Recursos Humanos Vs. Marketing e Comunicação: Melhores amigos ou rivais?
A relevância das direcções de Recursos Humanos e de Marketing e Comunicação têm sido um tema altamente discutido. Qual o papel de cada uma, nas organizações?
Por Vanda de Jesus, directora de Marketing e Comunicação da Microsoft Portugal
Trabalhando num ecossistema de Marketing e Comunicações, e fazendo parte do Conselho Editorial desta revista, é um tema que acompanho de perto, motivado também pela aumento da importância das áreas conexas à Gestão de Pessoas como Employer Branding e Cultura Organizacional. Sendo estes temas centrais para um bem-sucedido desempenho na área dos Recursos Humanos, podemos também analisar como é que os mesmos se cruzam com as competências do Marketing e Comunicação. Serão então estas áreas melhores amigas ou rivais
Para mim, a resposta é simples. O activo mais crucial de uma empresa é a sua cultura. A sua relevância no seio da estratégia de uma organização tem aumentado significativamente, sendo que 88% das empresas afirmam que a cultura é estrategicamente importante para o futuro – e a cultura não pertence apenas a um departamento. Ela engloba toda a organização. De modo a ser efectiva, a cultura duma empresa tem que ser personificada e vivida pelo CEO, alimentada por toda a organização e potenciada por cada área ou departamento, independentemente do seu foco de negócio.
Dessa forma, os Recursos Humanos têm como tarefa emanar as directrizes orientadoras de modo a guiar a organização sobre como aplicar os valores que definem a empresa. Similarmente, o Marketing e Comunicação traduzem a cultura e os valores para todas as actividades da empresa, interna e externamente. Nomeadamente algumas medidas como o envolvimento dos colaboradores na estratégia de comunicação global da empresa podem tornar-se hoje um factor diferenciador.
Isto porque o trabalho mútuo em tarefas que potenciam a ligação com a cultura e a marca tornam a empresa mais valiosa, pois permitem atrair e reter talento, sendo que 62% dos millenials afirmam querer uma carreira com um propósito e impacto social, objectivos que podem ser atingidos através duma forte participação na estratégia de comunicação da empresa.
O desenvolvimento de estratégias para criar ideias, tais como hackathons e sessões de design thinking, são ilustrativas deste tipo de envolvimento, pois dinamizam a relação entre colaboradores e a organização, de modo a ser criador de valor para ambos. Dito isto, tanto colaboradores como a empresa beneficiam desta simbiose, pois os colaboradores participam activamente na criação do impacto que desejam ver e as organizações com propósito elevado têm maior probabilidade de gerar duas vezes mais retorno para os seus accionistas.
A partilha de cultura da empresa é, neste momento, o factor mais crítico de toda a cadeia de valor da empresa. A Gestão de Pessoas é altamente impactada, considerando que para muitas empresas, hoje, o encaixe cultural é já um critério de exclusão no processo de recrutamento, acima de todas as hard skills. Isto reflecte-se também na gestão de talento, que deixou de ser da responsabilidade de apenas um departamento mas sim uma preocupação global. Sendo que a partilha e activação da cultura da empresa deve ser assimilada e globalizada por todos os departamentos duma empresa, os departamentos de Recursos Humanos e Marketing devem apenas ser agentes fertilizadores dum campo de cultura, com definições de algumas regras e princípios orientadores.
Em suma, a execução da cultura cabe a cada um de nós. A importância de cada área não é proveniente da função, por decreto ou por definição funciona, mas sim de quem melhor, e de forma mais real e genuína, a souber personificar na relação entre colegas, parceiros e clientes. A exigência é que, para concretizar esta estratégia e esta agilidade, ambas as áreas precisam de se reinventar e trabalhar de forma colaborativa e ágil como nunca antes aconteceu, esse é o desafio para todos nós.
Recursos Humanos e Markerting e Comunicação: melhores amigos ou rivais? A resposta é siameses, partilhando tudo o que é essencial para fazer crescer as nossas organizações.
Este artigo foi publicado na edição de Março da Human Resources.