Sabe quem são os intrapreneurs? As vantagens das empresas que promovem o empreendedorismo interno

Sabia que os célebres post-it foram idealizados, por acaso, para responder a uma necessidade quotidiana de um dos colaboradores da 3M, nos anos 70? Hoje, estes papéis adesivos são usados em praticamente todos os escritórios do mundo.

Por Patrícia Pereira, directora de Recursos Humanos da Konica Minolta

 

A história da criação do post-it é um dos exemplos mais antigos do fenómeno conhecido como intrapreneurship ou empreendedorismo interno. Tal como o nome indica, trata-se da existência de práticas de empreendedorismo no seio de uma empresa ou organização. A diferença em relação ao empreendedorismo convencional é que um intrapreneur cria e desenvolve as suas ideias dentro de uma empresa preexistente, ao contrário de um empreendedor, que, geralmente, procura fundar uma empresa que lhe permita pôr os seus projectos em prática, de que são exemplo as start-up.

O espírito empreendedor está intimamente ligado a aspectos específicos de cada pessoa e da sua personalidade. Espíritos criativos, audaciosos, dinâmicos e ambiciosos, geralmente, favorecem o empreendedorismo. Mas há vantagens significativas em criar e promover um contexto empresarial para que o intrapreneurship possa florescer.

No seu livro The Intrapreneurship Formula, Sandra Lam observa que a grande maioria dos gestores tem consciência da importância da inovação nas suas empresas, mas «aquilo que não sabem é que já possuem o activo fundamental para a inovação dentro da sua organização ― os seus colaboradores.»

Não é um segredo que as organizações são avessas à mudança. Apesar de tudo, as alterações de paradigmas no funcionamento de uma empresa podem ser uma ameaça e, para muitos gestores, um risco desnecessário. Mas com as diversas transições em curso, seja a transformação digital ou a imposição crescente de modelos híbridos de trabalho, recear as mudanças pode ter um efeito igualmente prejudicial.

É neste ponto que o papel dos empreendedores internos se torna fundamental. Como estes são colaboradores com um conhecimento profundo das dinâmicas da organização, a sua capacidade para identificar lacunas ou áreas que necessitam de melhorias é elevada. Por outro lado, a sensibilidade dos intrapreneurs para os efeitos das mudanças que venham a ser propostas junto de toda a empresa é igualmente apurada, suavizando qualquer transição.

Uma organização que não encoraje este tipo de acção interna corre o risco sério de se tornar pouco atractiva. Tendo em conta a grande disposição dos millennials para chamar a si o papel de criadores e promotores de mudanças nas empresas onde trabalham, uma organização que seja avessa ao intrapreneurship pode ver fugir os seus melhores talentos para a concorrência.

Em média, 20% dos funcionários de uma empresa têm potencial para serem intrapreneurs. Portanto, o papel das chefias é sobretudo o de criar as condições para que esse grupo possa desenvolver estas capacidades. A Google encontrou uma solução simples, mas extremamente eficaz, em que põe à disposição dos seus engenheiros 20% do horário de trabalho para que se possam dedicar a gostos pessoais. Foi a partir daqui que foram criados projetos como o Gmail, o Google Maps ou o Google Earth.

Do ponto de vista dos colaboradores, a aposta em projectos próprios dentro do espaço seguro de uma empresa já estabelecida é muito atraente. Desde logo porque, ao contrário do empreendedorismo tradicional, no intrapreneurship os riscos associados a uma ideia inovadora ficam amplamente reduzidos, uma vez que não há o perigo de falência de uma start-up. A perspectiva de falhar, que tão frequentemente desencoraja as mentes mais inovadoras de avançar, torna-se muito menos ameaçadora.

Além disso, uma organização fornece ferramentas não financeiras fundamentais para qualquer empreendedor, como listas de clientes, estrutura jurídica consolidada ou know-how técnico e experiente. Um modelo de gestão que promova e acarinhe o espírito empreendedor dos colaboradores de uma empresa pode levar qualquer organização a desbravar novos caminhos, que tanto podem tornar os fluxos de trabalho mais ágeis como permitir a criação de produtos revolucionários.

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