Rui Lança, SLB: A magia do propósito nas organizações

Encontrar ou definir o “propósito” começa no processo de recrutamento, está alinhado com a cultura organizacional, e mantém-se no dia-a-dia, na relação intra e na liderança.

 

Por Rui Lança, director Desportivo no Sport Lisboa e Benfica e docente universitário

 

A palavra “propósito” não é das que mais usamos ou associamos à causa de liderança, à cultura organizacional ou ao trabalho de equipa. Erradamente, direi eu. Nos dias de hoje, as áreas da liderança ou equipas de elevado desempenho já foram analisadas a partir de inúmeros ângulos, dimensões ou variáveis, mas continuamos longe de perceber com exactidão aquilo que pode manter as pessoas alinhadas com os objectivos organizacionais, comprometidas, motivadas, disponíveis para não se desviarem emocionalmente do que se pretende.

Na minha opinião, existem quatro campos que reúnem, em termos macro, as áreas que são essenciais para manter as pessoas e as equipas altamente alinhadas e comprometidas com aquilo que fazem:

A cultura organizacional (onde se reúnem os modelos de negócio, desportivo, a visão, a missão, os comportamentos- chave, etc.) de que tanto se fala, mas que raramente assume a importância de se compreender como é que a mesma tem impacto naquilo que é o dia-a-dia das organizações e das pessoas que fazem parte do seu todo e das várias equipas que compõem uma organização;

As pessoas e os seus perfis, a liderança praticada na organização, o organigrama, se o “mapa é o território”, os fluxos relacionais e comunicacionais nas equipas. A individualidade e o ecossistema de pessoas, se coabitam, se flui. Talvez seja esta a área, das quatro, que mais tem sido analisada e onde mais se tem investido, admitindo que não há receitas mágicas, e daí ser por vezes uma missão espinhosa.

O contexto ou o ambiente, que é tudo aquilo que nos rodeia e não controlamos, sendo que aqui diria que temos de admitir que, não controlando, temos de saber controlar ou gerir o impacto que tem nas pessoas e nas organizações. E não falo em consequências estruturais, financeiras, etc., mas sim nas consequências que traz para o estado de espírito e de entrega das pessoas.

Por último, o propósito, o ponto onde me parece que as organizações investem pouco tempo em perceber a resposta à pergunta: “Qual o meu, o teu e o nosso propósito?” No desporto, isto está bastante mais esmiuçado, por um conjunto de especificidades, mas também por muita necessidade de identificação com os objectivos. Especialmente nas competições de alto rendimento. Algo que a história dos All-Blacks, no livro “Legacy”, retrata muito bem.

O propósito é um misto de familiarização com a função, com a causa. É, por outro lado, a identificação individual com tudo o que significa e compõe estarmos ali. O propósito tem algo da teoria da autodeterminação (SDT), e por muito que possa ser difícil encontrar um só significado, o propósito é aquilo a que os líderes podem apelar em momentos de superação, na hora “h”, nos momentos que diferenciam as vitórias, os sucessos, o alcançar do objectivo.

Este propósito, quando se torna colectivo, é ainda mais mágico. Quem teve – e tem – a oportunidade de estar em ambientes organizacionais exigentes, ambiciosos, em que se respira um sentimento grupal elevado, sabe do que escrevo. Existem equipas que tornam as caminhadas e as conquistas em algo maior do que “apenas” a vitória, e acredito que isso é um ponto diferenciador.

 

Este artigo foi publicado na edição de Agosto (nº.140)  da Human Resources, nas bancas.

Caso prefira comprar online, pode optar pela versão em papel ou a versão digital.

Ler Mais