Stress na Empresa e Peek Performance

Por Isabel Moisés, directora executiva de Recursos Humanos do Grupo Secil

Portugal ocupa o primeiro lugar de um ranking que avaliou o risco de burnout num estudo (*) realizado nos 26 países da União Europeia e, desde 2019, o burnout  ganhou destaque pela OMS ao ser incluído na sua classificação internacional de doenças,  como um fenómeno ocupacional – o que significa que as suas causas devem ser investigadas no ambiente laboral e não na condição médica individual.

Então, antes do efeito  Covid, que pode ter agravado e colocado alguns holofotes adicionais neste tema, já o tema era tema para as empresas que têm missões orientadas para a sustentabilidade do ecossistema onde operam.

Entre o efeito positivo do incentivo, desenvolvimento e reconhecimento  de “equipas de alto desempenho”  e, os efeitos negativos do excesso de pressão que originam stress organizacional, e podem culminar em Burnout, pode estar somente uma “virgula”. Mas não é uma virgula qualquer. É uma virgula que afeta gravemente os indivíduos e prejudica  a sustentabilidade e reputação de uma organização, os seus negócios e resultados.

Para entendermos o poder dessa “virgula” devemos considerar os impactos negativos do stress organizacional na produtividade, nos erros e/ou não conformidades, absenteísmo, acidentes de trabalho, conflitos nas equipas, atitudes autoritárias, clima organizacional, turnover, dificuldade de atrair e reter talento, entre outros.

E quando focamos nos efeitos no indivíduo só temos razões para nos alarmarmos mais, não só porque a pessoa é o elemento mais frágil da organização, mas também porque os efeitos podem manifestar-se em quatro dimensões do ser humano – na mente, no corpo, nas emoções e nos comportamentos. Para dar alguns exemplos: ao nível da mente – raciocínio confuso, negatividade, indecisão; ao nível do corpo – dores de cabeça, fadiga, falta de ar; ao nível das emoções – perda de confiança, alienação, medo; ao nível dos comportamentos – propensão a acidentes, inquietude, abuso de substâncias.

Quando falo da “vírgula” que separa o círculo virtuoso de busca constante pelo desempenho máximo, do círculo vicioso da fadiga e burnout organizacionais, falo simbolicamente do ponto central da curva de stress de Yerkes-Dodson. A lei de Yerkes-Dodson é uma relação empírica entre pressão e desempenho, originalmente desenvolvida pelos psicólogos Robert M. Yerkes e John Dillingham Dodson em 1908, que determina que o desempenho aumenta com a “excitação mental”, mas apenas até certo ponto.

Quando os níveis de excitação se tornam muito altos, o desempenho diminui. Mesmo não tendo sido confirmada como lei cientifica, este conceito psicológico é de fácil compreensão quando se pensa em algumas situações práticas da vida, como seja a ansiedade sentida antes de um teste, ou prova.

Um nível ideal de stress pode ajudar na concentração e foco adequados na prova para se lembrar das informações necessárias. No entanto, muita ansiedade nos testes, pode afetar a capacidade de concentração e produzir o efeito de “bloqueio”, com dificuldade de raciocínio e esquecimento da informação relevante e precisa.

Outro exemplo comum de como funciona a lei de Yerkes-Dodson é o desempenho desportivo. Quando um atleta está a preparar-se para fazer um movimento importante, um nível específico e ideal de excitação (com efeito de adrenalina) pode permitir que realize o movimento de forma precisa e com resultado excelente. No entanto, se o atleta está muito stressado, pode movimentar-se de forma mais aleatória ou enérgica, com menos precisão e menos memória física da rotina e treino habituais e, com isso, ter um pior desempenho.

Voltando à perspectiva das empresas e ao stress organizacional, que será onde temos responsabilidade acrescida para entender, equacionar, prevenir e mitigar os danos nocivos do fenómeno, o dilema que nas empresas teremos de conseguir entender e resolver é qual o ponto ótimo, ou  a tal “virgula”, a partir da qual a orientação e estímulo para atingir sempre melhores resultados, sermos mais competitivos, mais eficientes e mais rápidos,  se transforma em pressão que gera exaustão, ansiedade e frustração.

(*)https://lidermagazine.sapo.pt/saude-mental-no-trabalho-estara-portugal-a-beira-de-um-burnout/

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