Propósito organizacional. É determinante para a rentabilidade e sustentabilidade das organizações. Mas existe?

Foram realizados dois estudos em Portugal com o objectivo de avaliar a percepção dos profissionais sobre a existência de um propósito na sua organização e o impacto na rentabilidade e produtividade. Os resultados não deixam margem para grandes dúvidas.

 

Por equipa Purpose Lab

 

Uma organização que não tenha um propósito e não contribua para o bem-estar da sociedade terá menos acesso a talento, menos consumidores, conseguirá menor margem de venda dos seus produtos/serviços e menor acesso a capital privado e público. Será uma organização menos sustentável, com menor potencial de criação – de valor e com menos valor para os accionistas. Estas constatações parecem óbvias, mas carecem de ser fundamentadas e verificadas. É esse o exercício deste artigo.

É importante iniciar-se pela definição do que é o propósito organizacional. Entre outros, Rey et al. (2019) referem que o propósito organizacional expressa o impacto positivo e o legado que uma empresa pretende deixar neste mundo. O cumprimento do propósito pessoal dentro do propósito organizacional é a essência das organizações verdadeiramente orientadas para o propósito.

Existem três elementos fundamentais na nova lógica de propósito organizacional: (1) propósito pessoal, que introduz a ideia de propósito individual na arena organizacional; (2) a autogestão, contexto onde o propósito pessoal floresce dentro da organização; e (3) a unidade onde se verifica a conexão natural entre o propósito pessoal e o organizacional.

Tendo definido propósito organizacional, é fundamental saber como o medir. Para tal, utilizamos o modelo proposto por Lerer (2022). Este modelo, analisado sobre três dimensões (propósito na organização, propósito na função e propósito pessoal), é composto por 78 variáveis de análise, que permitem avaliar a existência de um propósito organizacional, um propósito na função e o seu alinhamento com o propósito pessoal.

A escala de resposta, entre um e cinco, é utilizada como diagnóstico e base para decisões estratégicas sobre o propósito organizacional. Este modelo, usado em rede internacional, é o único modelo conhecido em Portugal com métricas, fundamentação teórica e validação científica, que permite medir o nível de propósito organizacional.

Sendo possível definir e medir o propósito organizacional, foram realizados dois estudos em Portugal durante este ano de 2022 – que contou com a participação muito relevante de 3846 profissionais –, com o objectivo de avaliar a percepção dos profissionais sobre a existência de um propósito na sua organização e o impacto na rentabilidade.

No primeiro estudo, procurou-se avaliar a existência de um propósito organizacional através de um questionário simples, perguntando apenas se os profissionais reconheciam a sua existência formal, assim como no dia- -a-dia da organização.

No segundo estudo, aplicou-se um questionário detalhado, com base no modelo de Lerer (2022), composto pelas já referidas três dimensões e 78 variáveis, permitindo medir a existência de um propósito organizacional e as razões que o promovem.

Vamos, em primeiro, analisar cada estudo e, depois, comparar as respostas obtidas em ambos.

Estudo 1
Questionário simples
Este estudo pretendeu verificar a percepção da existência de um propósito organizacional nas empresas em Portugal, por sector de actividade, e o seu impacto na rentabilidade e produtividade.

Analisando as respostas, 68,3% dos inquiridos referem que a organização onde trabalham tem um propósito. Este valor parece muito aceitável, mas não é certo que todos os respondentes tenham claro o que deverá ser o propósito organizacional. No questionário não foi disponibilizado o conceito, pois era pretendido avaliar a real percepção dos profissionais.

Avaliou-se então a sua visão sob quatro perspectivas:

  • Se conhecem o propósito da organização?
  • Se vivenciam o propósito da organização no dia-a-dia?
  • Se o seu propósito de vida se enquadra com o propósito da organização? R Se consideram que o propósito da organização é percebido pela sociedade?
  • E em que medida (escala de um a cinco).

 

É interessante observar que a percepção dos profissionais vai diminuindo ao longo destas quatro perspectivas. Com valores médios, 4,1 consideram que a organização tem um propósito, 3,7 que o propósito é vivido no dia-a-dia, e 3,6 que o propósito pessoal é coerente com o propósito organizacional.

Estes valores podem revelar que, da parte das organizações, existe um caminho a percorrer para garantir que o propósito é verdadeiramente vivido no dia-a-dia e que os colaboradores se revêm no propósito da organização. Só desta forma conseguirão captar e reter os colaboradores mais talentosos, fundamental para que a organização seja sustentável.

Na resposta à percepção do propósito pela sociedade, o valor médio é de 3,7. É uma percepção, e deve analisar-se este resultado apenas nesta perspectiva. Mas é fundamental para as organizações que o consumidor perceba e reconheça o seu propósito. De outra forma, o consumidor irá consumir menos vezes os seus produtos e colocar em causa a sustentabilidade da organização.

Considerando o atrás referido, as organizações devem ter claro qual o seu propósito, e conseguir criar uma cultura de propósito organizacional e saber como implementá-lo no dia-a-dia junto dos seus colaboradores, sociedade, consumidores e stakeholders.

 

Leia o artigo na íntegra na edição de Outubro (n.º 142) da Human Resources.

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