Saúde mental: O elefante na sala
Por Isabel Moreira, People & Talent Acquisition specialist na Xelerate.tech
Saúde mental. Todos falam, mas quantos realmente ouvem? Parece um daqueles elefantes na sala – todos sabem que está ali, mas poucos dão a devida atenção. Já ouviste expressões como “Anima-te! Parece que estás em baixo” ou “Relaxaaaa, não fiques stressado!”? Aposto que sim. E a eficácia disso? Provavelmente igual a sugerir que alguém com um braço partido vá dar uns saltinhos para ver se melhora. Esse é o ponto em que o estigma se instala e o que mais precisamos agora é de menos clichés e mais cuidado.
Sabias que, segundo a OMS, 15% dos adultos em idade activa enfrentam problemas de saúde mental? Só falar não basta; é preciso agir. Mudanças cosméticas, como renomear o Departamento de Recursos Humanos para “Equipa de People”, não resolverão nada se, na prática, nada mudar.
Humanos, não robôs
Antes de sermos “colaboradores” ou “recursos”, somos pessoas. A saúde mental pode não ser tão visível quanto uma gripe, mas tem impactos igualmente profundos. Na verdade, pode afectar até a saúde física e reduzir as nossas capacidades. Exigir produtividade sem oferecer suporte mental não só é ineficaz, como também desumano.
Ainda existem muitas empresas que nos vêem como peças de uma linha de produção, não como indivíduos. Apesar dos avanços, essa visão retrógrada ainda está muito presente e o progresso, embora constante, é lento.
A regra dos 33%
Vamos fazer as contas: de 24 horas num dia, passamos cerca de oito a trabalhar – um terço! Tirando as horas de sono e as necessidades básicas, essas oito horas ganham um peso ainda maior. É por isso que sentir-se realizado e respeitado no trabalho não é só um extra, é uma necessidade.
Liberdade, confiança e flexibilidade são ingredientes-chave. Podes levar os teus filhos à escola sem medo de “picar o ponto”? Podes trabalhar de casa quando não estás no teu melhor físico? Estes detalhes fazem toda a diferença na tua saúde mental e na tua felicidade no trabalho.
Momentos de descontracção são valiosos, mas o cuidado contínuo é essencial
Todos gostamos de actividades recreativas, mas sejamos francos: isso não resolve os problemas a longo prazo. É um penso rápido numa ferida que precisa de mais cuidado. Criar um ambiente onde os colaboradores se sintam valorizados e apoiados diariamente é o que realmente promove um bem-estar duradouro e uma produtividade sustentável.
O nosso compromisso com a saúde mental
Valorizamos o bem-estar e acreditamos que a estabilidade é um factor essencial para isso. Sempre que possível, procuramos oferecer condições que promovam essa segurança, como contratos estáveis e parcerias com empresas financeiramente sólidas. Além disso, adoptamos uma estrutura horizontal, onde os engineering managers trabalham integrados nas equipas e incentivam a partilha de ideias, criando um ambiente de colaboração constante.
Temos de assumir uma mentalidade de start-up: todos são ouvidos e respeitados. Há espaço para os colaboradores partilharem regularmente o que sentem e os desafios que enfrentam. Além disso, é igualmente importante promovermos a diversidade e inclusão, com um compromisso firme com a igualdade de género e uma equipa composta por diferentes nacionalidades e religiões, etc. Essa diversidade é um factor essencial na luta contra o estigma.
Também nos preocupamos com o conforto no trabalho: desde uma despensa recheada de snacks até aos pequenos detalhes que tornam o dia-a-dia mais agradável, como massagens, padel e, em breve, também, workshops de nutrição.
Saúde mental: mais do que um benefício
Mas não ficamos só por aí. A nossa preocupação com a saúde dos colaboradores tem de ir além das actividades recreativas. Temos de prestar atenção desde a escolha do seguro de saúde – que inclui cobertura para a saúde mental – até ao suporte contínuo no dia-a-dia. Sabemos que não podemos resolver tudo, mas fazemos o possível para criar um ambiente de suporte e respeito.
E tu, quando foi a última vez que fizeste um check-up da tua saúde mental? É necessário não esquecer que a saúde mental é importante; “it’s ok not to be ok” e não há nada de errado em procurar ajuda profissional, pelo contrário. Como disse Michelle Obama em 2015, «procurar ajuda não é um sinal de fraqueza – é um sinal de força». Vamos todos lembrar disto.