Programa de mentoria distingue empreendedoras ucranianas

Após três meses em estado de choque com a invasão da Ucrânia e a fuga para Portugal, Oksana knyshuk, decidiu reagir e ajudar outras mulheres na mesma situação. Ligada ao desporto, criou um estúdio de fitness, através do qual quer melhorar a comunicação entre as refugiadas.

 

O projecto está já a funcionar parcialmente, em Almada, onde vive, mas para expandir o negócio, adquirir equipamento e contratar mais duas professoras, também ucranianas, precisa de financiamento: 8000 euros foi o orçamento inicial que estabeleceu para apetrechar o espaço e mantê-lo em funcionamento.

«Há falta de comunicação entre as mulheres ucranianas refugiadas aqui. Vejo isso no Telegram. Quero ajudar outras mulheres ucranianas, mas o objectivo depois é abrir também para portuguesas», revelou à agência Lusa, pouco depois de apresentar o projecto em português, numa sessão realizada no Centro Jean Monnet, em Lisboa, em que a língua de trabalho foi quase sempre a inglesa, apesar de as candidatas terem a possibilidade de se expressarem em ucraniano.

Ao ter conhecimento do projecto de mentoria “Amarelo Azul – Business Camp”, da associação Ukrainian Hub, apoiado pela Comissão Europeia e uma instituição bancária, Oksana, 40 anos, decidiu submeter o plano em que se empenhou.

Ultrapassado o nervosismo inicial, perante uma plateia constituída por mais de uma dezena de candidatas e um júri, recusou a tradução e falou em português dos planos para continuar a integrar-se no país.

Começou por contar que, tal como muitas outras mulheres, saiu da Ucrânia, após a invasão, deixando para trás «a esperança, a família, o marido». Não tem para onde voltar. A cidade de onde saiu, na região de Kherson, está ocupada pelas tropas russas e o marido «agora é militar».

A sogra e a madrinha já residiam em Portugal (em Almada e em Cascais) e tem consigo a filha, com 12 anos.

O projecto “Amarelo Azul”, as cores da bandeira da Ucrânia, foi lançado há três meses e seleccionou 15 projectos com potencial para serem lançados. O objectivo é crescer e ter dois a três programas por ano, com capacidade para ajudar 120 pessoas/ano a lançarem os seus negócios, contribuindo simultaneamente para a economia local, disse à Lusa Iryna Shkira, da Ukrainian Hub, que se apresenta como uma associação sem fins lucrativos, criada para apoiar empreendedores ucranianos e que está actualmente sediada em Portugal, devido à guerra na Ucrânia.

A professora de fitness espera ter lucro em seis meses. Outras candidatas propõem-se explorar negócios para crianças, escolas de línguas e há também quem use a categoria de cinturão negro nas artes marciais para investir num espaço destinado à prática, em Coimbra.

O projecto destina-se a mulheres ucranianas, que constituem a grande maioria dos refugiados, juntamente com as crianças, uma vez que os homens foram mobilizados para a guerra.

Além do marido, Oksana deixou a mãe e a irmã na Ucrânia, que visitou na altura do Natal, noutra cidade. «Quero muito ajudar mulheres ucranianas aqui em Portugal», assegurou, enquanto aguardava pelo resultado da apresentação, que surpreendeu o júri pelo modesto orçamento requerido.

Conseguiu o terceiro lugar com o «pequeno estúdio de fitness», como fez questão de sublinhar. O prémio confere-lhe 3000 euros para prosseguir o objectivo.

O primeiro prémio, no valor de 5000 euros, foi atribuído a Angélica Shyshkovska, que desenvolveu um projecto para um estúdio de design destinado ao mercado imobiliário e o segundo, também de 3000 euros, a Asia Tyshchenko, por um clube de Taekwondo para mulheres, com o mote “This Girl Can” (esta rapariga consegue).

O programa que hoje culminou a primeira edição com a apresentação dos projectos, teve 100 candidaturas, mas só foi possível incluir 40, de acordo com a organização.

«Há pessoas que querem voltar [para a Ucrânia], mas não têm para onde voltar», sublinhou Irina Skhira, da Ukrainian Hub, que disponibiliza um programa gratuito de formação em empreendedorismo e parcerias com outras instituições.

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