Reportagem: PRO_MOV: (Re)Qualificar para os empregos do futuro. E do presente também
Integrado na iniciativa europeia R4E – Reskilling 4 Employment, o PRO_MOV visa aumentar a empregabilidade e dar resposta às necessidades actuais do mercado de trabalho. Portugal faz parte dos países-piloto de implementação. A Human Resources foi falar com os diferentes intervenientes nesta iniciativa, para traçar o retrato da requalificação profissional no País e perceber o que está a ser feito, os resultados já visíveis, os desafios e as oportunidades.
Por Ana Leonor Martins
PRO_MOV é o primeiro programa em Portugal da iniciativa europeia R4E –Reskilling 4 Employment, concebido pela European Round Table for Industry (ERT), fórum europeu de executivos cuja missão passa pela promoção da competitividade e da prosperidade na Europa, promovendo a formação de profissionais para os empregos de futuro através da requalificação e integração no mercado de trabalho.
Em Portugal, a iniciativa teve início em 2021, liderada pela Sonae, em colaboração com a Nestlé e a SAP, contando também com a participação do sector público, através do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), em cooperação com o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSS). A Associação Business Roundtable Portugal (Associação BRP) e a CIP, Confederação Empresarial de Portugal, são os parceiros institucionais do projecto, o que contribui para lhe trazer escala com a entrada de inúmeras empresas portuguesas dos mais variados sectores.
Actualmente, o ecossistema PRO_MOV conta com mais de 140 empresas em Portugal e oito laboratórios em acção: Agricultura, Business Intelligence, Digital, Green Jobs, Indústria, Saúde e Venda, e, desde Setembro passado, Automóvel.
PRO_MOV
Portugal, Espanha e Suécia foram os países-piloto da iniciativa europeia Reskilling for Employment (R4E). Marta Cunha, head of Transformation da Sonae e líder da equipa de Gestão PRO_MOV, faz notar que é «um orgulho assumir a liderança na implementação e obtenção de resultados desta metodologia de requalificação» e que, ainda que recente, «o crescimento do PRO_MOV tem sido sólido e sustentado, impressionando os stakeholders internacionais que apontam Portugal como um exemplo a replicar».
Os números mais recentes para a Europa «devem preocupar a todos», alerta: 20 milhões de europeus empregados vão necessitar de reskilling até 2030; 11 milhões de pessoas estão desempregadas há mais de seis meses. Estamos empenhados, em Portugal e noutros países, em mitigar o impacto destes números e em testar as formas mais eficientes para conseguir impactar o maior número de pessoas. É um grande desafio e temos um longo caminho a percorrer.»
Mas «o balanço tem sido extremamente positivo, com resultados que motivam a prosseguir e que reflectem a importância da requalificação para Portugal», afirma a responsável, traçando a evolução desde Dezembro de 2021, data em que o PRO_MOV foi lançado: «O nosso primeiro ano de trabalho no terreno foi 2022, uma fase piloto, para demonstrarmos a relevância e a eficácia da requalificação para o crescimento, para a competitividade do tecido empresarial e para a economia do País. Foi um ano essencial para definirmos as bases e para testarmos e provarmos o valor da nossa abordagem. O ano seguinte foi de crescimento, com uma evolução notável que superou muito as nossas expectativas. Criámos mais cursos, abrimos turmas em mais regiões e conseguimos alargar o nosso ecossistema a mais parceiros, o que aumentou ainda mais a nossa capacidade de formar e requalificar profissionais. Agora, em 2024, estamos a alcançar um novo patamar. Está a ser extraordinário, no sentido em que estamos a expandir a nossa oferta de formação a sectores de actividade que nos procuraram para encontrar soluções para a falta de mão- de-obra qualificada. Um exemplo disso é a criação do Laboratório Automóvel, que, em breve, vai começar a colocar no mercado de trabalho os primeiros pintores de veículos automóveis.»
Marta Cunha destaca que estão prestes a atingir um «marco significativo, com quase mil participantes alcançados. Neste momento, são 831 participantes e um total de 45 turmas», concretiza. «Em Setembro e Outubro, foram mais 27 turmas e até ao final do ano serão mais de 45, que irão impactar mais de 600 pessoas. São números que nos motivam a fazer mais e melhor a cada dia. Este é apenas o início de um percurso que continuaremos a percorrer, de forma a cumprirmos a nossa missão: aumentar a empregabilidade e dar resposta às necessidades actuais do mercado de trabalho.»
Existe preconceito?
Este percurso não se faz, claro, sem desafios, que a líder da equipa de Gestão PRO_MOV não esconde. «Um dos maiores desafios tem sido sensibilizar as pessoas para a importância da requalificação profissional e fazê-las entender que esta será uma ferramenta essencial para se manterem relevantes no mercado de trabalho. As profissões estão a mudar a um ritmo impensável há uns anos. Sente-se um preconceito em relação a algumas profissões, que se explica – como todos os outros preconceitos – pelo desconhecimento, quer das funções que desempenham quer pela remuneração associada.»
Ou seja, Marta Cunha não considera propriamente que há “resistentes”, mas antes que «há falta de informação sobre a temática». Explica: «A mudança no mundo de trabalho é rápida e nem sempre favorece o tempo de reflexão. É preciso que haja um momento de paragem para que cada um de nós possa avaliar se está no caminho certo, ou se precisa de redireccionar a sua carreira. Por isso mesmo, é cada vez mais importante colocar este tema na ordem do dia e diminuir o estigma que existe com a requalificação, ou que a direcciona para um público muito específico. A verdade é que todos nós vamos precisar de requalificação, mais cedo ou mais tarde.»
Sobre se todos os profissionais são reconvertíveis, a responsável não foge à pergunta. «Todos os profissionais têm a capacidade de se reinventarem, de embarcarem num novo percurso profissional. Dito isto, como é óbvio, devemos ter em consideração a motivação, a resiliência, o interesse e a capacidade base, para garantir que o percurso escolhido faz sentido para aquela pessoa em particular. Alguém que detesta matemática e lógica não vai conseguir ser bem-sucedido num percurso formativo de software developer, por exemplo. Tudo começa com a consciência individual do que sou hoje, as minhas competências e limitações, até onde estou disposto a ir.»
Também não esconde que há casos menos bem-sucedidos e que se prendem com a «urgência de encontrar uma solução de emprego definitiva que não se coaduna com a duração dos cursos da PRO_MOV». Os cursos visam que qualquer pessoa possa enveredar por uma nova carreira, independentemente dos seus conhecimentos base, por isso têm uma duração média de seis a nove meses.
No que respeita às empresas, a mesma transparência: «Muitas ainda têm alguma resistência em aderir a programas de requalificação e contratar perfis diferentes, com histórias de vida e percursos diferentes, mas cuja competência profissional está assegurada pela formação que recebem na requalificação », afirma Marta Cunha. «Estamos a trabalhar activamente para mudar essa mentalidade, demostrando que os trabalhadores requalificados trazem consigo uma abordagem inovadora e uma visão de futuro mais flexível, para além das competências necessárias para enfrentarem os desafios actuais e futuros. O investimento na requalificação é essencial no futuro dos negócios.»
Aumentar a escala
À medida que os benefícios dessa requalificação se tornam mais evidentes, a líder da equipa de gestão do programa confia «que as empresas irão reconhecer o valor desses profissionais e abraçar plenamente o potencial do PRO_MOV. É necessário valorizar junto das empresas o papel dos trabalhadores requalificados, aumentando a confiança nas suas competências e demonstrando que são profissionais com uma mentalidade de crescimento e capazes de se adaptarem rapidamente às novas exigências do mercado», reitera.
Outro desafio, que decorre de ser «ainda um programa recente, é a escala. Quantas mais empresas estiverem no programa PRO_MOV, maior será a capacidade de expandir a oferta formativa e, consequentemente, de requalificar um maior número de profissionais para atender às necessidades do mercado de trabalho», reconhece. Actualmente, estão «focados em sectores críticos como tecnologia, saúde, energias renováveis e turismo» – sector no qual já estão a trabalhar com empresas para desenhar percursos formativos.
Não obstante, «o crescimento do ecossistema de empresas tem sido muito grande. Vamos acabar este ano com mais 50% das empresas que tínhamos no ano passado», congratula-se a responsável. Por outro lado, «o interesse das empresas depende das necessidades actuais na busca por talento».
Leia o artigo na íntegra na edição de Outubro (nº. 166) da Human Resources, nas bancas.
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