Preparar os jovens para o futuro: ir além da sala de aula

Nos dias de hoje, a transição dos jovens do ambiente académico para a vida profissional levanta questões fundamentais sobre a adequação da formação que recebem. Será que estamos a prepará-los para os desafios do mundo real? A resposta, infelizmente, tende a ser negativa, sobretudo quando consideramos a complexidade do desafio, que vai muito para além da obtenção de um diploma.

Por Manuel Moreira da Silva, presidente do Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto

A preparação para este momento não começa, no entanto, com o ingresso no ensino superior. Acontece muito antes, e inclui uma diversidade de actores como a família, a comunidade, o sistema de ensino, o desporto, o associativismo, o grupo de pares, as redes sociais, entre outros. A família, em particular, surge como o primeiro espaço de aprendizagem e de desenvolvimento pessoal. A comunidade e o sistema educativo complementam essa aprendizagem, oferecendo um ambiente onde se desenvolvem e consolidam competências cognitivas, sociais e emocionais.

Cada um daqueles actores contribui para formar a base sobre a qual o ensino superior constrói uma educação mais especializada e técnica que, por norma, se alinha com o mercado, a sociedade, as suas exigências e expectativas.

Ao entrar no ensino superior, os jovens encontram um ambiente onde se espera que adquiram competências técnicas e específicas numa área que lhes permita construir uma identidade profissional útil para a sociedade.

É neste momento que as universidades e politécnicos desempenham um papel crucial, ao oferecerem uma formação contemporânea e actualizada nas chamadas hard skills, cujo ensino é orientado para a resposta às transformações tecnológicas e sociais.

Mas hoje é claro que não basta formar profissionais tecnicamente competentes. Para que os jovens estejam realmente prontos para serem bem-sucedidos num mundo em constante mudança, necessitam de ir muito além do domínio técnico de uma área de estudo.

Competências transversais, como comunicação, liderança e trabalho em equipa, são essenciais para que se adaptem a um ambiente de trabalho cada vez mais dinâmico e colaborativo.

Todos reconhecemos que a capacidade de articular ideias de forma clara e eficaz, negociar, gerir conflitos e inspirar outros é um factor decisivo para o sucesso em qualquer domínio. Não menos importante é a capacidade de pensamento crítico e criatividade, que permite aos jovens enfrentar desafios de forma inovadora, respondendo às exigências de um mercado global e competitivo.

Na área da comunicação, essas competências são ainda mais cruciais. A comunicação eficaz, seja ela verbal, escrita ou visual, é o elo que liga equipas, inspira acções e impulsiona mudanças.

Neste sentido, a formação em soft skills é fundamental para que os jovens se tornem não apenas profissionais competentes, mas também líderes capazes de influenciar e gerar impacto.

No entanto, o desenvolvimento destas competências é muitas vezes negligenciado. A solução passa claramente por aprofundar a formação nestas competências, incentivando a participação em projectos interdisciplinares, estágios profissionais e pelo desenvolvimento de uma mentalidade de aprendizagem contínua. A implementação de práticas pedagógicas mais focadas em simulações de cenários reais pode também contribuir para aquele fim e aproximar os jovens da realidade que enfrentarão fora da academia.

Preparar os jovens para a transição para o mercado de trabalho implica a oferta de uma formação holística capaz de dotar os jovens com as ferramentas necessárias para lidar com um mundo digitalizado e em constante evolução, e aptos a contribuir para uma sociedade mais inovadora, consciente e equilibrada.

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