Quero ter colaboradores felizes (e está a fazer alguma coisa para isso?)

A primeira parte do título deste texto reflecte a vontade da maioria dos empregadores portugueses, contudo, existe ainda um fosso muito grande que separa a vontade da atitude…

Por Pedro Quaresma da Silva, coach e analista DISC

 

Existem já algumas empresas de referência, que têm vindo a tornar esta vontade numa realidade. Empresas que criaram o departamento da felicidade, e outras, mais pequenas e que não têm ainda estrutura para um departamento dessa natureza, mas que junto das direções de Recursos Humanos vão tomando decisões no sentido de terem os seus colaboradores felizes.

Outras há, que falam sobre este tema de forma hipócrita, porque de facto não fazem nada e nem tão pouco têm vontade de fazer o que quer que seja neste sentido, e ainda outras que não perceberam a importância de ter o seu grupo de trabalho feliz e a trabalhar num ambiente leve e lavado de energias negativas.

O mundo laboral dos dias de hoje deve ser um espaço intermédio entre a cigarra e a formiga. Sim, é isso mesmo… as cigarras, e as formigas.

As cigarras são muito importantes no mundo do trabalho, do mesmo modo que a formiga o é também, mas nem só o canto da cigarra, nem só o trabalho árduo da formiga.

O pensamento moderno do empregador de hoje tem lugar para ambos, uma vez que o canto da cigarra permite que a formiga seja mais produtiva com um menor peso anímico do trabalho.

É um facto, que se a empresa não produzir, não gera rentabilidade, porém, um trabalhador que vai trabalhar de forma leve, e conforme está já provado por inúmeros estudos científicos, trabalha mais e melhor, gerando maior e melhor produtividade versus rentabilidade.

Para isso, deve haver o especial cuidado de não colocar a cigarra na produção, nem a formiga na animação. Nenhuma delas vai ser feliz, e nenhuma delas será jamais produtiva.

Temos então que estar muito atentos aos talentos que temos dentro das nossas empresas.

Para a empresa que não percebe os talentos da cigarra e da formiga, a rentabilidade versus produtividade versus felicidade será um problema. No entanto a empresa do lado, que percebeu o talento de cada um dos seus colaboradores, e faz um recrutamento cuidado e atento, dificilmente terá estas questões geradoras de desequilíbrio emocional, e consequentemente profissional, resultando num débil ou menos bom desempenho.

Segundo diversos estudos, não é a remuneração o principal fator da infelicidade laboral… de todo.

Um dos maiores problemas nas nossas empresas é a falta de reconhecimento e a gestão dos talentos.

Temos trabalhadores felizes com baixas remunerações, e temos também o inverso disso, colaboradores desmotivados com remunerações acima da média.

Podemos se quisermos, atentar nos últimos tempos com a pandemia e na resultante revolução do teletrabalho.

Não ouvi falar de nenhum caso em que uma empresa tivesse reduzido a sua produtividade, contudo, todos conhecemos inúmeros relatos de pessoas que dessa forma conseguiram acompanhar mais os filhos e até viverem mais felizes…

Trabalharam menos?

Talvez até tenham trabalhado mais, mas mais felizes.

Noutros casos com a correria das crianças, alguns trabalhadores preferiram trabalhar na empresa, porque se tornavam mais produtivos.

E este livre-arbítrio fez trabalhadores felizes.

Não importa como, nem porquê, o que importa é que ambas as partes continuaram num saudável caminho de felicidade versus produtividade, e por isso, muitas empresas adotaram esse regime livre de forma definitiva.

Outras, talvez por falta de confiança no empenho das suas equipas, ou eventualmente por outras razões, optaram por vedar essa forma de trabalho aos seus colaboradores

Já vi empresas a dispensar bons colaboradores e logo a seguir contratarem alguém para uma função em que este trabalhador poderia ser uma mais-valia.

Já vi empresas a contratar colaboradores para funções que poderiam ser

brilhantemente preenchidas por outros que estão já na empresa.

Estes tipos de situações revelam falta de visão dos responsáveis de Recursos Humanos, ou eventualmente um défice na comunicação interna, que não permite aos responsáveis de Recursos Humanos o conhecimento da existência desses valores, ou ainda que não permitem à sua equipa ter conhecimento dessas vagas.

E aqui, chegamos a um outro desafio para as empresas… a Comunicação Interna.

É absolutamente fulcral, o canal de comunicação interna das empresas, em que toda a equipa tem conhecimento das necessidades de contratação da empresa em que trabalha, por forma a, por um lado permitir candidaturas internas a novas funções, e por outro lado os responsáveis de RH terem sempre um conhecimento atualizado do crescimento e valor dos colaboradores que compõem a equipa.

Com esta comunicação, qualquer empresa poderá tornar a equipa mais feliz, colocando a Cigarra e a Formiga nos lugares certos e alinhados com o seu perfil. Além do que, uma vez que cada um estará no seu lugar, a empresa irá também rentabilizar o seu plano de formação.

“Se a Cigarra sabe cantar e na função que vai exercer deverá cantar, não precisará de formação em canto”. Por outro lado: “Se a Formiga é hábil na produção, não deverá também ter o mesmo volume de formação na sua área”.

Ter funcionários felizes e motivados torna uma empresa mais fácil de gerir e mais rentável. Também a retenção de talentos será potenciada, no sentido de ganhar uma maior estabilidade de grupo.

Se MOTIVAR, RECONHECER e ALOCAR terá seguramente uma melhor rentabilidade para melhor remunerar e não o contrário.

Criemos empresas felizes, com colaboradores felizes.

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