Resposta à crise da inflação passa por aumentos salariais, defende estudo

A prioridade na resposta à crise da inflação deve passar por aumentos salariais que protejam o poder de compra dos cidadãos, que têm sido os mais prejudicados. A conclusão é do estudo «A inflação pós-pandémica: reflexões a partir da economia portuguesa».

 

No estudo, publicado no Caderno do Observatório sobre Crises e Alternativas, os autores Diogo Martins e Vicente Ferreira defendem que o actual principal problema «não é a inflação em si, mas sim a crise do custo de vida que resulta da compressão dos salários reais».

Neste sentido, criticam a resposta dos bancos centrais que, para controlar a inflação, têm subido das taxas de juro, depois de anos em mínimos históricos e defendem que «uma resposta progressista deve focar-se na crise do custo de vida».

«A subida das taxas de juro não constitui uma resposta adequada ao processo inflacionário e arrisca-se a acentuar as fragilidades estruturais da economia portuguesa», pode ler-se.

Os autores consideram que «a prioridade deve passar pela promoção (em vez da restrição) de aumentos salariais que permitam proteger o poder de compra dos trabalhadores e por um reforço do poder relativo do factor trabalho, através de medidas de promoção da negociação colectiva e da organização laboral».

«Esta estratégia deve incluir também outras medidas de combate às desigualdades que a inflação agravou, com destaque para a tributação dos lucros extraordinários das empresas ou a limitação das margens de lucro», acrescentam.

Os autores defendem ainda que, «face ao choque provocado pela subida acentuada dos preços de matérias-primas essenciais como os bens energéticos, a manutenção — e, em alguns sectores, o aumento — das margens de lucro e o crescimento muito modesto dos salários nominais traduziram-se numa alteração da distribuição funcional do rendimento em favor dos detentores de capital e em detrimento dos trabalhadores».

«Nesse sentido, a inflação tem afectado particularmente os grupos sociais com menores rendimentos», assinalam, acrescentando, contudo, que «é importante ter em conta que esse não é um dado adquirido ou um resultado inevitável da subida do nível geral de preços, mas antes o resultado do reduzido poder reivindicativo dos trabalhadores e da ausência de medidas de reforço da sua posição».

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