Rui Moita, LG Electronics. «Certas “modas” não são para seguir de forma cega e sem questionar a sua exequibilidade no mundo do trabalho»
Rui Moita, director europeu de Recursos Humanos da LG Electronics, constata, «o grau de incerteza que paira sobre a questão dos “novos modelos de trabalho“» e destaca que certas “modas” não são para seguir de forma cega e sem questionar a sua exequibilidade no mundo do trabalho». Leia a sua análise aos resultados do XXXV Barómetro Human Resources.
«Confesso que os resultados globais deste questionário não me surpreenderam. Revelam sobretudo bom senso. Mas também indicam ainda o grau de incerteza que paira sobre a questão dos “novos modelos de trabalho“, quando uma percentagem considerável das respostas indica que há algo já pensado, mas ainda não fechado ou definitivo. Mais revelador se torna quando nos apercebemos de que, afinal, certas “modas” não são para seguir de forma cega e sem questionar a sua exequibilidade no mundo do trabalho. É o que quer dizer a larga percentagem de respostas que afirma que o modelo de trabalho futuro a adoptar poderá passar pelo “híbrido, com mais dias de trabalho presencial”. Não menos revelador é a assumpção de que, num modelo hibrido, o espaço físico de trabalho que temos conhecido até hoje, venha, também ele, a sofrer alterações, quer pela optimização dos espaços em si, quer inclusive pela potencial redução de custos que isso possa representar. E é também nesta incerteza que ainda vivemos que se constata a preocupção em “assegurar a continuidade do negócio”. Talvez nunca como hoje o desempenho dos Recursos Humanos tenha sido tão importante e tão escutado. Actuaram como os primeiros “socorristas” quando o bem-estar e saúde dos colaboradores surgiu como principal foco. São chamados agora a debater como os efeitos, actuais e futuros, desta crise pandémica terão na forma como desenhamos, planeamos e damos exequibilidade às novas formas do trabalho. E como as empresas se poderão adaptar quando estamos ora focados na “continuidade do negócio” ou mesmo na sua sobrevivência. Isso obrigou-nos a pensar de fora para dentro. Permitiu-nos sentar com a área financeira e discutir os impactos que os novos modelos de trabalho poderão representar. O “copiar e colar” de tendências e modas, de lutas político-ideológicas, nunca foi a forma correcta de analisarmos e pensarmos as realidades do mundo de trabalho. Cada organização tem as suas especificidades, tem a sua cultura, tem o seu negócio. A adaptabilidade à mudança e o bom senso na gestão desta serão sempre os factores diferenciadores e de sucesso. Ninguém dúvida que a flexibilidade na forma como trabalhamos veio para ficar. Ninguém certamente esquece que o elemento humano, do contacto entre colegas, da humanização das relações era, se não o será doravante, ainda mais importante. As consequências do “distanciamento” e do “isolamento” são conhecidas. Ninguém ousará propor o que seja sem olhar para a “crua” realidade do negócio. Este questionário, sem espaço a respostas certas ou erradas, revelou bom senso e prioridades. Bom senso de que nem tudo é o que parece e que o “estado das empresas” deve ser tido em conta, e a prioridade absoluta e inequívoca no bem-estar e envolvimento de todos.»
Este testemunho foi publicado na edição de Abril (nº. 124) da Human Resources, no âmbito da XXXV edição do seu Barómetro.