Sair do gabinete é urgente!

Por Carla Caracol, Directora de Recursos Humanos do Grupo Renascença Multimédia, Professora Universitária, membro da Direcção Nacional da APG e da DCH Portugal

Dizemos inúmeras vezes que os Recursos Humanos têm que sair dos seus gabinetes, estando em toda a organização, sem excepção, onde o negócio acontece e onde os colaboradores estão, incluindo os corredores e bar, locais em que a informação prolifera, a descontração impera e as barreiras ou máscaras caem com mais facilidade. E isto tem que acontecer porque gerir pessoas é servir a empresa, aportando valor, através dos seus colaboradores, optimizando o seu Talento, aproveitando o seu Potencial, cuidando deles.

Quando nos cingimos aos m2 das nossas áreas funcionais, inúmeras informações críticas passam-nos ao lado e, não raras vezes, são essas que nos impedem de concretizar objectivos, pois concebemos e implementamos processos e práticas que parecem muito racionais no Excel e esteticamente relevantes no Powerpoint, mas que estão desalinhados com o status quo geral de quem os vai concretizar operacionalmente ou ser sujeito aos mesmos, sendo natural que surjam alertas, levantando obstáculos, aumentando constrangimentos e gerando ruído.

E, até aqui, é puro senso comum de quem sente, diariamente, este desafio, procurando estar presente numa abordagem corporativa multinível e que faz por ter vários aliados, em todas as áreas funcionais, envolvendo-os no diagnóstico e na solução, eficaz e eficiente, dos projectos.

Contudo, nem tudo depende da nossa vontade, determinação e boa intenção. Nem tudo depende efectivamente da cultura e clima organizacionais, nem pode ser contextualizado face a essa realidade.

 Existe um imperativo incontornável que, muitas vezes, limita a acção adequada: a lei.

Têm surgido várias peças legais, soltas, procurando dar resposta a questões que estão na moda e que são populares entre o comum dos cidadãos. Contudo, parece-me que o legislador sai pouco do seu gabinete… é impossível ter analisado conjuntamente, de forma ponderada, com os parceiros sociais, pois, o que daí resulta acaba por ser um tiro nos pés. São artigos avulsos que até podem ser bem intencionados, mas não estão fundamentados na realidade, nos constrangimentos e nos desafios, de empresas e de colaboradores, impondo mais ameaças que oportunidades e levantando mais problemas do que encontrando soluções, acabando por causar, inclusive, alguns distúrbios à paz social nas organizações. Falta, algures neste processo legal, sensibilidade para recorrer a quem, efectiva e diariamente, vai ter que gerir os imperativos daí decorrentes, percebendo todos os reais impactos.

Falta sair do gabinete, confortável e simpático, e auto-questionar as próprias propostas… carece de contraditório! Para estarmos em compliance, sob pena de incorrermos em contraordenações, temos que ter legislação que potencie boas práticas, de forma equilibrada, para todos os intervenientes.

Vamos sendo criativos nas soluções encontradas, procurando o melhor para as nossas Pessoas, mas os profissionais de Recursos Humanos não podem ser os malabaristas de serviço. O legislador tem que conhecer bem o tecido empresarial e os vários stakeholders, tem que sair do gabinete e disponibilizar-se a contactar outras realidades, indo para além da linguagem hermética do Diário da República ou dos construtos dos seus assessores académicos. Como podem as empresas responder positivamente a solicitações, razoáveis, dos seus colaboradores, se a lei não o permite ou condiciona?

Sair do gabinete é urgente, de forma transversal, incluindo no topo das organizações, mas também de quem nos conduz e orienta enquanto sociedade.

Ler Mais