Resiliência no presente, transformação no futuro. A receita para o sucesso passa por aqui

A resiliência ajuda no presente, mas a aceitação e a transformação interior moldarão o futuro.

Por Maria Tavares Leal, Leadership Consulting manager da Boyden Portugal

 

De acordo com a ciência física, a resiliência é a “capacidade de um material absorver energia quando é deformado elasticamente e libertar essa energia ao descarregar”. Isto significa que após a deformação o material volta à sua forma original. Em desafios exigentes, parece óbvio que ser resiliente ajuda as pessoas a continuar, a perseguir objectivos e a não sucumbir sob maior pressão. Para a psicologia, a resiliência é a capacidade de lidar mental ou emocionalmente com uma crise e rapidamente regressar ao estado pré-crise.

Como tal, a resiliência pode ser extremamente útil a curto prazo, pois permite-nos ultrapassar o stress e as dificuldades, mas a longo prazo compromete a possibilidade de podermos aprender e evoluir. Voltando ao estado original ou à forma inicial após a pressão externa, não estamos a evoluir, desperdiçando assim recursos valiosos. Da próxima vez que estivermos sob o mesmo tipo de stress, adoptaremos a mesma estratégia e voltaremos sempre ao mesmo estado, que é exactamente oposto ao conceito de evolução.

Deste modo, é crucial olhar para além da resiliência e usar outras qualidades humanas, como a aceitação e a transformação interior como base para construir um eu melhor e moldar o nosso próprio futuro.

Aceitação

Para evitar mal-entendidos à partida, a aceitação não implica passividade. A aceitação não se limita a ver o mundo a evoluir à nossa volta e a assumir uma postura de observador. No entanto, este pode ser um ponto de partida para uma análise mais cuidadosa, focando-nos no que pode ser verdadeiramente decisivo para garantir que os pontos de chegada e de partida não são idênticos. Aceitar que há aspectos, contextos e eventos que não controlamos, que estão completamente fora da nossa zona de controlo e que qualquer minuto ou segundo de energia gasto nos mesmos não só pode não ajudar, como também pode aumentar o desconforto, tanto individualmente como coletivamente.

Aceitando, podemos chegar a um nível diferente de consciência que nos fará concentrar no que podemos controlar ou influenciar. A liderança, a verdadeira liderança, é o resultado disso, uma vez que os líderes se concentram no que podem controlar e, assim, agem e assumem a responsabilidade pelas suas opções.

Como este tipo de liderança pode emergir em qualquer lugar nas organizações, não exclusivamente em posições formais de liderança, é crucial cuidar e prestar atenção continuamente aos colaboradores, uma vez que talentos não antes identificados podem surgir inesperadamente.

 

Transformação interior

Deparamo-nos actualmente com uma necessidade de transformação profunda, tanto individual como colectivamente, e sabemos que esta transformação vai acontecer. Podemos escolher deixar que as coisas aconteçam de forma instintiva e automática, usando a nossa resiliência para evitar sucumbir (tanto a nível individual como coletivo) ou podemos aproveitar esta oportunidade única para definir quem queremos tornar-nos na situação pós-crise.

Momentos de maior tensão são momentos de maior necessidade de transformação interior. Um tempo para deixar para trás crenças essencialistas de que somos o que somos, e para procurar assumir o controlo do que queremos ser. Todos os momentos são históricos, mas alguns tornam-se História e outros não.

Na altura em que começo a minha autorreflexão, sugiro que façam o mesmo: “O que queremos ser depois de tudo isto?”

 

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