Sente pressão para trabalhar fora de horas? Pode ser sinal de menor produtividade
A plataforma de produtividade Slack, cuja app de mensagens profissionais fez com que muitos colaboradores, em algum momento, sentissem a necessidade de responder em horário pós-laboral, deixa um aviso: as pessoas que se sentem forçadas a trabalhar após o horário de trabalho também tendem a ser menos produtivas, revela a Forbes.
Novos dados de pesquisa do Workplace Lab do Slack, que consultou cerca de 10 mil profissionais de escritórios, revelam que as pessoas que desligam no final do dia de trabalho obtiveram pontuações de produtividade 20% mais altas do que aquelas que sentem a pressão para trabalhar em horário pós-laboral. Não admira que aqueles que sentiram a necessidade de se manter ligados fora de horas relataram o dobro dos níveis de stress e burnout relacionados ao trabalho do que os seus colegas que desligaram (aqueles que optaram por trabalhar até tarde por opção, seja por motivos de agenda ou por ambições pessoais, não relataram desvantagens).
Os resultados do estudo – uma continuação da investigação do Future Forum do Slack – chegam no final de um ano em que muitos CEO, todos em nome de maior produtividade, fizeram pressão para uma mentalidade de “fazer mais com menos” e para o regresso obrigatório ao escritório, o que tem deixado muitos trabalhadores frustrados com distracções no local de trabalho e mais horas gastas nas deslocações. Mas, na verdade, esses esforços podem estar a piorar a produtividade.
«A sabedoria tradicional no que diz respeito à produtividade sempre foi: se quer produzir mais, basta trabalhar mais», diz Christina Janzer, vice-presidente senior de pesquisa e análise e head do Workforce Lab do Slack. «Esta é a nossa oportunidade de destruir mitos. Mais horas não significam necessariamente melhor produtividade.»
Christina Janzer admite que, embora o Slack tenha configurações de “não perturbar”, actualizações de status e ferramentas de envio programado, «ainda há muito trabalho a fazer para os tornar mais visíveis e incentivar o seu uso». Ainda assim, em última análise, «cabe à empresa, à equipa e à cultura realmente estabelecer essas regras básicas», acrescenta.
O estudo do Slack, resultante de respostas não focadas em medidas específicas de produtividade ou do número de horas de trabalho, constata que aqueles que se sentiam obrigados a trabalhar fora de horas eram 50% mais propensos a dizer que têm demasiadas prioridades do que aqueles que trabalham em horários tradicionais. Entretanto, os colaboradores que trabalharam mais horas relataram uma eficiência diurna semelhante à daqueles que trabalharam num horário normal, sugerindo que os gestores não estão a fazer o suficiente para priorizar o trabalho e evitar uma sensação de overload, diz Christina Janzer.
Para muitas organizações, os dados mais recentes mostram que «há uma verdadeira oportunidade para os gestores desempenharem um papel maios relevante apoiando os colaboradores a priorizar e aproveitar o tempo que passam no trabalho».
A pesquisa também concluiu que os trabalhadores administrativos relataram uma faixa de quatro horas por dia como o período ideal para um trabalho focado, e que mais de duas horas de reuniões é o momento em que se sentem sobrecarregados. Enquanto isso, metade dos trabalhadores administrativos entrevistados disseram que raramente ou nunca fazem pausas durante o dia de trabalho.
As conclusões do inquérito sobre longas horas de trabalho e produtividade não é novidade. A investigação académica há muito que mostra que, a partir de um certo ponto, as horas extra podem levar a quedas de produtividade.
Um estudo de 2014 descobriu que a produção dos profissionais cai drasticamente após uma semana de trabalho de 50 horas. Já um estudo de consultores da Universidade de Boston revelou que os gestores não conseguiam distinguir entre aqueles que realmente trabalhavam 80 horas por semana e aqueles que fingiam fazê-lo. Também uma investigação da Organização Mundial de Saúde (OMS) concluiu que trabalhar 55 ou mais horas por semana está associado a um risco estimado de acidente vascular cerebral 35% superior e a um risco 17% superior de morte por doença cardíaca.
No entanto, numa altura em que modelos de trabalho híbridos e novas tecnologias permitem que as pessoas repensem os padrões e práticas de trabalho, é um lembrete de que existem alternativas a simplesmente forçar mais horas para tirar maior proveito das pessoas.
«A produtividade não é linear», diz Janzer, observando que 75% dos entrevistados afirmaram experimentar uma queda na produtividade à tarde, entre as 15h e as 18h. «Existem oportunidades para realmente pensar sobre como as pessoas estão a gastar o seu tempo e a estruturar o seu dia.»
A pesquisa do Slack também descobriu que aqueles que relataram maior produtividade eram mais propensos a dizer que usavam estratégias de gestão de tempo, como reservar tempo para tarefas específicas, verificar e-mails apenas em horários específicos e definir limites de tempo para manter o foco.
O próprio Slack está a testar algumas ferramentas de produtividade: recentemente, a equipa de Christina Janzer experimentou uma “semana de speedy meetings”, onde reduziu a duração de todas as reuniões para metade – todos os intervalos de 30 minutos foram agendados para 15, por exemplo – para ver quanto tempo era realmente necessário. Duas vezes por trimestre, também organizam semanas nas quais as reuniões são temporariamente retiradas do calendário para repensar quais funcionam e quais não funcionam.