Ricardo Martins: «A evolução do emprego em Portugal até final de 2020 não sairá incólume deste período»
Sobre os resultados do XXXI Barómetro Human Resources, Ricardo Martins, director-geral da Cegoc reconhece que «a evolução do emprego em Portugal até final de 2020 não sairá incólume deste período».
«Embora ninguém saiba ainda a dimensão final que a actual situação provocada pela pandemia de COVID-19 tomará, e durante quanto tempo terá uma influência dominante nas nossas decisões de gestão e escolhas do quotidiano, o que já é possível inferir, e os dados deste Barómetro também apontam nesse sentido, é que a evolução do emprego em Portugal até final de 2020 não sairá incólume deste período. A esmagadora maioria dos inquiridos deste painel (mais de 96%) acredita que devemos contar com uma diminuição significativa, ou pelo menos moderada, deste indicador nos próximos meses. O que era aparentemente impensável há uns meses, quando ainda muito se escrevia e debatia sobre a “guerra” pelo talento, hoje é tema do dia para a maioria dos inquiridos (60,78%), que afirma não prever recrutar as pessoas que tinha em vista ou mesmo prever ter de despedir as que já tinha no seu headcount. Este será, infelizmente para muitos, um dos cambiantes menos desejáveis que o dito “novo normal”, pautado pela adopção de uma nova ética de trabalho, colaboração remota e aprendizagem à distância, também nos trará, especialmente se não formos capazes de reinterpretar o mundo e o mercado à nossa volta, à luz de um novo contrato social, que para muitos já peca por tardio. Os dados deste Barómetro da Human Resources vêm dar suporte a esta demanda, com a esmagadora maioria dos inquiridos (90,19%) a considerar que a lei laboral precisa ser reformulada, quer a um nível mais profundo e transversal, quer em matérias mais específicas, como flexibilidade na gestão dos tempos de trabalho (49,02%), regulação de diferentes regimes de trabalho (49,02%) ou até novos modelos de contratação (39,22%). Não é por isso de estranhar que também ao nível dos grandes temas da Gestão de Pessoas se perspective uma inflexão no sentido destas novas tendências, nomeadamente em torno do debate (56,86% dos inquiridos), a meu ver ainda por realizar com a profundidade necessária, sobre a alteração das formas de trabalhar neste contexto de transformação extrema.»
Este testemunho foi publicado na edição de Julho da Human Resources, no âmbito da XXXI edição do seu Barómetro.