Sharing my Change: Soft skills, Strong changes

O paradigma do mundo do trabalho está a mudar. E, para manter as pessoas em linha com as exigências actuais e preparadas para os desafios do futuro, as soft skills assumem cada vez maior importância. E foram elas o foco da quinta edição do “Sharing My Change”.

 

Por Margarida Lopes

 

«Soft Skills, Strong Changes» foi o tema do evento anual de 2019 da consultora em Gestão da Mudança – que comemorou 14 anos de existência –, cuja tónica esteve, como sempre, na partilha de experiências de transformação por parte de gestores, destacando-se, desta vez, as histórias em que as soft skills foram ingrediente fundamental.

Na intervenção de abertura, Maria João Martins e Teresa Fialho, fundadoras e executive partners da My Change, fizeram notar que, ainda que sempre tenham sido fundamentais, hoje, com a crescente digitalização e automação, as soft skills são um requisito transformacional ainda mais importante.

Para dar conta disso mesmo, o primeiro convidado, António Martins da Costa, administrador do Grupo EDP, falou dos desafios que as pessoas enfrentam no seu dia-a-dia de trabalho e as diferentes competências que são necessárias, com importância crescente para as soft skills. «O mundo do trabalho está volátil, incerto, complexo e ambíguo, e para fazer face a esta realidade há outro VUCA que assume importância: vison [visão], understanding [compreensão], clarity [clareza] e adaptability [adaptabilidade]», sublinhou, lembrando a cada vez maior relevância da gestão em ambientes multiculturais.

O responsável relembrou ainda as competências que são consideradas fundamentais para o século XXI – pensamento crítico, comunicação, colaboração e criatividade –, alertando que são temas que não se ensinam nas escolas.

«Há um sistema passivo em que se recebe informação, que não é contestada.» António Martins da Costa falou ainda de ambientes de baixo contexto (tarefa, explícito) e de alto contexto (relacionamento, subentendido) e de diversos tipos de colaboradores que se encontram nas empresas e que é preciso gerir: “mercenários” (motivados mas não fidelizados), apóstolos (motivados e fidelizados), terroristas (nem motivados nem fidelizados) e reféns (desmotivados
mas fidelizados). «O ideal é termos apóstolos, mas temos que estar preparados para gerir e lidar com os outros.»

O factor-chave nas equipas de alto desempenho
No painel “Projectar e construir equipas de alto desempenho”, que contou com a participação de António Carlos Rodrigues, CEO (chief executive officer) do grupo Casais; Paulo Correa, CEO da Keeptalent Brasil; Eduardo Netto de Almeida, CEO da Lantia, e Rodrigo Sampayo, administrador da Openbook, tendo a moderação de Susana Catrogra Gomes, directora de Recursos Humanos da Abanca, destacaram-se três ideias principais: a importância da confiança, comunicação e ambiente de trabalho.

Eduardo Netto de Almeida começou por revelar que não só procura pessoas de confiança para a sua equipa, como pessoas que tenham confiança, no projecto, equipa, liderança e em si próprios.

Defendendo que só se pode ter confiança no projecto se se souber quais os objectivos, o caminho para lá chegar e quais os percursos à disposição, reiterou que «só se pode ter confiança na equipa se se puder confiar na capacidade e fidelidade de quem a compõe. Uma boa equipa aumenta a autoconfiança», assegurou.

No mesmo sentido, Paulo Correa afirmou: «Estamos a viver um momento importante como sociedade, que é a transformação digital. O mundo está a mudar rapidamente e é essencial a colaboração. E as pessoas só conseguem colaborar se estiverem inseridos num ambiente de confiança e se tiverem um propósito comum.»

Ainda com igual foco, Rodrigo Sampayo salientou que «a confiança que a equipa tem na chefia é essencial para o processo de mudança pela qual as empresas estão a passar com a transformação digital». E chamou ainda a atenção para a importância do ambiente de trabalho.

«Na Openbook, quando um arquitecto faz o projecto pensa no impacto que isso vai ter para os colaboradores. Não é só a estética que conta, o ambiente de trabalho é fundamental.»

Para António Carlos Rodrigues, «o líder é aquele que consegue fazer o efeito girassol. Quando o terreno é plano é fácil, quando tem montanhas pelo meio tem de construir infraestruturas. E para uma liderança eficaz é muito importante a comunicação», defendeu, fazendo notar que, «quando estamos em crise, a comunicação tem um papel ainda mais importante». E partilhou que foi a aposta que o grupo Casais fez, em 2010 e 2011, quando passaram por uma situação de crise, e que ajudou a que 2012 acabasse por ser um ano de grande crescimento.

Eduardo Netto de Almeida acrescentou que a confiança também é essencial para ultrapassar as crises. «Quando há confiança numa equipa tudo tem solução. Quando não há confiança tudo é um problema. A transparência, colaboração e cooperação também são essenciais para ultrapassar um momento de crise», completou.

As soft skills na transformação estratégica
No segundo painel, o tema proposto foi as «Soft skills na transformação estratégica». Com moderação de Rita Resendes, head of People Development da Fidelidade, contou com os testemunhos de José Redondo, administrador da Bial; Sérgio Luciano, CEO da Quilaban; Ana Carvalho, administradora da COSEC– Companhia de Seguro de Créditos e Dora Moita, administradora da Imprensa Nacional – Casa da Moeda.

Dora Moita não tem dúvidas de que a mudança por que a Imprensa Nacional – Casa da Moeda tem passado só tem sido possível porque se conseguiu criar um sentimento de orgulho, de sonho e de propósito nos colaboradores. «Muitas vezes, quando é necessário fazer uma mudança, comunica-se nas mais diversas plataformas, mas isso não chega. É necessário que as pessoas entendam o propósito da mudança, porque isso torna-a mais fácil.»

Também Sérgio Luciano enfatizou a importância do propósito, partilhando que, para a Quilaban, o sucesso tem passado por três factores: a gestão da mudança, a gestão de líderes e, precisamente, o propósito. «Foi importante conseguir criar o sentimento de que a mudança representava uma garantia, levando as pessoas a reconhecer o processo de mudança como algo bom.» E as pessoas são colocadas «sempre no centro», garantiu.

José Redondo, por outro lado, começou por referir que apenas 1% das empresas atinge os 100 anos e não escondeu que o foco da Bial é o doente, sendo essencial apostar na diferenciação através da investigação. Não esqueceu no entanto os desafios da farmacêutica no que respeita à Gestão de Pessoas: estar presente em diversos países, com diversas culturas e adaptar-se a essas diferentes culturas. «É importante que as pessoas acreditem nos valores e no propósito das empresas», frisou, reconhecendo a importância das soft skills para as pessoas evoluírem.

Já Ana Carvalho destacou a mudança por que o sector dos seguros tem passado e a importância da transformação digital e da confiança nesse processo. «O sector dos seguros está sistematicamente em transformação. Na Cosec, a centricidade do cliente foi essencial.»

O evento encerrou com a palestra de Fred Canto e Castro, fundador e chairman da agência de publicidade Sonder, que propôs uma reflexão sobre o propósito, levando os participantes a um momento de introspecção.

 

Este artigo foi publicado na edição de Novembro da Human Resources.

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