problemas de sono.

Indo além dos novos casos que surgem na sequência das crises, é importante focar as pessoas que já enfrentavam problemas de saúde mental e que estavam, por isso, mais vulneráveis à exclusão social. Um período de recessão económica pode ser particularmente difícil para estas pessoas, uma vez que alguma evidência aponta para taxas mais elevadas de desemprego entre pessoas com problemas mentais durante esses períodos.

 

Ansiedade: como tratar?

A ansiedade é uma emoção normal em determinadas circunstâncias, podendo, no entanto, constituir uma perturbação que merece tratamento. Actualmente as principais categorias de tratamento para a ansiedade são a farmacoterapia e a psicoterapia, que parecem conduzir a ainda melhores resultados quando combinadas.

A ansiedade excessiva pode ser equilibrada com actividades que tragam alívio de tensão, ou mudança de foco das preocupações tais como o exercício físico, o relaxamento ou a meditação. A gestão do stress do dia-a-dia, com respeito pelo tempo, pelas horas de descanso e de sono, pode também contribuir para prevenir que a ansiedade atinja níveis nocivos.

Se a ansiedade causada pela actual conjuntura económica está a impactar no seu dia-a-dia (e na sua saúde) procure uma consulta com o seu médico de família. Ele avaliará a situação e poderá referenciá-lo para uma consulta de psiquiatria ou psicologia, se necessário.

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