Salários e emprego a diminuir, falta de (novas) competências nas lideranças a aumentar
De acordo com o painel do Barómetro Human Resources, os salários (brutos) até vão aumentar na maioria das empresas, mas esse aumento é anulado pelo aumento previsto da inflação. As perspectivas para a evolução do emprego também são conservadoras e nos principais desafios na Gestão de Pessoas não há grande alteração. As más notícias são: as lideranças não têm as competências necessárias para lhes responder.
Por Ana Leonor Martins
Com 2022 a acabar, é tempo de perspectivar 2023: como vai evoluir o emprego em Portugal? E os salários? Vão acompanhar a inflação ou os profissionais vão inevitavelmente perder poder de compra? Os grandes temas e desafios na Gestão de Pessoas, vão manter-se? Quais vão ser as prioridades das empresas neste âmbito? E as lideranças, estão preparadas para enfrentar estes desafios? Foram estes temas que apresentámos ao painel do Barómetro Human Resources nesta 44.ª edição.
Menos emprego e menos salário
Sobre a evolução do emprego no nosso país em 2023, a maioria dos inquiridos (39%) acredita que vai diminuir (mais 23 pontos percentuais do que no Barómetro de Janeiro de 2022 – 16%), sendo que 30% perspectivam que diminua até 3% e 9% são mais pessimistas e avançam uma redução entre 3 e 5%. Ninguém acha que o emprego vai diminuir mais de 5% e um em cada três dos especialistas (33%) confia que vai manter-se (em 2021 a percentagem foi de 17%). Mais optimistas, 25% afirmam que vai aumentar (16% dizem que vai aumentar até 3% e 9% entre 3 e 5%). Estes resultados são consideravelmente mais pessimistas do que as perspectivas para 2022 (lembrando que estávamos ainda em plena pandemia), quando 65% acreditavam que o emprego ia aumentar (mais 40 pontos percentuais).
Centrando a pergunta não no panorama geral, mas na realidade de cada empresa, os resultados são consideravelmente diferentes. Se ao olhar para o país, os especialistas são mais “conservadores” na análise, quando a pergunta é qual a projecção para a evolução do número de colaboradores na sua empresa, para o ano, a grande maioria (67%) afirma que vai aumentar: a maioria antevê um aumento até 3%, 4% entre 3 e 5%, e 14% garantem que vai mesmo aumentar mais de 5%. Aqui, a comparação com as projecções para 2022 não é tão díspar, com 60% (menos 7 pontos percentuais) a darem conta que o número de colaboradores iam aumentar na sua empresa.
Em relação à evolução dos salários, as notícias são “menos boas”. Se numa primeira análise os resultados parecem positivos, ao considerarmos o factor inflacção, o cenário muda de figura. Ou seja, sobre os salários brutos para 2023, em Portugal, a quase totalidade dos inquiridos (97%) acredita que vão aumentar, com mais de metade dos inquiridos a perspectivar um aumento entre 2% e 4%. Quando a pergunta se centra na realidade de cada empresa, os resultados mudam um bocadinho: 5% ainda não sabem (ou não respondem) e há mais especialistas a revelar que não vão haver aumentos (5%, ou seja, mais dois pontos percentuais), e a maioria (35%) diz que vão aumentar entre 2 e 4%.
Voltando à análise macro, 22% consideram que será um aumento acima da inflação prevista (no fim de Novembro) pelo Governo português (4%) e só 3% acreditam que o aumento será acima da inflação prevista pela Comissão Europeia (5,2%). A diferença mais significativa quando a análise passa para o contexto de cada empresa, é nos aumentos superiores a 5,2%, com 14% dos inquiridos a garantirem que é isto que vai acontecer nas suas organizações (mais 11 pontos percentuais).
Mas a leitura muda significativamente quando passamos de salário brutos para salários reais, ou seja, tendo em conta a inflação. Pondo este factor na equação, quase metade (49%), afirma que vão diminuir: entre estes, a maioria (23%) perspectiva uma diminuição entre 1 e 3%, enquanto 16% referem o intervalo entre 3 e 5%, e 5% antevêm uma diminuição de mais de 5%. Para 14%, os salários reais vão manter-se, enquanto 37% confirmam que vão aumentar (19% menos de 1%; 19% entre 1 e 3%; 14% entre 3 e 5%; e 2% mais de 5%).
Têm sido várias as empresas a anunciar prémios extra aos colaboradores neste final de ano, mas olhando para os resultados do 44.º Barómetro Human Resources – cujo painel inclui não só grandes, mas também médias empresas –, percebe-se que são excepção e não o espelho da realidade: quase metade (49%) dos inquiridos admite que a sua empresa não irá dar prémio extra salário em 2022. Já 25% vão dar, mas menos do que um salário bruto e só 5% mais do que um salário bruto. Será relevante notar que 21%, no fim de Novembro ainda não tinham decidido (ou não quiseram responder).
Do que ninguém tem dúvidas é da retracção do ciclo económico. E só 7% acreditam que isso não se vai fazer sentir na Gestão de Pessoas. Podendo escolher duas opções, a maioria dos especialistas (60%) afirmou que esse reflexo irá notar-se sobretudo nas contratações, que irão baixar. Este resultado não deixa de ser curioso, uma vez que mais de 67% tinham partilhado que a sua empresa iria aumentar o número de colaboradores. A juntar a menos contratações, 33% perspectivam que vão haver mais despedimentos. Já 25% destacam a redução do investimento em comunicação/eventos internos e 23% acreditam que o nível salarial vai baixar. O investimento em formação e no bem-estar também será afectado em 16% das empresas.
Fique a conhecer todos os resultados do XLIV Barómetro Human Resources na edição de Dezembro (nº.144) da Human Resources, nas bancas (se preferir comprar online, tem disponível a versão em papel ou a versão digital).
E tem também o comentário dos especialistas:
– Ana Rita Lopes, directora de Recursos Humanos da Delta Cafés/ Grupo Nabeiro
– Eduardo Caria, director de Pessoas e Organização do Grupo Ageas Portugal
– Carla Marques, CEO da Intelcia Portugal
– Nelson Pires, CEO da Jaba Recordati Portugal
– Nuno Ferreira Morgado, sócio da PLMJ
– José Luís Carvalho, director de Recursos Humanos da CUF
– Susana Silva, directora de Pessoas do El Corte Inglés
– Gonçalo Rebelo de Almeida, CEO do Grupo Vila Galé
– Alexandra Andrade, Country manager da Adecco Portugal