Tal Ban-Shahar: «A felicidade é contagiosa e deve ser promovida na organização». Saiba como

Tal Ben-Shahar foi o orador convidado pela AESE Business School para a primeira conferência do ciclo que vai comemorar os 40 anos da instituição e que vai decorrer, mensalmente, até ao próximo mês de Julho. Conheça aqui o essencial da apresentação do best-seller especialista em psicologia positiva, que muitos consideram um guru da felicidade.

Por Sandra M. Pinto

 

Com base no “The Science of Hapiness Leadership Strategies for Success in Difficult Times”, o professor de Harvard começou por lançar o tema da anti-fragilidade, «todos conhecem o termo resiliência, mas precisamos agora de passar a um novo patamar no qual nos tornamos pessoas e lideres melhores e mais fortes». É preciso criar “músculo” para ter elasticidade e para se conseguir uma melhor adaptação à realidade, «é aqui que entra o post traumatic growth ou crescimento pós traumático», revela Tal Ben-Shahar, para quem este é mais importante do que a resiliência pois «traz com ele ensinamentos que nos vão ajudar a crescer».

A questão do stress pandémico

Tal Ben-Shahar e a sua equipa de investigadores descobriram que o stress não é problema das sociedades actuais.  «O stress até pode ser bom para nós», considera o investigador. «Agora, os problemas começam quando deixa de haver tempo para recuperar do stress».

É preciso recuperar das situações de stress. «A importância do problema não reside no stress em si, mas na necessidade de introdução de momentos de recuperação do stress, pois só assim podemos ficar mais fortes», defende Tal Ben-Shahar, para quem é possível crescer com as dificuldades e o stress, «desde que tenhamos tempo de recuperação».

De acordo com o professor, a recuperação surge em três níveis:

  • Micro, como as pausas de 15 ou 20 minutos para comer (sem ser em frente ao computador), para tomar um café ou dar um pequeno passeio, ou o exercício físico de 30 minutos três vezes por semana, «as pequenas mudanças para fazerem grandes diferenças têm de ser consistentes», defende Tal Ben-Shahar.
  • Médio, aqui entra uma boa noite de sono, os dias de folga, «ambas as realidades de extrema importância para a produtividade».
  • Macro, com as férias «é essencial tirar férias para ficarmos mais produtivos e criativos». O professor chama a atenção para a conotação negativa quando se pretende tirar férias, «parece que somos preguiçosos, mas a realidade é que não é nada disso, é preciso abrandar pois de outra forma ficamos sem energia ou caminhamos mesmo para o burnout» refere, «mais uma vez percebemos que o problema aqui não é o stress mas o facto de não se tirar tempo para recuperar dele».

As relações

Um dos aspectos mais importantes para a felicidade das pessoas são as suas relações. «As relações são um prenuncio da felicidade, e aqui não há distinção das relações, podem ser de amizade, familiares ou amorosas, o que interessa é que sejam relações fortes e que nos suportam», chama a atenção Tal Ben-Shahar. As relações são também um prenuncio de saúde e de anti fragilidade, «elas ajudam a fortalecer e a superar as dificuldades pois como diz Bacon, “a amizade dobra  alegria”».

Perante a realidade actual interessa distinguir entre as relações profundas e as superficiais. «Existe uma enorme diferença entre ter uma conversa profunda com alguém ou simplesmente enviar uma série de emojis», refere o consultor numa clara alusão aos tempos actuais de amizades e relacionamentos virtuais. Tal Ben-Shahar reforça que é preciso cultivar relações mais profundas, «é preciso mante-las, é necessário dar tempo, ouvir e falar», acrescentando que é «preciso passar tempo uns com os outros nem que seja através da tecnologia, como nos tempos actuais»:

  • Dar – Tal Ben-Shahar refere que «se dermos, os nossos níveis de felicidade aumentam, pois dar é receber, ao darmos rebemos em dobro». Esse dar não é preciso ser um bem material, como refere Tal, «podemos dar generosidade e bondade através de pequeno actos, com a certeza de muito eles vão contribuir tanto para quem dá como para quem recebe».
  • Ouvir – esta é um forma de dar extremamente importante para os lideres. «Em tempos difíceis o que distingue um grande líder é a sua capacidade de ouvir», refere Tal Ben-Shahar, «os gestores, os lideres que sabem ouvir os colaboradores conseguem gerir de forma eficiente as organizações em tempos mais difíceis». Mais do que nunca Tal defende que hoje «precisamos de ouvir ao mesmo tempo que precisamos que nos oiçam, assim, desta forma, ambas as partes crescem e se fortalecem tanto quem ouve como quem é ouvido».

 

A forma como interagimos influencia o nosso sucesso

No livro “Dar e Receber” de Adam Grant, antigo aluno de  Tal Ben-Shahar, é realizada uma abordagem revolucionária sobre o sucesso, a generosidade e a influência. O autor refere que nas interações profissionais e sociais, podemos actuar como tomadores, compensadores ou doadores:

  • Tomadores – esforçam-se para extrair o máximo possível dos outros
  • Compensadores – empenham-se em promover trocas equilibradas
  • Doadores – tipo raro de pessoa que ajuda os outros sem esperar nada em troca

A forma como interagimos com os outros irá influenciar decisivamente o nosso êxito pessoal e profissional. A partir dos resultados das suas investigações pioneiras na Wharton School, Adam Grant revela, em “Dar e Receber”, que, ao contrário do que muitos pensam, as pessoas mais bem-sucedidas não são as mais egoístas e implacáveis nem as que agem com base em trocas mútuas.

«As organizações procuram os doadores», refere Tal Ben-Shahar, «aqueles que dão o seu melhor aos outros sem reservas nem exigências». Estas pessoas têm gosto em ajudar, mas ao mesmo tempo não se anulam e não se deixam ficar para trás, «estas pessoas dizem “tenho muito gosto em ajudar assim que terminar a tarefa que estou a fazer”; são pessoas que sabem dizer não, pois sabem que dizendo sim a si próprias tornam o trabalho em algo mais sustentável, não caminhando rumo ao burnout». O consultor refere que «os lideres e os colaboradores têm de saber ajudar os outros, mas também têm de se ajudar a si próprios, e isto tanto a nível profissional como a nível pessoal». Adam Grant explica no livro «que os doadores bem-sucedidos fazem de diferente em cinco áreas-chave — networking, colaboração, influência, negociação e liderança —, e o que os tomadores e os compensadores podem aprender com os métodos deles».

«Quando damos aos outros é importante também darmos a nós próprios», reforça Tal Ben-Shahar, «pois a felicidade é contagiosa e deve ser promovida na organização».

 

 

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